sexta-feira, 23 de julho de 2010

Odiar-nos a nós mesmos como odiamos a nosso próximo...

Acabo de receber mais um convite para filiar-me a um partido, em anexo, veio o nome de dois candidatos, as metas e a tal plataforma de campanha. A primeira pergunta que me veio em mente foi: Quê porra é essa de Plataforma de Campanha? Depois, com calma, fui ver as promessas político/sociais desse partido, de seus respectivos candidatos e de mais meia dúzia que estão no páreo. Nada, absolutamente nada transcendente, tudo rasteiro, tudo relacionado ao estômago e as neuroses do rebanho. Desde que nasci os ouço divagar sobre o mesmo mar morto, isto é, sobre a mesma trilogia: educação/saúde/trabalho. Entretanto, a educação continua uma miséria, a saúde continua uma miséria e meia e o trabalho segue sendo uma semi-escravidão. Penso que talvez eu até me dispusesse a votar num sujeito que tivesse como objetivo único e absoluto, o controle da natalidade. Há muita gente na cidade, no continente e no mundo. E pior, gente estranha, bizarra, que nunca vi, que se olha atravessado e que se esquarteja por qualquer ambigüidade ou por qualquer rixa e que quer, antes de tudo, foder-se mutuamente. Os presídios, os bordéis e as igrejas já funcionam a quatro turnos. Os ônibus vão entulhados, os aviões passam por cima de minha casa com gente dependurada nas asas, as filas dos mercados chegam às calçadas, centenas de pessoas esperam semanas e meses nas filas dos ambulatórios, há milhares apodrecendo nas ruas, há que se copular e os motéis funcionam com lotação máxima 24 horas por dia e as maternidades, mesmo com a “cesariana” popularizada não dão conta de tantos descendentes... Na confeitaria da esquina faltam mesas e os viciados em açúcar se aglomeram como moscas, os esgotos entopem, falta água e a pressa vai agindo malignamente sobre os nervos do formigueiro. Somos uns duzentos milhões só do lado de cá das fronteiras, se um dia voltarmos a ser uns trinta, quem sabe, poderemos até idealizar novamente alguma forma, mesmo que esdrúxula, de felicidade... 

Ezio Flavio Bazzo

3 comentários:

  1. É um prazer muito especial ler uma crônica como esta! Bravo, bravíssimo, caro Bazzo!

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  2. Já notou como aqui é "proibido" tocar no assunto do planejamento familiar sem ser tachado de nazista ou qualquer outra coisa?
    Essa demagogia daqui é a causa do nosso atraso, pois em países mil vezes melhores do que nós, isso é discutido e mais, o crescimento lá é zero ou decresce, sem nenhum prejuizo para ninguém.

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