quinta-feira, 11 de junho de 2009

E o Demiurgo teria dito: implantarei uma língua em tua boca e esta não te dará sossego


Tagarelar. Observem como não se faz outra coisa nesta vida. Os botecos, as igrejas, o Congresso, os mercados, as barbearias, as universidades, os restaurantes, os tribunais, as cadeias, as portarias dos prédios etc., são territórios dominados pela logorréia e pela tagarelice. Um inferno de monólogos e de bate-bocas que não servem para nada e que não levam seus atores a lugar nenhum. Apesar de a língua ter sido implantada por detrás de uma muralha de marfim, - trinta e tantos dentes pontiagudos cravados sobre maxilares e músculos potentes – é mais ativa que qualquer outro órgão do corpo, está sempre matracando e causando estragos irremediáveis. E esse assunto (ou essa perversão) foi sempre tão observado na história bizarra dessa pobre espécie que até o velho Plutarco lhe dedicou um ensaio. “Parece – dizia ele – que a audição nessa gente não está canalizada para a alma, mas para a língua, e é por isso que as palavras que se conservam nos outros escapam dos tagarelas (...) Nas outras doenças da alma, como a atração do lucro, o desejo de gloria e a lascívia, pode-se perfeitamente descobrir a que se aspira, mas é com os tagarelas que acontece o mais deplorável: procurando ouvintes, eles não encontram nenhum, porque todo mundo foge em debandada: estejam sentados no anfiteatro ou indo e vindo na galeria, quando vêem chegar um, as pessoas logo dão sinal para levantar acampamento. (...) Dizem que o esperma daqueles que tendem muito à união carnal é estéril; do mesmo modo que a palavra dos tagarelas é sem efeito e sem fruto”.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. incrível arte do vazio, delirante religião da bobagem, extravagante política da imbecilização. jamais se tem certeza de ser o sujeito do que se diz. nenhuma originalidade. a banalidade é reconhecida como instância legítima última de legitimação. pois bem, falar nada tem a ver com expressão do pensamento. palavras nada tem a ver com o saber sobre as coisas. nenhum discurso nos ergue acima de um rato se quer. se o demiurgo diz que o início era o verbo, o cara que criou esse deus, ou acreditava que a linguagem tivesse algum poder monstruoso, ou era um carente niilista do balbuciar.

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