quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Brumadinho e o mendigo K...

"De todos os pecados, a castidade é o mais inútil, o mais ridículo e o mais vil..."
Vargas Villa IN:De los viñedos de la eternidad, volume 25, p. 173


Encontrei o mendigo K nesta manhã de quinta-feira ali num Centro Comercial. 
Estava meio gripado com outros mendigos em frente a uma loja de eletrodomésticos que ele acredita ser ainda a Hermes Macedo do tempos de seus pais. Assistiam numa TV do tamanho de uma parede as noticias sobre Brumadinho, onde farsantes e vivaldinos de todos os naipes davam suas interpretações sobre a desgraça ocorrida naquele vilarejo e onde uns, no blablabla de sempre, faziam de tudo para justificar o injustificável e onde outros, mais cínicos ainda, defendiam a idéia de que o melhor a se fazer agora é colocar tudo nas mãos de Deus. Já que Deus sabe o que faz! 
Ora! - resmungou um mendigo do grupo, visivelmente encolerizado -, se soubesse não teria deixado aquela merda estourar... 
Diante do circo de especuladores, das imagens e dos clichês sentimentais e depressivos emitidos pelos repórteres os mendigos não escondiam um certo horror... 
Antes que eu me retirasse ele fez questão de perguntar-me: Bazzo, você já percebeu que o mundo algumas vezes se parece a um grande hospício, onde uns querem insistentemente internar aos outros? 
Que outras vezes se parece a um imenso orfanato, onde uns passam a vida inteira tentando adotar ou ser adotados pelos outros? 
E que outras vezes não se diferencia em nada de um imenso puteiro, onde todo mundo quer foder todo mundo???
Fez silêncio por uns segundo enquanto tentava avaliar minha reação, deu sua gargalhada característica de niilismo e saiu arrastando os chinelos para ir, segundo ele, dar uma mijada...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A barragem de Brumadinho, nossa engenharia pior que a do Neolítico... e o Êxodos...

























"A desgraça dessa terra é esse grande número de poetas. Se em vez tocadores de viola tivéssemos fabricantes de alpergatas esse sertão seria muito mais adiantado..."
Prado Ribeiro

Qualquer análise ou interpretação vaselina que tente 'justificar' o novo desastre no setor de mineração de Minas Gerais, (Brumadinho) ou é demagógico ou é futil além de evidenciar uma passividade patológica e uma burrice que transpassa todos os setores governamentais e sociais. Uma hipocrisia generalizada que vai bater, inclusive, na porta das grandes universidades, especificamente nos departamentos de engenharia. Simplesmente, não é possível que algo assim possa acontecer a não ser por uma burrice ontológica. Há barragens aí pela China, India, pela Mesopotamia e etc, que já têm 5 mil anos e que ainda servem para os fins que foram criadas. Não tenho certeza, mas acho que falam delas até la no Baghvagita. Também não tenho certeza, mas acho que os Incas, com machadinhas de pedra construíram diversas que também ainda estão intactas. Um desastre dessa magnitude é uma vergonha que nos compromete nacional e internacionalmente. Um descaso e uma irracionalidade vulgar mantidas por especialistas de puteiros. E não adianta agora o país fingir compaixão, mandar cobertores velhos ou caixas de agua para os familiares das vítimas enfiados na lama. Não adianta agora os abutres religiosos pousarem por lá com seus apetrechos de bruxaria dizendo que vão consolar o inconsolável... Seja onde for, diria Buñuel, o fanatismo me repugna... 
Um governo que tem bagos deve interditar de imediato toda aquela merda. Implodir com dinamite as outras duzentas e tantas que há por lá. 
Ah, mas vai faltar trabalho para nossa gente! Melhor.
 Ah, mas e se faltar minério de ferro para as grandes potências?... que se fodam as grandes potências!... 
Ah, mas e se cair nosso PIB? Azar nosso. 
É necessário interromper essa estratégia neurótica e cretina de sempre correr atrás dos efeitos e dos sintomas, porque já esta mais do que evidenciado que grande parte de nossas desgraças é não ter olhos para as causas e mais: por não checar periodicamente, com a devida atenção que merece, os níveis de testosterona do populacho... (para não dizer proletariado!)
E depois, é evidente que essas barragens continuam sendo construídas e mantidas por gente reacionária (inclusive pelos da seita marxista) com a lógica do Neolítico e que o Iluminismo não chegou até nós! Mariana ontem e Brumadinho hoje são provas incontestáveis disso...
 E quando vejo as imagens daquela desgraça toda, daquelas montanhas cobertas de barro e de destroços, vou à varanda e recito em voz alta no meio de minha mais terrível indignação este parágrafo de Vargas Vila: "ROGAR! A QUEM? INDIGNAR-SE! CONTRA QUÊ? CONTRA QUEM? A MESMA MUDEZ E A MESMA SOLIDÃO REFLETIRÃO O GESTO TANTO DAQUELE QUE DOBRA A CABEÇA E SE AJOELHA COMO DAQUELE QUE, COLÉRICO, LEVANTA OS PUNHOS NO VAZIO E COSPE CONTRA O CÉU DESERTO... O MESMO HORIZONTE INERTE E IMPIEDOSO REGISTRARÁ A MANIFESTAÇÃO DESSAS DUAS LARVAS REALIZANDO O MESMO GESTO DE IMPOTÊNCIA... SÓZINHAS DESESPERADAS E VENCIDAS..."

