segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A poeira da cocaína, o pedregulho do crack e as sementes de arruda I


Até ontem aqui no DF não se falava em outra coisa além dos cheiradores de cocaína e dos queimadores de crack. Hoje, o affair relacionado à trupe do Governador (inclusive o próprio) que foi filmada fechando negócios mafiosos e empacotando fardos de dinheiro roubado, tomou a cena. Ainda antes da roubalheira do mensalão ter sido sepultada, eis que os gatunos de turno já tramavam outra, nos mesmos moldes e com o mesmo descaramento. Os mais inexperientes apostam no suicídio dos envolvidos, entretanto, quem já conhece mais a fundo a dialética dessas hienas, sabe que amanhã elas aparecerão com seus bandidos advogados na janela de algum palácio falando em "mal entendidos", pedindo perdão, falando em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e jurando que se regenerarão. Só que a história de reincidência de praticamente todos nossos políticos é um exemplo de que a possibilidade de regeneração de criminosos é mínima. Por isso, acho uma boa idéia, como vem sendo cogitada nas ruas, a de instituir o suicídio para corruptos e seus familiares (não confundir com pena de morte). Ali na Praça dos Três Poderes, ou lá na Praça do Buriti, com a manada que os elegeu urrando e bufando, os "réus" depois de cantarolarem a Aquarela do Brasil, poderiam democraticamente escolher entre: meterem-se uma bala nos cornos, pendurarem-se numa corda, ou mastigarem meia cápsula de cianureto. Sei que a hipótese disso vir a ser institucionalizado é praticamente zero, pois a falta de tesão pela vida e a indecência estão tão generalizadas por aqui, que não se encontraria com facilidade alguém "não subornável" para gerenciar essa área. Eça de Queiroz, em sua época, já lembrava que políticos e fraldas devem ser mudados com freqüência e pelos mesmos motivos. Fazendo um comentário sobre esse "otimismo" lusitano de Eça, um professor de filosofia me dizia ontem à tarde, la na Feira do Livro que, no nosso caso, o drama é bem maior, uma vez que aqui a única alternativa que a gente têm é trocar merda por merda.

NB: Enquanto os próximos capítulos e episódios dessa canalhice estão sendo montados, enquanto jóias, moedas, recibos, números de contas, escrituras de fazendas e de prédios no Noroeste, documentos e pistas estão sendo ocultadas, os eleitores e os "cidadãos" podem ir babacamente ouvindo Admirável gado novo, no endereço abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=gQ2sQk9q-30&feature=related


Ezio Flavio Bazzo

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A confraria e a máfia do TRADUTOR JURAMENTADO

Quando você pensa que já conhece todos os tipos de safadezas e de gatunagens oficializadas, pronto aparece outra a que você tem que se submeter compulsoriamente como um idiota. A última, que me surrupiou quatrocentos e tantos dólares foi a do Tradutor Juramentado. Já ouviu falar nesse personagem, cuja tabela de preços (a confraria diz tabela de emolumentos) é mais abstrata e mais subjetiva que o Mistério da Santíssima Trindade? Pois bem, ele existe. Não são muitos, mas moram todos em palacetes por aí, e na mão deles um diploma e um histórico escolar se transformam facilmente em onze laudas. Se você perguntar por que a letra precisa ser daquele tamanho e por que tantos espaços entre uma linha e outra, te responderão arrogantemente, e no idioma que você quiser, que são “regras” preestabelecidas pela Junta Comercial, que passaram num concurso público e que não estão lá para trabalharem de graça para ninguém. Ok? Oh. Mas e no rabo, não vai nada? Eu, que não tenho nostalgia nenhuma pela época em que o Manifesto de Marx e Engels era lido e relido nos botecos, sempre que me deparo com um novo tipo de máfia engendrada por esse sistema putrefato, volto ao livretinho de capa vermelha, numa espécie de consolo. E quando ele já não serve mais para aplacar minha fúria, (uma vez que os proletários se mostraram piores que as putas em todo o planeta) recorro ao hermano Vargas Vila e relaxo: “Quão difícil, para não dizer quão impossível é chegar a amar aquilo ao qual se tem que obedecer! Um escravo que chegasse a amar seu amo seria infeliz, por ser o mais vil dos mortais; os que amam uma tirania é porque não a obedecem: a exercem ou a exploram. Só a liberdade pode ser amada porque ela não tem leis”.

