Não podemos esquecer que o diabo é capaz de citar até as Escrituras por interesses próprios
Voltaram a fazer panegíricos a Euclides da Cunha no Senado. Elogios, louvores, reverências, confetes, interpretações tendenciosas. Só faltou alguém compará-lo ao Euclides grego, o matemático. Se a onda durar mais uma semana alguém será obrigado a pedir a canonização do autor de Os Sertões. Mas é natural. Uma nação que nas últimas oito décadas tem sido uma chocadeira e uma estufa de cabotinos e de crápulas, quando quer gabar ou dedicar-se à bajulação, não tem outra alternativa a não ser ir buscar algum indefeso fantasma em seus cemitérios. Getúlio Vargas, Rui Barbosa, Ulisses Guimarães, Machado de Assis etc., já estão cansados de tantas invocações. Mas, o mais curioso é que entre todas essas exaustivas manifestações não se ouviu ninguém – nem da suposta esquerda e nem da suposta direita - traçar um paralelo mínimo entre a miséria sertaneja daqueles tempos com a de agora. O que importa, evidentemente, para esses ilustres exegetas, é apenas insistir na genialidade do autor, uma vez que não lhes comove para nada - e inclusive os comprometeria - o fato de que na essência, praticamente 80% do país suburbano e camponês de hoje ainda continue tão desgraçado, tão supersticioso e tão sem esperanças como o daquela época. Impossível? Tirem o traseiro balofo da poltrona e viagem pelo país a fora.
Ezio Flavio Bazzo
ah, fantásticas lembranças! bem lembradas ezio: evoluir é inimaginável sem a viagem - virtualmente em sentido duplo; e, é muito fácil matar pessoas vivas, porém, matar um morto... esta política de cabotinos e crápulas, como tu bem dizes, passa longe da arte de viajar ou do vagar necessário pelo mundo à vontade e, mais longe ainda, da arte de enterrar seus mortos. quanto sedentarismo e barricadas de canônicos defuntos ainda teremos que mandar pelos ares para que possamos passar?
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