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Em tempo: 1. E se a população de Minas Gerais não tem bagos para indignar-se e para revoltar-se, se prefere ficar comendo pão de queijo, olhando para o ubre das vacas na porteira das fazendas e clamando por Chico Xavier, é bom que vá comprando logo seus escafandros e que se prepare para a próxima...
2. E quem é que não decodifica no olhar do boi resgatado da primeira foto algo como uma paráfrase de Balzac:  "É um golpe muito duro para um boi sobreviver a toda essa merda e perceber-se cercado por ignorantes..."

Salve-se quem puder...






















domingo, 27 de janeiro de 2019

Enquanto a cidade flerta com o tédio... e se espera por Godot...

[...En tal caso, la memoria estaría amenazada, ya no por la supresión de información, sino por su sobreabundancia. Por tanto, con menos brutalidad pero más eficacia - en vez de fortalecerse nuestra resistencia, seríamos meros agentes que contribuyen a acrecentar el olvido -, los Estados democráticos conducirían a la población al mismo destino que los regímenes totalitarios, es decir, al reino de la barbarie...]
Tzvetan Todorov
(IN: Los abusos de la memoria, p. 17)


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

"Papo cabeça! E ainda por cima em aramaico...

Conflitos entre espécies... E entre deuses... no mundo abominável do trabalho... (Publicado no Correio Braziliense de anteontem)


"O homem é um animal que acredita, principalmente no absurdo"

João do Rio



"Cadela é morta como forma de 'oferenda' para conseguir promoção no trabalho"


"Uma cadela foi morta a facadas dentro de uma casa na Metropolitana (Núcleo Bandeirante), na noite deste domingo (20/1). Uma equipe da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) fazia a ronda no local quando encontrou o cão ensanguentado e, próximo a ele, estava um homem, também sujo de sangue. Depois de ser abordado, ele entrou em uma casa e foi acompanhado pelos policiais. Na residência foi encontrada uma tigela com sangue e uma carta de oferenda para conseguir uma promoção no trabalho. O companheiro do homem também é suspeito de praticar o crime. 
De acordo com a ocorrência, registrada na 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), o suspeito, de 27 anos, informou aos militares que o cão havia sido atropelado. No entanto, a equipe desconfiou da versão ao ver um rastro de sangue de onde o animal estava jogado até a casa em que o homem morava. A tigela de sangue estava dentro da casinha da cadela, que era o animal de estimação da casa. A residência também estava suja de sangue e, além da carta, uma faca foi encontrada.

