quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A terra, esse play-ground do diabo

Assim que cheguei ao hospital um homem alto e forte, usando máscara e luvas brancas, veio ao meu encontro para saber meu prognóstico sobre os desdobramentos da crise no dia de hoje lá no Senado. Não contente com minha vaga e niilista resposta confessou-me que sua única esperança está no vírus da gripe suína. Já imaginou aqueles gabinetes, aqueles auditórios e aqueles corredores absolutamente vazios, de luto? Perguntou-me quase em delírio. Respondi-lhe sarcasticamente que viriam de imediato os suplentes, o que seria até pior. Mas o vírus ainda estaria lá, sobre as mesas - contestou-me num segundo com ar vingativo -, nas fechaduras das toaletes, nos papéis, nos microfones, nos pacotes de dinheiro, no ar. E vinte dias depois tudo voltaria a estar vazio, fúnebre e de luto. Seria feita uma nova eleição – segui provocando – e viriam outros com o mesmo perfil, pois a escola dessa gente é sempre a mesma e mais, nesse período, a vacina já teria sido produzida e testada. Todo mundo, inclusive eles, já estaria vacinado. Vi pela frouxidão de suas pálpebras que ficou desolado e, para minha surpresa, arrematou com uma frase do desconhecido Vilén Flusser: É, não adianta, a terra é mesmo o play-ground do diabo!

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. completando a última frase: com deus vendendo tickets na entrada, profetas e todo tipo de pastores vendendo pipoca e algodão-doce, para que o diabo jamais se canse de sua brincadeira.

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