Existe uma loja que vende roupas e bugingangas baratas aqui no principio da Oxford Street que ocupa quase um quarteirão inteiro (uma espécie de anti Harrod’s) que é um laboratório perfeito para quem quiser tentar entender o cérebro feminino e sua relação com a roupa. Se você está querendo se transformar num expert no gênero, antes mesmo de passar lá na livraria Silver Moon (especializada em mulheres e em escritoras feministas) deve passar por aqui. Lotada desde que abre até a hora que fecha é um espetáculo por um lado lamentável e por outro antropologicamente fascinante. Milhares de mulheres de todas as nacionalidades, tipos, classes e pedrigrees, de todos os pesos, personalidades, cores, cheiros, tamanhos, linguas, religiões e culturas se esfregando no meio de cabides, de pilhas de calças, blusas, meias, anaguas, etc, etc, etc, numa agonia e numa pressa como se a terra fosse acabar. Umas levam amontoados de peças nos ombros, outras experimentam ali mesmo a que lhe parece a única do reino unido. Outras enchem e esvaziam os sacos que a loja oferece. Passam horas escolhendo e depois mudam de idéia, trocam tudo, ligam para alguém para saber se o número é X ou Y. Sentam no chão em duas ou três para mostrar, umas as outras as maravilhas compradas. Se atropelam, é verdade, mas sem estresse, se entendem, se toleram como se soubessem que estão numa histeria coletiva. Umas delicadas, outras brutas, esquecem até que são mulheres e ficam em posições estranhas nunca antes permitidas. Um traseiro imenso de uma mulher árabe a disposição, mas sem o minimo de malícia posta no caminho contrastando com a bunda esquelética de uma irlandesa. As tetas felinianas de uma portuguesa e as sutis de uma sem nacionalidade no meio das mesmas pencas de retalhos e de bermudões coloridos na maior ingenuidade. Umas visivelmente desvairadas, outras sob controle, outras com um prognóstico nada bom... Experimentam óculos, chapéus e peças íntimas ao mesmo tempo. Resmungam alto, (principalmente no balcão de troca) falam sózinhas, riem enquanto apalpam os tecidos, cada uma expressa alguma coisa em seu idioma, os olhinhos perdidos num fascínio incompreensível e inacreditável. Olho para a escada rolante e lá vem mais um batalhão de recém chegadas, novatas, ansiosas, o bolsão da loja ainda vazio. Mas minha senhora – tenho vontade de intervir – isso custa apenas 4 libras, a fábrica faz dois ou três milhões delas por dia, na mesma cor, nos mesmos tamanhos e – segundo eles - de puro cotton! A senhora pode ir com calma ou até voltar amanhã, que a pilha estará ainda maior e a senhora poderá comprar cinco peças para cada mulher da família... E depois, se não vai mudar nada, absolutamente nada na sua vida, se não vai fazê-la mais feliz comprando ou não, por que é que a senhora está tão ansiosa e tão alucinada??? Acredito que num passado remoto, mas muito remoto mesmo, as vestimentas livraram as mulheres de problemas e de incomodos tão abrumadores (relacionados à carne evidentemente) que até hoje elas continuam tomadas por essa espécie de enlouquecimento e de possessão... Não há outra explicação plausível. À velha indagação de Freud e de seus seguidores: o que quer uma mulher?, eu respondo: roupas...
Não seriam roupas, exatamente, seiam um pêlo novo, uma pele macia, uma textura mais suave, um cheiro forte e ameno, ao mesmo tempo, uma cor nascida a cada dia para que um macho de verdade pudesse lhe tocar a carne com amor, paixão e desejo... o que quer uma mulher? Ora, muito simples, não acha? Freud e muitos homens continuam ultrapassados mesmo sendo evoluídos. Roupas é o que as mulheres usam cada vez menos.
ResponderExcluirIsto é segredo e segredo de cada uma. Para quê tantas roupas, meu Deus? Diria Drummond. Talvez usem tantas roupas, sapatos, bolsas, bijoux, joias, perfumes para atrairem um belo macho de sua espécie, como acontece no reino animal. Talvez seja apenas um artifício para esconderem algumas feiurinhas. Talvez seja um hábito adquirido e milenarmente cultivado e elas nem saibam mais porque. Não faz pergunta difícil, não!!!
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