As labaredas nos barracões da COP 30... E os piromanos...

"Le complexe de Prométhée est le complexe d'œdipe de la vie intellectuelle"

Gaston Bachelard, p. 31

Acredito não ser um piromaníaco clássico, mas confesso que o fogo me fascina. Que Prometeu o tenha roubado dos deuses, foi uma das maiores façanhas da humanidade...

Sempre que acontece uma desgraça dessas, corro reler, primeiro, La psychanalyse du feu, do velho Bachelard e em seguida, em Atos Impulsivos, do W. Stekel, suas interpretações a respeito da piromania que, curiosamente, também tem a ver com a sexualidade. (A propósito, se você é da pedagogia, da psicologia, da psiquiatria, da psicanálise ou do corpo de bombeiros) e nunca leu ATOS IMPULSIVOS, do Stekel, é bom ir pensando em mudar de profissão)."A maioria dos incêndios - diz ele - foi provocada na fase da puberdade, ou seja, entre os quinze e os vinte anos de idade. Não é por acaso que "a tradição popular exorta a criança a não brincar com fogo de noite, se não quer urinar na cama. (.,.) Um tal Wagner-Jauregg chega a defender a ideia de que existe um instinto incendiário nas criança, instinto este que se eterniza nos adultos, veja-se o fascínio pelos "fogos de artifício", pelas rezas ao redor das fogueiras e etc, etc. "a vista do fogo e do brilho incandescente das labaredas a criança experimenta um sentimento de prazer que a leva a aproximar-se do fogo e até a tocá-lo...(...) As crianças brincam com o fogo por motivos que, para elas, são poucos claros. Vêem no fogo uma força poderosa, purificadora e destruidora que lhes confere poder vingativo sobre os mais velhos que as oprimem e humilham.... etc, etc). E mesmo quando os bombeiros juram que o incêndio foi casual, acidental, espontâneo etc, já que o eletricista que fez a instalação era o melhor do mundo, pode ser que ainda haja ali, de forma inconsciente, a ação inocente de um piromano...

Independente dos estragos e das desgraças que um incêndio pode provocar, e da ficha corrida dos eletricistas, ninguém (nem os bombeiros) se atrevem a negar a beleza das labaredas. Daquelas línguas de fogo ziguezagueando, de madrugada, em direção às estrelas... Ou, pela manhã, confundindo-se com "nascer" do sol...

Que na mitologia cristã se tenha inventado o fogo do inferno, como castigo, pode ter tido um efeito contrário ao desejado por aqueles sádicos beatos, prejudicando as estatísticas e a candidatura daqueles que acreditam e anseiam, ardentemente, por uma temporada no paraíso...

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E por falar no fogo como algo purificador, gosto desta anedota contada por Strinberg:

- O CAÇADOR: De que maneira posso ajudar-te?

- O JAPONÊS: Da seguinte maneira: tomarei uma cápsula para dormir e ficarei como morto. Tu, então, me colocarás num caixão que será levado ao crematório.

- O CAÇADOR: Mas, e se acordares?

- O JAPONÊS: É exatamente isso que quero! Por um momento sentirei o poder purificador do fogo. Sofrerei por um breve momento e então sentirei a felicidade imensa da libertação...