Ezio Flavio Bazzo

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Atenção: "brechó" não tem nada a ver com "brecha" e nem com "brochô"

Sabemos que são antigos, mas parecem ter ficado verdadeiramente visíveis só lá pelos anos 60, depois da guerra do Vietnã. Aqueles uniformes imundos, coturnos sujos de sangue e casacões furados por balas usados pelos hippies etc. Grife da morte! Fashion lixo! No Brasil, um dos primeiros bricabraques foi instalado no RJ (séc.19) por um fulano chamado Belchior. Dizem que a palavra brechó vem de Belchior. Hoje é uma epidemia pelo mundo. E não são apenas sujeitos arruinados os seus clientes, há gente grã fina se acotovelando no meio daquelas porcarias. O casacão que me abrigou durante longos invernos pelo mundo afora – por exemplo – foi comprado por setenta ou oitenta francos na Braderie da Rue de Bretagne numa dessas lojas que Balzac classificava como as mais sinistras de Paris. “Nelas – escrevia o melhor escritor de todos os tempos – vêem-se os espólios que a morte ali jogou com sua mão descarnada. Nelas, pode-se ouvir o estertor de uma tísica sob um xale, bem como adivinhar a agonia da miséria sob um vestido de lamê dourado. Os debates atrozes entre o luxo e a fome estão escritos ali, sobre rendas levíssimas. Ali se encontra a fisionomia de uma Rainha sob um turbante de plumas cuja pose lembra e quase restabelece a figura ausente”.

Machado de Assis, em seu conto Idéias de Canário, também descreveu um desses negócios: “A loja era escura, - rabiscou o Bruxo de Cosme Velho - atulhada das coisas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas, que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio”.

As justificativas dos clientes que focinham alucinados por detrás dos cabides e que chafurdam naquela rouparia anônima vão das mais tolas e pueris às pura e simplesmente mercantilistas. Claro que não se poderia esperar deles nenhuma menção ou insinuação ao clima mórbido e escatológico que sempre predomina tanto na essência dos seres como no interior desses sarcófagos.

Ezio Flavio Bazzo

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Por que, afinal, o Presidente do Irã não acredita no holocausto?


Até os cachaceiros gordinhos e hedonistas de Ipanema estão se manifestando contra a vinda de M. Ahmadinejad ao Brasil. Talvez seja a primeira vez na história que um representante da Antiga Pérsia e da terra de Zaratustra coloque os pés por aqui. Sabemos que esse homem, que parece uma miniatura, caiu na desgraça internacional depois de colocar em dúvida a existência do holocausto. Eu, que sempre estive com as orelhas em pé com relação aos historiadores e à história, tenho uma curiosidade imensa em conhecer suas razões, seus dados e suas fontes para tal afirmativa.

Há pelo menos uns dez anos que o ouço fazer publicamente a afirmação de que não existiu holocausto nenhum, e que tudo seria manipulação de uma imprensa cortesã. Apesar disso ninguém, nem a mídia internacional, nem a mídia tupiniquim, nem as universidades se atrevem a conceder-lhe duas ou três horas para que desenvolva e demonstre sua tese. Se suas fontes forem sólidas, densas, fundamentadas, que bom, todo aquele horror não existiu e a humanidade se livrará de uma mentira. Se seus argumentos forem religiosos, ideológicos, fúteis, vazios e delirantes, ele próprio se sentirá na obrigação de silenciar para sempre e deixará de encher-nos o saco com essa temática. Qual TV, qual jornal, qual universidade se candidata? Ele está aí.

Ezio Flavio Bazzo

domingo, 22 de novembro de 2009

Fernando Pessoa & o mendigo em linha reta



“Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, eu tantas vezes irresponsavelmente parasita, indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o ideal, se os ouço e me falam,
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O sacrifício de cachorros na periferia de SP e a cachorrada humana