No texto, dedicado a um senhor da umbanda, o homem pede para ser selecionado no processo seletivo para ocupar nova função no trabalho e conseguir um aumento no salário, justificando que a remuneração não é suficiente para bancar as dívidas. "Peço que abra os nossos caminhos e tire qualquer obstáculo aos nossos projetos, que possamos aumentar os nossos ganhos e superar a crise financeira", escreve. 
No entanto, a carta teria sido escrita pelo companheiro, de 30 anos, servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), que confessou a autoria. No depoimento, o servidor afirmou que estaria dormindo no momento do crime e que, ao acordar, ver sangue pela casa e perceber a ausência do animal, questionou o companheiro, que teria confessado matar a cadela como uma oferenda, pois precisava de dinheiro. 
Já o homem de 27 anos disse ter encontrado o animal molhado dentro da casinha e, logo depois, percebeu que era sangue. Os dois estavam juntos desde outubro de 2016, sendo que a cadela, batizada de Laila, já pertencia ao suspeito mais novo. Ambos assinaram um termo de compromisso e foram liberados.
A advogada e defensora dos direitos dos animais Ana Paula de Vasconcelos afirmou que vai conduzir o caso ao Judiciário. " O crime bárbaro e repugnante não poderá ficar impune. Além do processo criminal, serão buscadas as sanções administrativas, com a multa prevista em 40 salários mínimos, conforme lei distrital", disse. 

O que diz a umbanda 

Sacrificar cães como forma de oferenda não é uma prática aceita nas religiões de matrizes africanas e, no caso da umbanda, nenhum animal é apresentado desta forma. É o que explica o representante Ògan Luiz Alves. "A umbanda não sacraliza animais, assim como Exu Tiriri não pede cachorro. Enquanto afrorreligioso, desconheço totalmente a prática. Se uma pessoa corta um cão, faz isso por conta e responsabilidade dela. Até porque, nas religiões de matrizes africanas no Brasil, apenas se sacraliza se o animal nos servir como alimento. Além disso, o cachorro é respeitado por ser consagrado a Ogum e a Omolú."

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Enquanto isso... lá na Venezuela...

Como discursaria o colombiano Vargas Villa assistindo a desgraceira do país vizinho: "O mundo agoniza com as veias abertas sobre os campos devastados, ao pé de seus deuses inúteis, incapazes de protegê-lo e vingá-lo (...) Deus desertou do céu e os homens não o encontram em nenhum lugar para pedir-lhe justiça..." 
E depois de um breve intervalo para admirar os tiroteios, as fogueiras e toda aquela miséria sem porvir completaria: "O que sobrou daquilo que foram 'luces de alba' e estrelas de aurora neste século morto de mentiras? O Direito, a Justiça, a Lei, que sobrou deles? O Direito se chama força, a Justiça se chama força, a Lei se chama força. Nenhum ideal ficou em pé, todos foram derrubados. Nenhuma idéia continua pura, foram todas violadas. Só a força continua erguida, vencedora e onipotente sobre a tumba deste século mentiroso e venal, nascido na cratera de um vulcão e morto sobre o esterqueiro de Jó..."
(IN: Ante los barbaros, vol. 55. pp. 5,4)








quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O sexo... Esse demônio de todas as horas...


"Educados para tornarem-se mecanicamente  obedientes, os homens roubam sua própria liberdade, matam a quem os faz livres e fogem com o ditador..."
Wilhelm Reich
(IN: La función del orgasmo, p. 23)

