Valdemar Poulsen, lá por 1900 - quase ninguém se lembra -, foi o engenheiro dinamarquês que construiu o primeiro gravador do qual se tem notícia. Ainda rudimentar, registrava o som num fio, depois numa fita plástica magnética, depois em não sei o quê e finalmente nestes sistemas digitais que hoje estão embutidos nos telefones celulares através dos quais os políticos, as putas, os ladrões, os traficantes, os espiões, os tiras, os alcaguetes e etc, etc registram clandestinamente confissões, intimidades, paixões, crimes e transgressões para, com elas, chantagear e destruir seus desafetos e seus inimigos...
Nestes últimos meses nada esteve mais em pauta no país do que os gravadores, os "áudios" as "escutas" e os delatores. As cadeias estão cheias, os tribunais estão congestionados de indiciados e até se destituiu uma Presidente com o auxílio desse aparelho. Diferente do alcaguete do passado que por problemas de linguagem, uma dislexia, uma afasia ou uma dislália não conseguia traduzir ipsis litteris o material "escutado", o gravador é de uma eficiência estereofônica assustadora e invejável. Traduz inclusive os problemas respiratórios, o ânimo e a ênfase, os níveis de ansiedade e a pressa das vítimas... Mas e a ética? E o ódio que instintivamente a espécie sempre teve por delatores, traidores e etc? Como é possível que alguém ainda possa valer-se dessa prática abominável para beneficiar-se ou para vingar-se? Qual desgraça é maior: viver num país de ladrões ou de delatores?
E já que se está falando neste assunto, quem é que não se lembra das fabulas de Judas Iscariotes e da de Tiradentes?
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