segunda-feira, 5 de março de 2018

E la nave vá...


Chove e faz sol. Faz sol e chove. Lisboa esta assim desde o último terremoto. Desde quando o Marques de Pombal reconstruiu a cidade com ouro, pau-brasil e prata trazidos de Minas Gerais... Os mendigos e os vendedores de hachis que conheci há uns trinta anos atrás são os mesmos que fazem trottoir ali pelo Rossio, agora, claro, um pouco mais velhos, vendem produtos falsificados e se arrastam como podem. Um deles chegou a dizer-me que a velhice é a auto-critica da natureza. As casas de fado, o cheiro de mariscos, os bondes amarelos, os chiados no chiado, a santificação da Amalia e do Pessoa, aqueles pasteizinhos parecidos com um ovo e cúmplices do diabetes. A xícara de chá de menta!..., as mulheres lusitanas sensuais e inatingíveis com seus DNAs semitas. Quase a metade da Africa ali no Café Jerônymus e a senhora de uma loja de roupas íntimas que ao vender-me uma camiseta gritou lá de cima da escada para uma sua colega: Veja uma camisola média para esse senhor! Camisola? Camisola um caralho! Sutilezas e malandragens da linguagem. Me dizem que calcinha aqui também tem um nome parecido com o de cuecas... Seria a ideologia de gênero contaminando até as fábricas? Passei também dois minutos e meio no interior da Catedral da Sé só para constatar que, como diz Swift: apesar de não existir lugar mais insalubre muitos vão ali após uma bacalhoada, só para fazer a sesta. Depois da chuva as pedras das calçadas ficam como se fossem de sabão. Vi uma alemã acima do peso deslizar e desequilibrar os quadris ali em frente ao boteco que vende ginjinha. Conhece Ginjinha? É uma espécie de cachaça portuguesa feita de frutas que as pessoas bebem em pé. Sempre que se passa por uma "taberna" que fica ali quase em frente ao teatro há dez ou doze pessoas lá na porta e no balcão, com seu copinho na mão. Imagino como deveriam ser as fumerias de ópio aí pela Europa do século XIX. Voltei a entrar num local onde se pode comer por 4 euros. Ali sempre se pode ouvir os lamentos de Cesárea Évora e uma ou outra puta contando suas estórias. (Estórias e não histórias...)  Uma nuvem escura desliza por sobre a beleza dos telhados. Deve ser o que estão chamando de Fera da Sibéria. Mas não faz frio, nem neva, nem venta exageradamente. Observo um velho cigano com seus dois dentes de ouro que vende castanhas ali em frente à uma casa especializada em sardinhas. Faz um esforço imenso e cheio de manhas para proteger-se do vento. Lembro de um ditado do qual eles próprios, os zíngaros, são os autores: Acender a chama é fácil, o difícil é protegê-la do vento... E la nave vá!


















2 comentários:

  1. Ezio, caso ainda esteja em Lisboa, não deixe de dar uma passada na loja de "A Bela e o Monstro" Edições. Lá você pode comprar as edições fac-similadas das obras de Raul Brandão que têm sido vendidas semanalmente nas bancas a 6 Euros com o jornal de nome Público. O endereço é: Rua Nova do Almada, 24, 3ºesq. Bem próximo à Praça do Comércio. Horário: 10:00 às 18:00. Se puder, traga algumas para mim também (brincadeira.. rs).

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  2. Bazzo, deste jeito vai se transformar num lusitano (rsrsr)! Boa viagem!

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