Encontrei o mendigo K nesta manhã de quarta-feira ali numa espécie de chácara que vende mudas de flores: gerânios, orquídeas, hibiscos, gardênias, camélias, hortencias e etc. Quando me viu foi logo tirando do bolso duas páginas do jornal local para mostrar-me as novas noticias de mulheres que estão acusando homens de as terem assediado ou abusado sexualmente. 
Pensei logo no João de Deus, mas não tinha nada a ver, isso já é coisa do passado, me disse. Estava verdadeiramente impressionado com a noticia que dizia respeito ao jornalista Datena que esta sendo acusado por uma colega de trabalho de tê-la assediado. Ela o esta acusando, entre outras coisas, de ter-lhe confessado que se masturbava pensando nela... Colocou as duas mãos na cabeça e, meio ofegante, resmungou: Ora! Meu Deus! Qual é o problema? Que homem se incomodaria diante de uma revelação estupenda destas? Eu mesmo passei a vida inteira esperando que uma beldade qualquer me confessasse algo parecido! Seria o máximo para minha biografia saber que uma mulher, no auge de sua intimidade, teria dedicado sua siririca a mim!... 
Fez um breve silêncio e mostrou-me a segunda noticia, esta de um massagista aqui da cidade, contra quem várias mulheres estão fazendo denuncias de que, durante a massagem, ele teria tocado também em seus grandes e pequenos lábios vaginais... Disse isso em voz um pouco mais baixa mas mostrando uma imensa indignação. 
Que preconceito é esse? 
Que ignorância! Que mente perversa a delas! Dizia enquanto caminhava de um lado para outro.  
Como é possível tratar de um corpo negando ou excluindo partes tão importantes como o são os genitais? 
Imagine um dentista que fosse acusado de assédio por tocar os lábios, as orelhas ou a nuca das pacientes. Uma das "vitimas" diria à delegada de plantão: - Doutora, ele tocava os buracos de meu nariz com o nó dos dedos!  Algumas vezes até enfiava os dedos em minha boca!.. Ai meu Deus!., juro que ele roçava os cotovelos levemente em minhas orelhas e um certo dia até deixou cair um bisturi entre minhas tetas... E eu, apavorada, me sentindo indefesa naquela cadeira, ouvia sua respiração ofegante por debaixo de uma máscara branca que ele usava para que eu não lhe visse as expressões de lascívia nos lábios!!!
E a doutora, ansiosa para exercer seu micro poder e sentindo umedecer suas próprias mucosas, garantia a denunciante:  Fique calma, não há duvidas de que trata-se de assédio! Vamos processar esse porco tarado e licencioso!..
Enquanto ele ia falando eu lembrava de um caso recente ocorrido em Portugal com um padre charlatão que fazia exorcismo. Acusado de durante o ritual de expulsão do demônio meter as mãos na parte superior das coxas das endiabradas ele se defendeu com o seguinte argumento: Ora bolas! É meu trabalho... Tenho que meter a mão lá onde o diabo esta... Acho que foi absolvido, se não pelos maridos pelo menos pela justiça.
Neste momento a florista apareceu trazendo 10 quilos de terra adubada e não o vi mais... 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

As mãos e a lição de Pilatos...

"Nós nunca chegamos aos pensamentos. Eles vêm a nós. É a hora conveniente para a conversação".
 Heidegger

Atualmente, com o país politicamente dividido em dois bandos (para não dizer em duas seitas), um assunto que esta cotidianamente em pauta é o das escolas e da educação
Escola com partido ou escola sem partido?
Escola laica ou escola animista? 
Paulo Freire ou os velhos e tradicionais métodos das escolas jesuíticas de nossos tataravós? 
Como já disse, discutem essa babaquice apenas por discutir, já que ninguém sabe porra nenhuma de pedagogia... de desenvolvimento mental, de teoria e nem de método.., tagarelam e perdem dias discutindo apenas por tagarelar e baseados apenas em fé, neuroses e medos pessoais. 
A melhor escola, segundo o mendigo K, será aquela que ensine as crianças a importância do sabão... a importância de lavar-se as mãos e mais: que é preferível ser um pouco compulsivo do que um porco. Me entendem? 
E nesse particular, tanto o velho e romântico Freire como todos os frades e outras raposas embatinadas do passado falharam. Apesar de irem ouvir  diariamente lá no meio da missa o LAVABO INTER INOCENTES MANUS MEAS, ninguém nunca deu e nem dá importância alguma ao assunto. E é por isso que hoje, nem os coveiros, nem os cozinheiros, nem os barbeiros, nem as funcionárias dos bordéis sabem lavar-se.
 Por isso que as donas de casa, os garçons e os entregadores de pizza, de sushi, de frango xadrez e etc, das dez da manhã até as dez da noite nem passam perto de uma torneira inclusive, em se tratando dos últimos, nem depois de usarem as privadas terroríficas dos fundos das rodoviárias... E algo parecido acontece também com os profissionais de saúde que não lavam as suas convenientemente durante o trabalho. Vistorie os hospitais: a metade da população esta viva por "milagre"! Não há pias, nem sabão e nem água... Claro que inventaram o álcool gel para escamotear essa sujeira e turbinar os negócios destes ou daqueles comerciantes... Mas mesmo assim, observem como quando esse substituto da água fresca e do sabão não é escasso é porque foi falsificado...
O que nos leva a pensar que talvez, a frase de Pilatos lá na anedota cristã, "EU ME LAVO AS MÃOS!" tenha sido algo bem mais educativo e de costumes do que uma metáfora metafísica (como insistem em interpretar os padres, os pastores e outros alucinados)...



sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O mendigo K... fingindo ser analista político...