Difícil entender por que a mesma população que se arquejou de espanto e em vômitos com a descoberta de um matadouro clandestino de cães e de gatos na periferia de SP não está nem aí para os abatedouros públicos de vacas, cabras, porcos, galinhas, rãs, coelhos, faisões etc. Paradoxalmente, esses mesmos hipócritas que se escandalizaram com a natureza do negócio e com o tipo de carnificina são os mesmos que estão todos os dias em fila diante dos mercados e dos açougues para comprar peles, sangue e tripas de porcos, costelas de bezerros, coxas e corações de galinhas, miolos, fígado e língua de bois. Repito: para comprar pele, fígado e língua de bois! Ora! E, além disso, foi exatamente essa gentalha que fez escárnio e escândalo sobre o cardápio e sobre o canibalismo dos tupinambás! Outra hipocrisia, pois é evidente que quem come um pato laqueado seria capaz de comer uma criança laqueada. Que quem come um bode ou um porco no espeto, dependendo das circunstâncias, seria capaz de fazer um churrasco com um irmão, um primo, o pai ou um vizinho. Então, em quê os coreanos e os outros orientais que encomendavam e consumiam as carnes e as vísceras de cães e de gatos capturados nas ruas e assassinados, seriam mais bárbaros e mais desprezíveis do que os que devoram uma ou duas vacas por ano? Dez ou doze frangos por mês? Meio porco a cada fim de semana? Quilos e mais quilos de caranguejos a cada veraneio e dois ou três perus a cada natal? Até uma criança de cinco anos seria capaz de perceber que a voracidade patológica, a ausência de ética e o mau caráter desses personagens são exatamente os mesmos. Um idiota com quem conversava sobre o assunto me dizia: Mas não comer cachorro e nem gato é lei! Lei? A lei é mais desprezível ainda. Vejam o que diz o texto da tal lei: [Animais domésticos, aqueles de convívio do ser humano, dele dependentes, e que não repelem o jugo humano (e que não repelem o jugo humano) não podem ser criados para o consumo]. Ou seja: aquilo que não for domesticável pode ser devorado!

Ezio Flavio Bazzo

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A medicina, como fábrica e mercado de angústia

E aí? Já tomou suas vacinas? Já checou seu colesterol? A glicose? Os triglicerídios?

Cuidado com a tireóide! O fígado, os rins, os intestinos, a bílis negra, os corrimentos, as veias do reto. Tantos por cento morrem com câncer nas tripas! Cuidado! As piores doenças são silenciosas! Vá regularmente ao dentista. Um dente podre pode afetar seu coração! Existem mil tipos de aritmias! E os olhos? Cheque frequentemente a pressão de seus olhos. Olha o glaucoma aí gente! Todo mundo é diabético! Há uma propensão ao alcoolismo e à depressão na espécie. A depressão será o Grande Mal do Mundo! Comece a tomar remédio desde já. Vá verificar o estado de seus ossos. Lembre que você não é uma minhoca. Os exames que eram qüinqüenais passaram a ser semestrais. O status médico não pode ir para o buraco! Não dá para ficar com equipamentos parados. Vamos fazer exames, passar a vida fazendo exames até encontrar as raízes da morte em nossas entranhas. Ninguém o curará de nada, mas pelo menos você ficou sabendo. Apalpe seu corpo, você pode descobrir alguma anomalia: um caroço, uma espinha, uma veia pulsante, um chip. Mesmo que não seja nada grave, pelo menos lhe dará a experiência da angústia e a angústia, você sabe, é sinal de que você está vivo. Lambuze-se diariamente com protetor solar. O mais caro é sempre o melhor. E a próstata? Olha lá! Olha lá! A próstata é uma glândula de fácil desarranjo, como praticamente todo o corpo, foi um erro estúpido na evolução, mas os médicos, por dez ou doze mil poderão remediar ou mesmo extirpar esse mal. Vá ao geriatra. Mantenha-se lúcido como uma pantera até aos noventa anos! Não dê ouvidos àqueles que acham que a longevidade é um projeto tolo da burguesia e um truque das multinacionais dos medicamentos. Arraste-se pela vida, nem que seja como um verme, até o FIM. Mas resista. Esteja sempre entre as caravanas que vão mensalmente à Aparecida ou a Juazeiro do norte! Se sua aposentadoria não for suficiente para comprar remédios, vá ao banco, faça empréstimos. Quase sempre os banqueiros, que são acionistas também dos planos de saúde e das importadoras de medicamentos, transbordam de compaixão para com os da quinta idade. E as tetas? A indústria da mamografia só não cresceu mais que a indústria imobiliária e a indústria da cocaína. Comece a fazer seus exames a partir dos vinte anos. Você só tem quinze? Vá assim mesmo. Se você não quer parar de comer suas afrodisíacas feijoadas com cachaça e leite condensado, faça redução de estômago. Corte-se! Quanto mais cicatriz tiver, mais dará a impressão de ter vivido. Seja um homem ou uma mulher de seu tempo, pois tanto as vidas, como as guerras, acabarão sempre no cemitério.

