sexta-feira, 19 de junho de 2009

Em Goiás Velho: Os narcisistas, a indústria cinematográfica e a estética de uma ilusão


Como não pude ir à Goiás Velho nesta semana do Décimo Primeiro Festival de Cinema Ambiental fui gratificado com um sonho que durou praticamente toda a madrugada. Neste sonho, o cinema aparecia como uma fraude, uma bobagem infanto juvenil, um entretenimento para solitários meio retardados. Eu próprio aparecia no sonho dialogando com os irmãos Lumière e dizendo-lhes com certa agressividade: o cinema só teve futuro pela deficiência cerebral humana. Um cérebro mais refinado não se deixaria iludir pelo truque dos 24 fotogramas por segundo, desmascararia a fraude e se entediaria com aquele punhado de imagens isoladas e estáticas. Eles riam de minha cara dentro de suas roupas de 1895 e com aquele riso clássico de ilusionistas. Também aparecia no sonho alguém caminhando pelas ruas de Goiás Velho, bem em frente ao Hotel da Ponte gritando em tom de troça: É isto a Sétima Arte? É isto a Sétima Arte? Filas imensas de cineastas e cinematógrafos atravessavam a ponte sobre o Rio Vermelho, um mais vaidoso e mais delirante que o outro, lembrando o primeiro filme da história (A saída dos operários da fábrica Lumière). Marchavam como pavões em direção à Catedral que havia se transformado magicamente em um monumento de Hollywood. Um cálice sem hóstia era dado por Cora Coralina a cada um daqueles narcisistas, como se fosse um Oscar. Voltei a dialogar com os irmãos Lumière e quando me perguntaram o que achava do texto e do som agregados às imagens lhes respondi prontamente e com a mesma agressividade: serviu para temperar e para incrementar a farsa. Riram novamente de minha cara, apoiados pela multidão, a população inteira da cidade puerilmente apaixonada por aquela bobagem. Alguém em tom professoral e falando uma língua jamais ouvida lembrava: A Sétima Arte pode ser ficcional ou documental. Sim, ficcional ou documental! Ficcional ou documental! É no cinema, e só através do cinema que podemos garantir nossa imortalidade. Houve um silêncio que pareceu durar séculos, até que a voz rouca de um bêbado encostado pateticamente ao umbral da igreja proferiu: só os que não crêem em sua imortalidade fazem justiça a si mesmos.


Ezio Flavio Bazzo

2 comentários:

  1. o cinema é só um meio de expressão e não um instrumento de diálogo. é débil e vascilante. falta lhe linguisticidade. e o que oferecem em troca? meras alucinações irreprimíveis. qualquer espectador está sujeitado ao previamente gravado. logo se contorce impotente. sem demora lá está ele em posição fetal no bucho do universo limitado da combinatória do espetáculo. e o cineasta? mero combinador, de olhos ridiculamente esbugalhados, que filma, monta e restitui um fluxo óptico. desprovido de dinamismo, excessivamente figurativo, e sem nenhuma vocação para articular uma língua, seu espírito artístico apenas peida e arrota obras.

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