quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Oh! Noite, forno vil de fumos mal cheirosos! (Shakespeare)


No exato momento em que aquele bando de meretrizes iniciava a ignominia no Comitê de Ética eu relia enojado estas onze linhas: Uma das questões mais graves da sociedade atual é a questão dos cheiros. Como nosso nariz está ligado vinte e quatro horas por dia, o nível de intoxicação que sofremos é incanculável. Podridão! Uma puta expira aqui, outra expira acolá. O reino da prostituição é, antes de tudo, um reino de expiros. Alergias, nojos, lembranças olfativas que não são passíveis de esquecimento. Perfumes baratos. Cheiro de gasolina, de neocid, de banheiros, de xota, de sêmen, de sabonete, de remédios, de éter, de roupas mofadas, de lingüiça na chapa. O chulé dos hóspedes fica impregnado nos tapetes vermelhos trazidos do Paraguai ou de Manaus. O hálito está nas fronhas, o cheiro da nicotina nos lábios. As sobras de cerveja dão asco. Estão repintando uma parede cor-de-rosa. O pintor fede à cachaça. Lavam um pincel com tinner. A fumaça dos carros velhos, os peidos silenciosos, uma infecção nos genitais, um cadáver escondido no banheiro, um abacate podre na geladeira, sem falar do suor que aparece no pós coitus.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. ah, os cheiros... ora perde-se drasticamente - anosmia! ora se perverte - parosmia! ora, alucinado percebe cheiros desagradáveis - cacosmia e fantosmia! ora se excita loucamente - hiperosmia! eis nosso sentido binário por excelência - gosta ou não gosta do que sentes. um terceiro é excluído. não há meio termo. porém, sua indiferênça é dramática! comer e trepar perdem toda a graça. viver sem cheiros? nossas emoções caem à zero. salvemos essas putas! sem seus oderes não teríamos as emoções mais básicas.

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