COP 30... Belém do Pará e os ilusionistas de sempre... (Tudo bem!.. Mas, e o saneamento básico???)

 

Yo soy el único espectador de esta calle: 

si dejara de verla se moriría

J.L.Borges

O circo se arma ali às margens do Rio Amazonas nas vizinhanças de tribos em vias de aniquilação e ao lado da outrora Selva Amazônica... É a trigésima apresentação... Com os forasteiros "magnatas", "estadistas" e vivaldinos já começando a chegar. Uns, trazendo suas próprias jararacas, outros desembarcam fantasiando uma aventura com uma jararaca tropical... Ah! O Carimbó! A antropofagia...

E são recebidos com subserviência pela petit burguesia local, aquela subserviência travestida de cordialidade (descrita pelo velho Buarque de Holanda) e de educação... E a floresta, com seus animais e monstros os observa. Sabem que se trata de órfãos adotando e enganando a outros órfãos, de máscaras sem história, ou, vistos de outro ângulo: de um tipo novo e diferente de garimpo e de devastação...

A zona portuária da cidade já amanheceu com muitos curiosos e deslumbrados às margens do mítico Rio Amazonas, admirando os imensos e luxuosos transatlânticos que aportaram por lá, imagem que remete qualquer um ao 22 de abril de 1500, quando Cabral estacionou as suas caravelas lá na Bahia e trocou pedaços de pão, por mulheres e bíblias por barras de ouro e por latifúndios.... 

Papo pra lá e papo pra cá... Até os 'povos da floresta, se querem ser ouvidos, têm que cacarejar alguma coisa em inglês... A propósito, o que é o roubo das riquezas da floresta se comparado ao roubo do idioma nativo? O meio ambiente, a ecologia, a sobrevivência no planeta passou a ser o alibi dos piratas e new-trapaceiros de turno... E não acontece nada! Não conseguem fazer acontecer nada. O que se poderia resolver em seis meses, precisam de sessenta anos. E voltam a insistir que a preocupação maior é com o futuro de seus filhos e de seus netos... Quer maior cretinice do que esta? Desde a época bizarra do Pau Brasil, em seus países e em suas casas, as portas, os armários, o arco dos violinos, as prateleiras das farmácias e das livrarias, bem como os caibros e barrotes das garagens já eram construídos com madeira rapinada ali... Os troncos recém-decapitados descendo pelo Rio Madera, Rio Negro, Rio Amazonas... E tudo, claro, com a cumplicidade dos vivaldinos nativos e de turno... fossem de direita, de esquerda ou ambidestros...

Ah! E se fala obsessivamente em incêndios e em carbono... O que, por ironia, os dois nos remetem às labaredas do inferno, com seu enxofre tóxico e irrespirável... Que fazer?, trata-se de o nosso caráter milenarista... Ah! A floresta como o pulmão do mundo... Como a Mina de Ouro das multinacionais de medicamentos! Derrubar e incendiar a floresta é aborrecer os deuses dos tufões e os das tempestades. Ah! Os rios voadores! La Ninha y el Ninho! As águas aquecidas dos oceanos e as geleiras desmoronando... O apocalipse é pouco, é necessário passar as páginas até chegar ao Eclesiastes... E não há quem não queira converter-se e associar-se a esta nova seita, apesar de até os míopes, perceberem que apesar da simulação ser pródiga, a fé é escassa.

Mas o mais alucinante de toda essa pantomima, é que até agora não se ouviu ninguém falar em SANEAMENTO BÁSICO. Inclusive porque esse desleixo e essa anomalia, em 400 anos, a própria capital onde o evento acontece, não conseguiu resolver... 

O que, mais do que tudo isso, representa a impotência e a pauperização do Estado?