sábado, 16 de fevereiro de 2013

Malandros, costumamos turvar as água para dar impressão de profundidade...

Há quase meio século, num daqueles finais de tarde estupendos da Cidade do México, ao ouvir o professor S. Ramirez levantar a hipótese de que um dia... no futuro... no porvir... talvez... todas as artimanhas e a canseira da psicanálise pudessem vir a ser substituídas por uma simples pílula, fiquei mais do que indignado. Achei aquilo uma heresia cartesiana, uma afronta ao velho Freud e a todas as trupes dos Institutos Internacionais, uma ingenuidade diante da complexidade e do subjetivismo a que estava exposto o SER humano, bem como uma dessacralização de todos os idealismos, do mais revolucionário ao mais doméstico, da idéia de irmandade universal, da afetuosidade, enfim, de todo um projeto de mundo e de vida romantizados.
Hoje, começo a ter dúvidas sobre nossa famosa "complexidade", sobre nossa mística "profundidade" e até mesmo sobre nossa tão badalada "subjetividade". 
Olhe ao seu redor, revise seu dia-a-dia e sua história.... Transite sinceramente por seus supostos sentimentos... Talvez sejamos bem mais rasos, simples e elementares do que gostamos de pensar... uma pobre máquina, um invólucro mais do que previsível e movido basicamente a fluídos e a hormônios. A hipófise, a tireoide, as paratireoides, o pâncreas, o córtex das suprarenais, os testículos, os ovários etc... Aí estariam as usinas e os geradores de tudo, daquilo que pensamos, daquilo que sentimos, daquilo que tememos e até daquilo que desejamos? Desses combustíveis ainda tão pouco conhecidos é que nos viria desde a cólera, a chatice, a vaidade e a infelicidade, até as bravatas da paixão, da simpatia, da paciência, do bom humor e da felicidade? Quê pobreza e quê decepção! E digo isto pensando, principalmente, na mudança comportamental e afetiva de meu cachorro depois de passar a ingerir uma minúscula cápsula diária de um dos tantos hormônios mencionados. Passou a ser outro. A inércia foi substituída por uma disposição quase de lobo, o latido, de frágil e sem convicção, agora faz tremer os lustres, as cadelinhas que ignorava, agora quer cavalgá-las a qualquer preço... Anda rápido, desce as escadas em disparada, está mais atento ao mundo e cheira erva por erva como se cada uma delas pudesse vir a revelar-lhe um mistério ou se, através de suas narinas, pudesse decodificar ali algo até então nem sequer imaginado...

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