[Ali onde Deus levanta uma igreja, o demônio sempre levanta uma capela; e se vamos ver, encontraremos sempre mais fiéis na segunda...]
Daniel Defoe
(IN: Himno a la picota,  p. 137)

O mendigo K ligou-me de um país do sudeste asiático para prevenir-me: só há uma maneira do Bolsonaro escapar do impeachment: começar imediatamente três coisas. 
PRIMEIRA: construir estradas de ferro de ponta a ponta no país. SEGUNDA: tornar as águas do rio Tietê potáveis. 
E TERCEIRA: construir uma imensa rede de esgotos subterrâneos por todo território. Mas tem que começar já, amanhã mesmo, se não quiser igualar-se e ser confundido com Marechal Deodoro, com Getúlio, com Jânio, com os governos da ditadura, com Sarney, com Itamar, com Collor, com Fernando Henrique, com Lula e com Dilma... Do contrário, vai dizer o quê na semana que vem lá em Davos? Não esquecer que o discurso do Sarney (em sua época) lá na ONU foi um dos mais revolucionários de todos... (procurem nos arquivos)... e vejam no que deu... Isto porque as palavras e a linguagem se parecem muito às cortesãs...
Acredite - insistia no telefone -: um país que não tem estradas de ferro esta condenado à melancolia e à miséria! Um país que convive com um Rio como o Tietê atravessando a maior cidade com aquele meio metro de espuma, arrastando geladeiras, colchões, pneus e cadáveres, pode ser comunista, fascista, anarquista, monarquista, globalista, tribalista e etc, não terá jamais nenhum tipo de credibilidade. Pode ter as melhores escolas e os melhores professores que não servirão para nada... E  um país onde 80% do território não tem esgotos, onde a merda de 200 milhões corre a céu aberto, não pode jactar-se de nada, muito menos de ser a décima economia mundial, porque, na verdade, ainda nem sequer ingressou verdadeiramente no processo civilizatório... (sem falar que essas três idiotices terceiro-mundistas fazem muito mal para a saúde mental da população. Veja-se o hospício em que se esta vivendo!!!)
Acho que ficou incomodado com meu silêncio e com minha vergonha e desligou...  

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

As hipocrisias e as paranóias a respeito do armamento...

"A ciência, para progredir necessita transformar o cientista em um primitivo, em um bárbaro moderno..."
José Ortega y Gasset
(Citado por Alfonso Berardinelli IN: El intelectual es un misántropo, p. 17)



O país inteiro discute hoje o Decreto assinado ontem pelo  atual presidente da república sobre armas e armamento. 
Curiosamente, há um moralismo quase doentio a respeito do assunto, como se as armas fossem, necessariamente, a antítese da vida. Mas não são. São apenas armas. As atuais, inclusive, representam uma das conquistas mais importantes do Renascimento, do iluminismo e da Revolução industrial. 
E não apenas para guerrear, para intimidar ou matar-se uns aos outros, mas inclusive como peças decorativas. 
Eu mesmo já convoquei uma arquitecta/designer para decorar minha biblioteca com um fuzil ou com uma carabina. Fico imaginando um Kalashnikov pendurado ali sobre a obra completa de Freud ou sobre os pensadores da Escola de Francfurt... Ao lado da Bíblia, do Corão, do Talmud e do Livro de Mirdad... Do livro egípcio do Mortos... Ou então uma daquelas metralhadoras super-modernas (que os guardas do Vaticano exibem enquanto os beatos do planeta se enfileram como cabras para ver o Papa argentino) pendurada na horizontal entre os livros de Bakunin, de Malatesta ou de Flores Magon... e com o cano sobre meu violino... 
Um acabamento em madeira na coronha, uma mira telescopica e três ou quatro pentes repletos de cartuchos... Quando os intelectuais com suas delicadezas sacerdotais e obsessões pela paz, ouvem falar em cartuchos pensam logo na Cartuxa de Parma.. Quê miséria!.
Apesar dos especialistas em hormônios ainda não terem compreendido, acredito que há uma relação importante entre testosterona e armas... Os psicanalistas, petimetres e urbanos, para atacar os que vão à análise armados gostam de dizer que a arma (simbolicamente) é uma compensação para aqueles que têm pau pequeno. Errado. Pertenço a um clã onde todos eram muito bem dotados e onde todos tinham em suas casas três ou quatro espingardas atrás das portas, junto aos crucifixos e ao lado de uns ramalhetes secos de arruda, sem falar das pistolas que levavam enfiadas no cinturão, sobre o umbigo e com a ponta do cano no meio dos pentelhos...  
E la nave va...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Césare Battisti... Extraditado e trancafiado na Sardenha, com a brisa do Mar Tirreno entrando pelas grades......