Ezio Flavio Bazzo

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Heitor Villa Lobos


Não foi muito concorrida a homenagem a Heitor Villa Lobos nesta noite morna de novembro, aqui na Capital Federal, entre a Catedral e o Museu da República. Com certeza muitos jogos deveriam estar acontecendo pelo país a fora, e aí, sabe como que é, o populacho enche o rabo de cerveja vagabunda e fica levitando como se estivesse em outra galáxia.... Regida pelo maestro Iran Levin, a Orquestra do Teatro Nacional deu um show, principalmente no caso da Ária Cantilena número 1/Bachiana número 5. Até o cachorro que uma senhora de olhar sombrio mantinha confinado entre as pernas parecia deslumbrado. Não deve ter sido fácil para Villa Lobos, naquela época, misturar Bach e outros supostos eruditos com nossas profanidades tropicais. Casado pela segunda vez com uma ex-aluna, Villa Lobos, como Borges, Dali, Machado de Assis, Cioran, Vargas Vila etc, não teve filhos. Deixou apenas centenas de obras e de partituras para o gozo futuro da horda. Morto, não teve como impedir que, em 1986, colocassem sua efígie numa nota de quinhentos cruzados.

Ver: http://www.youtube.com/watch?v=8ZCq42RbEUM

Ezio Flavio Bazzo

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

As coxas da estudante Geisy, na Uniban, e o curso de masturbação na Espanha

Já dura vinte dias a polêmica sobre a estudante da faculdade de turismo de SP, que foi “expulsa” por ter ido às aulas metida numa exuberante mini-saia. Ontem mesmo, aqui em Brasília, os universitários fizeram uma marcha, nus, em apoio a ela. Venha para a UnB – dizia um cartaz -. Senadores subiram ao púlpito para fazerem defesa da moça. Reitores falaram sobriamente sobre o assunto. As feministas despacharam milhares de e-mails e de torpedos para a gerontocracia que controla o Estado e até alguns religiosos defenderam de cabeça erguida o direito sagrado de exibir sutilmente os fundilhos. Enquanto isso, lá no país de Cervantes, a Secretaria de Educação e Juventude da Província de Extremadura promove o curso: “O prazer está em suas mãos”, através do qual, jovens de 14 a 17 anos aprendem truques e técnicas masturbatórias. Além do prazer sádico de ficar assistindo desvarios desse tipo, tanto o de lá como o daqui, nos fazem lembrar que o suposto progresso humano é uma farsa. Que apesar das inovações tecnológicas e do teatro da modernidade, continuamos sendo os mesmos idiotas das cavernas e que, definitivamente, ainda não sabemos o que fazer com a região peluda, inflável e libidinosa que levamos entre as pernas.

Ezio Flavio Bazzo

O “apagão” e o pensamento trágico

As três ou quatro horas em que uma boa parte do país ficou às escuras foram suficientes para a mídia histérica e a população paranóide colocarem em cena não apenas seu pensamento, mas seu sentimento trágico. Com olhos arregalados e os cabelos em pé todo mundo parecia esperar pelo pior. Alguma coisa de grave não só devia ter acontecido, como ainda deveria vir a acontecer. Um trem chocar-se com outro. Um edifício incendiar-se. Bandidos saírem pelo meio das trevas estuprando e assaltando. Algum animal nunca visto poderia emergir de um esgoto. Os fios de alta tensão poderiam despencar sobre um asilo ou sobre um shopping e provocar uma carnificina. Os hospitais, o oxigênio e seus doentes! Pessoas presas, fóbicas e com velas em punho nos elevadores. O cheiro de velório. O jantar da Madonna interrompido pela metade! O silêncio mórbido. Passos rápidos como se traficantes encapuzados estivessem invadindo as mansões verticais de Ipanema e roubando as jóias, os cachimbos de prata e os Euros dos nossos “nobres”. As trevas! As trevas e a escuridão como presságio de algo horroroso, palpável e apocalíptico. Na ausência de luz sempre o sentimento trágico: marca registrada dessa pobre espécie que sabe muito bem o que a espera.

Ezio Flavio Bazzo

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A vagabundagem de Darwin e a Origem das Espécies

Um dos mais admirados heróis de minha adolescência foi nada mais nada menos que o velho Charles Darwin. Claro que não por suas teorias a respeito da Origem e da Evolução das Espécies, (não sabia nada disso naquela época) mas por seu privilégio de vagabundear pelos mares a bordo do Beagle, de dar a volta ao mundo, olhando, cheirando, meditando, comparando, refletindo, anotando detalhes desde o bico de um papagaio até do rabo de uma tartaruga. Passou pelo Brasil lá por 1832 (vinte e sete anos antes da publicação do livro que viria revolucionar os conceitos científicos e religiosos a respeito do homem) e seu fascínio por nossos mares, nossas plantas e nossos animais foi completamente oposto ao sentimento que teve com relação aos nossos habitantes. Apesar de sua pátria à época, também ser um ninho de piratas e de larápios, mesmo assim ficou horrorizado com a bandidagem "moral" e "ética", com a hipocrisia e com a incompletez civilizatória que encontrou por estas bandas o que, aliás, - aqui entre nós - continua intacta. A Bahia, o Rio de Janeiro, o Paraná e outros Estados por onde circulou lhe deram a impressão de ser algo como uma ágape entre gatunos e até mesmo algo como um ateliê de safadezas e de malandragens. Está registrado lá no seu Diário do Beagle: aqui, "qualquer que seja o crime, ocriminoso que tenha dinheiro, em pouco tempo estará livre". Todos somos testemunhas da veracidade de sua sentença. Ou não?

