Achei oportuno o dia dos mortos ter sido escolhido para o início do III Congresso de filosofia e religião aqui na Unb, aberto com a conferência do prof. Pondé, sobre a morte. Quem ainda tem estômago para ouvir essas “charlas” intermináveis dos doutores, terá oportunidade até quinta-feira de relembrar Hegel, Santo Agostinho, Kant, Pascal, Rosenzweig, Levinas (o conferencista pronunciava Levinás), Heidegger, Jaspers, “o saber religioso em Wittgenstein” e a outros charlatães menores. A palestra que me pareceu a mais curiosa de todas será a que vai acontecer no Anfiteatro 1, com o título: “Nietzsche, Tolstói, Dostoiévski e o idiotismo de Jesus”. Outra que também promete ser transcendente (ou pelo menos cômica) será a da sala de Conferência 2: “Os diálogos sobre a religião nos Parerga e Paralipomena de Arthur Schopenhauer. Enquanto os filósofos se reuniam cheios de si e vaidosos no auditório, os cemitérios da cidade iam fechando as portas sob uma violenta chuvarada, depois de um dia movimentadissimo. Nesse dia (desde o século XIII) todo mundo tem uma necessidade estranha de ir levar um vaso de arroz ou um bouquet de flores para seus mortos, como se isso lhes interessasse para alguma coisa. Muitos curiosos (necrófilos ou não) também gostam de ir para lá onde, numa espécie de ensaio para o porvir, visitam uma ou outra tumba com uma encenação especial. Aqui no cemitério de Brasília a tumba mais concorrida continua sendo a da Ana Lidia, menina de sete anos que em 1973, em plena ditadura do Médici, foi cruelmente assassinada. Dizem que já está fazendo milagres e que começa a ser mencionada como a Santa pagã de Brasília. Hoje, pela manhã, muita gente já estava lá, acendiam velas, depositavam flores, cochichavam, rezavam alguma coisa, discutiam o crime (que até hoje não foi esclarecido) e ventilavam suas tolas hipóteses. Sobre sua lápide havia uma caixa com bonecas, brinquedos de plástico e outras porcarias deprimentes. Uma senhora mais ou menos alterada lembrava a outra, identica a ela, que no dia 13 de setembro de 1973 (um dia após o crime) havia sido a queda de Allende; que aquele foi o ano da Crise do Petróleo; que Elvis Presley fez o show “Aloha from Hawai” , que foi erradicada a variola no Brasil, criado o MOBRAL etc.
Ezio Flavio Bazzo
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