“Enquanto tiveres um desejo, terás uma razão para viver. A satisfação é a morte.”
Bernard Shaw
Apesar do desprezo que o populacho aparenta ter pelos políticos, pode-se perceber nele (no populacho) uma indissimulável chispa de admiração e até de inveja por esses verdadeiros heróis nacionais que (mesmo sem rivotril) resistem tão bravamente às sessões extraordinárias, às loucuras intermináveis do dia-a-dia e às agressões e maldições constantes das quais são vítimas e que, aliás, já existiam antes mesmo daquilo que se conhece por profissão mais antiga do mundo. Sim, sem ironia, a profissão de político já existia antes mesmo da prostituição e o parlamento precede ao bordel em muito! Vejam os estatutos da civilização maia, os discursos de Confúcio, de Lao-Tsé, o Sermão da Montanha, as crises de Messalina, as desculpas de Judas e a lógica de Caim...
Prestem atenção como muita gente, por ignorância, procura acusá-los, inclusive, de psicopatas. Ora, consultem o DSM-IV-TR (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) e verão que não tem nada a ver. No máximo podem apresentar algum transtorno de personalidade, mas isso, quem é que não tem? São simplesmente pessoas com uma formação admiravelmente consistente na função que exercem. Vejam as biografias de cada um, do mais energúmeno até o mais astuto e poderão perceber que desde longa data, já lá na creche ou no primeiro grau atuavam na liderança do grêmio estudantil como humanistas, organizavam rifas, a dinâmica para jovens cristãos, jogos, greves, denúncias contra professores (ou contra colegas), faziam coletas de dinheiro para prover os mais pobres, organizavam excursões e que o primeiro livro que leram foi Escotismo para rapazes. Daí para o Centro Acadêmico, para o sindicato, para o recrutamento de jovens para a igreja evangélica ou católica, para a administração de uma boca-de-fumo, de um michê, de uma prefeitura, de uma confraria dos meninos fascistas para a Câmara e para o Senado, foi só uma questão crionológica...
A respeito do diagnóstico de psicopatas, nada é mais equivocado. O psicopata, todos sabemos, tem problemas graves de afeto e uma frieza de coração inconfundível, eles não. O psicopata não tem remorso e é antisocial. Eles não. Distribuem abraços, sorrisos, tapinhas nas costas, gorjetas, beijos e promessas de amor com admirável facilidade. E, quando chegam em casa, depois de uma estressante reunião e abrem as mochilas ou as maletas repletas de euros sobre a mesa de jantar, enchem os familiares de alegrias e de orgulho. A esposa, mais do que honesta e os filhos, mais do que promissores, babam sobre aquelas notas ainda com as etiquetas da máfia e cobrem o "paizão", o "maridão" e o abastecedor exemplar de beijos, de gratidão e de promessas de sigilo, de fidelidade e até de sexo nessa madrugada. Costumam, inclusive, fazer orações ao redor daquelas notas, jogar água benta sobre a mala, enfiar um escapulário e até um exemplar da Constituição no meio dos pacotes... E, claro, ninguém dorme naquela noite. Elas, pensando nas boutiques e eles, atormentados pela dúvida se é melhor investir numa academia ou abrir uma offshore no Panamá. Elas, se quando raiar o dia irão procurar o Dr. Pitanguy, a joalheria Hstern ou a boutique da Vuitton. Eles, se investem numa lancha New Runner Flex 520 ou numa Harley Davidson cor prata... Tudo isso no meio de uma enxurrada de afetos, de paixões, de juras de amor, não só intra-familiar, mas pelos vizinhos, pela nação e pela pátria... E depois ainda dizem que somos uma nação carente de ternura e de heróis!!!
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