segunda-feira, 26 de março de 2018

Gramsci, Shelley e o filho de Goethe no Cimitero Acattolico per gli stranieri...

P. B. 
Caminhando da estação Pirâmide, do metro, se chega em uns 15 minutos na entrada principal do Cimitero Acattolico di Roma, reservado aos estrangeiros e onde está enterrado Gramsci, o filho de Goethe, o poeta Keats e também o poeta Shelley, Von Humboldt, Garibaldi e uma trupe imensa de personagens considerados "não católicos", quase todos famosos que vieram consciente ou inconscientemente morrer em Roma: Vedere a Roma e dopo morrire!!! Diziam os imigrantes, mesmo os que não tiveram tempo...

Curiosamente, em todos os cemitérios europeus sempre há corvos, aqueles corvos  personagens do Edgar Allan Poe. E sempre piando, não sei se para  manter os mortos mortos ou se para prevenir os vivos. Foi praticamente um deles que me conduziu até a tumba de Gramsci. Quase junto ao paredão final da parte nova, sempre cultuado por velhos e jovens comunistas... O único gato que encontrei estava hibernando ao sol junto às tumbas de uma tal Principessa Anna Matchabelli (1803-1943), e de uma tal Danita Vuksan (1894-1939). Olhou-me com desprezo e desinteresadamente e voltou a dormir...
Uns dez 'necrófilos' circulavam pelas veredas entre as tumbas, praticamente todos com vestígios de insonia, uns visivelmente deprimidos, outros até chorando, outros naquela marcha característica de quem já, há muito tempo, perdeu o 'bonde da sanidade'... Seriam os beneficiados por Basaglia? O mais interessante aconteceu diante da lápide de Shelley: o poeta Shelley! Conhece? Uma moça elegante e com aspecto nada mórbido, falando italiano mas com perfil indefinido movia-se de um lado a outro enquanto recitava um dos mais famosos poemas do morto, chamado ODE AO VENTO DO OESTE. Sentei-me numa tumba próxima de onde ela se movia e fiquei assistindo, até com uma certa emoção aquele ritual pra lá de metafísico e possivelmente psico-patológico. Ela terminou sua apresentação com um filete de lágrimas que lhe escorria dos olhos pelas beiradas do nariz e veio presentear-me com uma cópia do referido poema. Os corvos piavam por todos os lados e por sobre nossas cabeças... o sol se infiltrava por entre os ramos das arvores e os mortos, em seu silêncio sepulcral, cada um no seu quadrado,  pareciam alertar-nos de que não voltariam para as ruas de Roma nem mesmo amarrados...

















































              III

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