Todos os sábados, religiosamente, o senhor que aparece na foto (ao lado) passa por debaixo de minha janela empurrando seu carrinho repleto de panelas, facas, frigideiras, espumadeiras, canecos de alumínio e mil e uma outras geringonças, quase sempre ouvindo uma cantiga milenarista evangélica. No último sábado, não foi diferente, apenas a música não era a mesma. Sob o sol das 14h00min horas, depois de afiar duas tesouras a uma mulher extremamente magra e com uma coreografia nada serena, caminhava sem pressa e pensativo junto ao meio fio balançando suas tralhas e ouvindo uma música de Charles Aznavour. Charles Aznavour? Retirei uma de minhas espadas tailandesas da parede e desci correndo pela escada até alcançá-lo já lá na saída da quadra. Enquanto ele passava sua pedra esmeril naqueles noventa centímetros de aço puro e pontiagudo, comprado numa feira ao lado da Estação ferroviária Hualampong, em Bangkok, do meio daquelas chaleiras, espatulas, bules e açucareiros restaurados emergia um fundo musical de profunda melancolia. O ritual de afiação não deve ter demorado mais de sete ou oito minutos, mas aquela música me fez ter a sensação de que havia se passado pelo menos quatro décadas. (quem quiser pode ver o vídeo no endereço abaixo)
http://www.youtube.com/watch?
Ezio Flavio Bazzo
Muito bom!!!!!!
ResponderExcluirCHARLES AZNAVOUR!!!
Que letra tocante! Que parceria,com essas duas divas lindas!
oh sim, afiar e melancolia tem tudo a ver: ambas visam restituir um fio. restituição somente possível pelo desgastar duplo, pois o corte havia sido perdido pelo próprio desgaste. a tristeza é o afeto de ambas. também, se quiserem, ouçam e vejam o mestre da melancolia árabe, farid atrache, enquanto levo para esse afiador, ver se pode fazer alguma coisa com minha cimitarra: http://www.youtube.com/watch?v=Xwu_cZQ0kvw
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