"Du fond de votre automne, disait Nietzsche à la fin du siècle dernier, je vous prédis un hiver et une pauvreté glacials..."
Citado por Roland Jaccard
Neste sábado em que Brasília está sendo varrida por um vento que parece vir do deserto de Gobi, o mendigo K. estava ali em frente ao Ministério da Justiça, acenando para os carros que passavam com um cartaz que dizia:
Citado por Roland Jaccard
Neste sábado em que Brasília está sendo varrida por um vento que parece vir do deserto de Gobi, o mendigo K. estava ali em frente ao Ministério da Justiça, acenando para os carros que passavam com um cartaz que dizia:
"Mandar recrutas neófitos para dissimular o caos social, a putaria política e os homicídios urbanos na cidade do Rio de Janeiro, é uma irresponsabilidade e um crime". E em letras menores. Se as facções de lá quiserem, serão abatidos como moscas!
Achei curiosa sua percepção do assunto e estacionei para ouvi-lo. Me disse: Esses recrutas nunca atiraram nem numa lata de marmelada! Passam a vida inteira fazendo continências, ajeitando as estrelas nos ombros de seus superiores e passando óleo de peroba na coronha dos rifles... Não sabem nada de guerrilha urbana, não conhecem a cidade, não conhecem os códigos do morro, não leram João do Rio, não conhecem o Manual de guerrilha urbana do Marighela, não decodificam a letra dos sambas... Não levam um patuá amarrado ao pescoço! Não diferenciam farinha de arroz de cocaína! Sem falar do calor. Rio 40 graus! Vão cometer barbaridades ou, como já disse, serão aniquilados... Lembra das Malvinas? Lembra da irresponsabilidade dos generais argentinos na Guerra das Malvinas? Quando enviaram seus soldados calçando tênis para enfrentar as tropas britânicas... em pleno inverno?... Foram aniquilados...
Vivia no México - continuou - quando os argentinos resolveram desafiar a rainha e os caças britânicos. Se foderam! Sabe o que é enviar soldados calçando tênis, em pleno inverno, para uma frente de batalha?... Isso - explicou-me - me indagavam os argentinos que moravam no México, em total desolação.
Tempo em que quase todos os professores da UNAM eram psicanalistas argentinos que haviam se exilado naquele país. O México era um paraíso cultural e político. Além de sua posição geográfica abrigava exilados do mundo inteiro, de todas as confrarias, partidos, causas... Sartre esteve por lá, também Elias Canetti... Marie Langer! Artaud havia passado uma época vivendo e comendo peyot entre os Tarahuaras... Todos os teóricos da anti-psiquiatria deambulavam por lá, (Cooper e Laing), todos os da psicanálise, todos os do marxismo, todos os da antropologia, todos os do anarquismo, da literatura...Lia-se Freud e o Mal estar na cultura nos gramados do Campus..! Ivan Ilich e os bispos delirantes de Cuernavaca com suas falsas promessas de ressurreição! Isla Mujeres! As praias do Pacifico! Houve até um Congresso planetário dos partidos de esquerda onde estavam presentes os curdos e os representantes de Arafat e também o dos Panteras Negras... Savater! Os campesinos à noite, acampados em frente à reitoria com suas tochas acesas protestando contra o obscurantismo da razão! A vida era uma festa e Maria Sabina ainda estava viva! E, na retaguarda de todos esses intelectuais e onanistas estava sempre o espectro do velho Cioran jurando que um dia, com um único pensamento, poderíamos fazer o universo estalar em pedaços..! As bibliotecas, a Livraria Gandhi, as aulas, as sopas astecas, os tremores de terra e os tiroteios na madrugada. Sem falar dos pimentões recheados e do Mezcal, aquele com uma larva no fundo da garrafa...
Para ouvir a música clicar no canto esquerdo da faixa...
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-entre-ordem-e-malandragem/
ResponderExcluirhttps://oglobo.globo.com/rio/a-gente-esta-comecando-primeira-batalha-diz-chefe-do-estado-maior-21647215
ResponderExcluirÉzio, reitero: um livro de memórias!! Suas ou do mendigo K, não importa!
ResponderExcluirEm breve estará sendo publicado o livro: A extrema-unção de Paganini Ou: o mundo como um playground do inferno. Não necessariamente de memórias, mas quase.
ExcluirOpimo!
Excluir"opimo" sinônimo de "excelente", ou é o corretor ortográfico do celular que ataca novamente?
ExcluirBazzo é sempre um deleite.
ResponderExcluir