Quando fui criança lá no sul do país, além dos estradões de terra batida e de barro, praticamente tudo era floresta. De Curitiba à Foz do Iguaçú se ia ziguezagueando por entre Pinheirais intermináveis! Perobais! Capoeirões! Palmitais! Erva Mate! Cedros imensos e por todos os lados a conhecida Canela-fedorenta que os cientistas, cada um com seus sotaque, chamavam pomposamente de Nectadra Megapotamica. Quase tudo foi para o saco! Milhares de hectares, com suas duas ou três mil espécies de plantas, foram devastados. De um extremo a outro daquela região só restou, na verdade, o Parque Nacional do Iguaçú que Getúlio, num surto de lucidez, salvou com um mísero Decreto assinado em 1939. Hoje toda aquela exuberante composição floristica virou pastagem ou vilarejos suburbanos atrasados. Tudo foi convertido perversamente em fazendas de soja (esse grão abjeto que vai empanturrar as vacas dos americanos e os porcos dos chineses) nas mãos de colonos ignorantes ou de especuladores infames atentos apenas às próprias barrigas e aos próprios bolsos. Agora, todo mundo com cara de coitadinho chora ao lado dos telhados e dos barracos despedaçados, se queixa dos seguidos vendavais, das frequentes tempestades, dos tufões, tornados e redemoínhos que se armam satanicamente sobre aquelas terras assoladas. Fingem não saber o que está acontecendo. Ao invés de aumentar a consciência, aumentam o misticismo e as pregarias. Mandam rezar mais missas, penduram escapulários nas cercas e nos telhados, questionam a indiferênça divina, culpam satanás, as meninas da zona, os hereges, os vícios da humanidade. Tudo trapaceria vã. Deveriam sim, abrir os olhos, conscientizar-se da burrice praticada ou autorizada durante décadas e ir apresentar a conta aos gorduchos fazendeiros, aos gigolôs das vacas, aos comerciantes de agrotóxicos e a outros larápios cínicos que com suas idiotices, tratores, foices, venenos e moto-serras, se não forem interditados a tempo, poderão aumentar ainda mais a desolação e o desastre.
Ezio Flavio Bazzo
Ezio Flavio Bazzo
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