Quem desce a Rua Augusta em direção ao Terreiro do Paço vai deparar-se todas as manhãs com uma senhora cega, de uns 70 e tantos anos que mendiga. No meio do vai-e-vem da turistada, dos garçons indianos e de outros personagens bizarros do cotidiano fica engendrando rudimentos de musicas antigas em um teclado de sopro. Ontem, depois de identificar que tocava uma música que conheço e de colocar um punhado de moedas numa espécie de cofre infantil de madeira que ela dispõe, ouvi que, virando aquele rosto sem olhos em minha direção murmurou nesse idioma enigmático dos lusitanos: "moço, só quem já navegou sabe o que é que se sente quando, do convés do navio, já não se vê mais do que a face austera do abismo..."
Sem nenhum sentimentalismo babaca, por pouco não lhe joguei no colo, além de meu passaporte, o que ainda resta de minhas parcas economias para concluir a viagem... E la nave va!, como diria um personagem de Fellini...
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