Entre todas as mentiras, desde as clássicas sobre heróis,
santos, salvadores, deuses, as do gênese, da reencarnação e etc., a que mais me
intrigou, desde sempre, foi a que diz respeito ao "número de participantes" em
manifestações, passeatas, shows, aglomerações e etc., dados que os organizadores
costumam distorcer descaradamente. Essa, me parece, tem sido sempre a mentira mais vulgar, a mais insana e a mais inútil e, pior, por incrível que pareça, não abala
absolutamente nada nem ninguém. A sociedade, gerada e parida sobre um lodaçal
de embustes e acostumada a mentiras transcendentais, digere esse singelo transtorno de caráter sem grandes
dificuldades... Sindicalistas, padres, pastores, líderes de movimentos sociais,
políticos, índios, todos mentem magistralmente convictos de que o que realmente convence
é sempre a multidão, o quantum, o número de pernas e de almas que
estão nas marchas ou nos eventos... Pilantras que estão cansados de saber que são os números que
governam o mundo e que quem define uma eleição não são os eleitores, mas quem
conta os votos...!
Numa passeata de um determinado partido - por
exemplo -, o sujeito que está lá em cima de um caminhão costuma gritar:
- Mais de cinquenta mil pessoas estão
aqui para dizer um Não, um Basta a isto ou àquilo., quando na verdade, até um cego vê que
não há nem cinco mil gatos pingados se arrastando pela avenida. Numa passeata
de evangélicos, querendo competir com a dos gays, uma semana antes, um pastor
lança o embuste: quatro milhões de irmãos estão aqui, em nome de Cristo, para
promover isto ou aquilo, só que na verdade não há nem 250 mil. Na passeata
anterior, aliás, a dos gays a que o pastor se refere, alguém também havia
blefado sobre 200 mil e os transformado em 3 milhões...
- Estamos em trinta mil funcionários
públicos aqui diante do Congresso Nacional! Grita o sindicalista. Só que pelo espaço ocupado no
gramado, uma simples conta de multiplicar, revela que não poderia haver mais de
4 mil.
Seja qual for a proposta e a ideologia que está sendo
defendida, como é possível acreditar nessa gente? Como se fará a história desse
povo? E, o mais grave, a polícia, por ordens superiores, nem sempre
desmente essas chanchadas, da mesma maneira que a mídia, que quase sempre
divulga essas distorções na íntegra ou em parte, dependendo da identificação ou
não com a causa em questão. Como é possível falar em dignidade convivendo com
essa mentirada e com esses tipos de transtornos?
É quase um mistério que
ninguém dê a mínima para a gravidade desse comportamento doentio e que,
inclusive, até se tente justifica-lo como sendo uma necessidade infantil e primária
da espécie...
...São coisas, realmente, tão imbecis como as "declarações " de um advogado qualquer em defesa de seu "cliente" ou de um clérigo falando da "virgem"... que, de tão cínicas já passam despercebidas até mesmo para os que neles creem.
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