Ezio Flavio Bazzo

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Enfim, a liberdade de Cristo!

Finalmente a justiça italiana mandou retirar medalhas e crucifixos das escolas, tribunais e de outros espaços públicos. Demorou séculos, mas conseguiu transpor a idéia infantil de temor e de blasfêmia. Imagino a choradeira que deve estar acontecendo no âmago das catacumbas ambulantes. Aqui em São Paulo já foi dada a mesma ordem. Daqui a uns dias o povo também poderá ver-se livre desse acosso moral. Para o próprio Cristo será um alívio! Só falta agora retirá-lo da cruz. Estar ali nas delegacias (vendo toda aquela jagunçada criminosa); estar lá nas paredes dos tribunais e do Congresso Nacional (assistindo diariamente a toda aquela mentirada infame); estar lá nas escolas (sendo testemunha e até cúmplice de toda aquela baboseira que é administrada sobre as crianças); estar atrás das portas das zonas (ouvindo os gemidos da meretrizes e os berros de seus clientes) não deve ser nada agradável. Como nada neste mundo se move sem o consentimento de Deus, de seu filho e de outros chefões cósmicos, é provável que todos tenham interferido (por debaixo dos panos) sobre essas decisões judiciais. Dura Lex sed Lex!

Ezio Flavio Bazzo

terça-feira, 3 de novembro de 2009

OS MORTOS & a abertura do III Congresso de Filosofia e Religião

Achei oportuno o dia dos mortos ter sido escolhido para o início do III Congresso de filosofia e religião aqui na Unb, aberto com a conferência do prof. Pondé, sobre a morte. Quem ainda tem estômago para ouvir essas “charlas” intermináveis dos doutores, terá oportunidade até quinta-feira de relembrar Hegel, Santo Agostinho, Kant, Pascal, Rosenzweig, Levinas (o conferencista pronunciava Levinás), Heidegger, Jaspers, “o saber religioso em Wittgenstein” e a outros charlatães menores. A palestra que me pareceu a mais curiosa de todas será a que vai acontecer no Anfiteatro 1, com o título: “Nietzsche, Tolstói, Dostoiévski e o idiotismo de Jesus”. Outra que também promete ser transcendente (ou pelo menos cômica) será a da sala de Conferência 2: “Os diálogos sobre a religião nos Parerga e Paralipomena de Arthur Schopenhauer. Enquanto os filósofos se reuniam cheios de si e vaidosos no auditório, os cemitérios da cidade iam fechando as portas sob uma violenta chuvarada, depois de um dia movimentadissimo. Nesse dia (desde o século XIII) todo mundo tem uma necessidade estranha de ir levar um vaso de arroz ou um bouquet de flores para seus mortos, como se isso lhes interessasse para alguma coisa. Muitos curiosos (necrófilos ou não) também gostam de ir para lá onde, numa espécie de ensaio para o porvir, visitam uma ou outra tumba com uma encenação especial. Aqui no cemitério de Brasília a tumba mais concorrida continua sendo a da Ana Lidia, menina de sete anos que em 1973, em plena ditadura do Médici, foi cruelmente assassinada. Dizem que já está fazendo milagres e que começa a ser mencionada como a Santa pagã de Brasília. Hoje, pela manhã, muita gente já estava lá, acendiam velas, depositavam flores, cochichavam, rezavam alguma coisa, discutiam o crime (que até hoje não foi esclarecido) e ventilavam suas tolas hipóteses. Sobre sua lápide havia uma caixa com bonecas, brinquedos de plástico e outras porcarias deprimentes. Uma senhora mais ou menos alterada lembrava a outra, identica a ela, que no dia 13 de setembro de 1973 (um dia após o crime) havia sido a queda de Allende; que aquele foi o ano da Crise do Petróleo; que Elvis Presley fez o show “Aloha from Hawai” , que foi erradicada a variola no Brasil, criado o MOBRAL etc.

Ezio Flavio Bazzo