"Pobres povos que em marcha dentro da noite se detêm para amaldiçoar o sol ao qual deram miseravelmente as costas!!!
Vargas Vila
(IN: Huerto agnóstico, vol. 21. p. 85)
As manifestações indígenas de hoje foram espetaculares! E não houve nenhum vestígio de repressão policial, estatal e etc. Tudo zen! Livre! anarco-tribal! Tudo em paz! Os indígenas, de diversas etnias e vindos de diversas regiões transformaram a Esplanada numa espécie de gigantesco Sabat. Danças, queimação de fumo, xamanismo, cachimbadas, gritos, pajelanças, cantorias, maldições, rezas, ameaças, fantasias, dentes de tigre em volta do pescoço e até umas senhoras índias com as tetas de fora.
Elas me fizeram entender em minutos que foi a roupa que salvou do desastre tanto a civilização como o desejo!
Repito: tudo na santa paz! Os supostos democratas não terão de que reclamar. Claro que os mais intoxicados por testosterona até ameaçaram invadir o Ministério da Saúde com seus tacapes, arcos e flechas, mas foi só teatro, uma performance dirigida por um dos caciques...
Também lançaram suas flechas metafóricas sobre "as máfias" do Ministério da agricultura para depois molharem os pés nos lagos delicados e transcendentes do Itamaraty... acusaram o Bolsonaro de ser um fascista (o que pensaria Mussolini?) e invocaram todos os deuses da floresta para desembarcarem por aqui e colocarem um ponto final na putaria urbana e política. Só que até agora, nada! Ninguém! Como nossos deuses urbanos, será que também estariam surdos? Acompanho suas manifestações por aqui desde as primeiras, há uns vinte anos e, guiados por uma sabedoria intuitiva, sempre reivindicam e dizem as mesmas coisas, não se importando para nada com quem está de plantão e mamando na Presidência.
Um índio ao meu lado gritava desafiadoramente na cara de um policial, referindo-se aos burocratas:
Abaixo essa cambada de chupatintas! E que se foda a Reforma da Previdência! Vocês, de Brasília só falam nisso! O que é, afinal, essa porra de Previdência! Que se fodam os velhinhos aposentados! Nas nossas tribos ninguém se aposenta e vivemos cem anos!
E nenhum grito por Lula Livre!
Já o teriam esquecido?
Bolsonaro não apareceu. Na cobertura dos edifícios um ou outro esbirro voluntário com binóculos. E a mídia correndo de lá para cá para prestar serviço. Os fotógrafos com as calças suadas na bunda preocupados em aplacar a neurose dos chefes de redação que esperam por notícias. Estagiárias se jogando no chão para fazer uma foto ridícula e cinematográfica. Querem a todo custo vir a ser, um dia, como o Sebastião Salgado mas não sabem se aquela mineradora as financiará. É necessário produzir muitas notícias! Muitas Imagens! Pelo menos um índio lançando uma flecha em direção a estatua da balança e acertando o coração da justiça! Ou pelo menos uma de Tupã no alto do Congresso Nacional brandindo e acenando com um tacape de Pau Brasil!
Os astrólogos juram que mais tarde cairá uma chuva sobre o planalto, mas por agora há sol. Um céu azul de fazer inveja! A turba atravessou a esplanada e se jogou nos jardins e nas cachoeiras luxuosas do Ministério da Justiça.
No meio de toda aquela zona parece aflorar um sentimento de solidão!
Um indigenista com tipo de norueguês me pergunta quem teria sido o arquiteto daquelas cachoeiras? Não tenho a mínima idéia.
Os índios mergulham. Regridem à infância. Parecem felizes como se estivessem lá no meio da selva e no meio de seus tigres e rios. Como não lembrar do Bom selvagem de Rousseau? Mas pisam sem cerimônias e sem frescura também os lírios amarelos que a "esposa" de algum ministro, em estado depressivo, mandou semear ali. Os jornalistas e os policiais fazem o mesmo. E tudo fica destruído.
Isto sim deveria ser considerado um ato de selvageria! E por nada...
https://www.youtube.com/watch?v=AtgCneHQplU
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