"O homem é um animal que acredita, principalmente no absurdo..."
João do Rio






Acabo de cruzar com uma velhinha aposentada ali no mercado da esquina. Trata-se de uma senhora distinta que, apesar das décadas, pinta os cabelos, usa colares e até umas roupas com decotes que lhes deixam visíveis parte das tetas. Gosta de  gabar-se de admirar guerrilheiros, revolucionários, contraventores, ladrões, traficantes, estelionatários e subversivos de todas as espécies. Jura que tem em casa, atrás da porta do quarto, junto a Santa Edvirgem, uma foto do Pablo Escobar... E diz (de maneira quase maníaca) que nos últimos meses esteve sempre rezando para que o Cesare Battisti fosse repatriado para a Itália.
Que fosse repatriado? Perguntei pensando em evidenciar-lhe uma contradição.
Sim, que fosse repatriado ou extraditado... Sabe por quê? Porque ele mesmo já me havia confessado que preferia mil vezes estar numa penitenciária na Sardenha, com a brisa do Mar Tirreno entrando pelas grades, do que ficar solto no Brasil ou na Bolívia... (Deu uma gargalhada e desapareceu).

sábado, 12 de janeiro de 2019

SHANZHAI... A China e a arte da falsificação...


[... Quanto mais grande é um mestre, mais vazia é sua obra...]
Byung-Chul Han (página 23)








Como declarou um chupatintas do governo anterior: Brasília continua sendo um autorama Stalinista
Por aqui NO PASA NADA! NÃO ACONTECE NADA! NÃO CRESCE NADA! NÃO SE CONCLUI NADA! As pistas deste autorama continuam cheias de buracos e em reforma permanente. O viaduto que caiu há um ano ainda esta no chão. A Biblioteca Demonstrativa está fechada para reparos há três anos. O Museu de Arte, acho que nem existe mais e os serviços em geral são de quinta qualidade... O que indica que no outro polo da fé e do beatismo generalizado existe um niilismo inconsciente e quase assustador. Um desprezo pela existência, pela vida e por si mesmos que resulta nessa inércia brochante e nesse masoquismo patológico. Quando a noite se apresenta os botecos vão se enchendo de uma maneira que lembra a época do teatro do absurdo. Os mesmos clientes, os mesmos garçons, os mesmos copos semi lavados... E os vendedores ambulantes que interrompem as falas e os tragos. Vende-se de tudo na noite. Além dos produtos que vão alterar o sistema nervoso central com mais rapidez que a cachaça, vende-se livros, pinturas, bolos, patuás, rosários, amendoim, vibradores, CDs e claro, muitas outras porcarias luminosas vindas da China. Porcarias que são embarcadas lá no porto de Shangai, que atravessam o mundo e chegam misteriosamente ali... E nunca falta um ou dois mendigos rebolando seus trapos ao som de um pagode e um ou outro poeta deprimido confessando suas próprias e insanáveis dores... Tudo condimentado por uma fake cordialidade... O vendedor amarrou ao redor da cintura umas luzes piscantes e na cabeça um massageador inox que lhe dá um ar de extraterrestre. Não compro nada, mas faço uma associação com o livro do coreano Byung-Chul Han, (em moda no ocidente) traduzido e publicado pela Editora Caja Negra, de Buenos Aires, que tem o seguinte título: SHANZAI: El arte de la falsificación y la desconstrucción en China. Um texto fundamental para entender não só a arte e a malandragem dos chineses de reproduzir e de "falsificar"absolutamente tudo, mas também o equivoco ocidental de acreditar que isso representa um mau caratismo chinês. Não. A lógica é outra. Hegel, o alemão que dizia identificar nos chineses uma tendência à mentira entendia que "tras la negatividad del vacio budista se esconde una nada nihilista. E isto - diz ele - la hace responsable de la "gran inmoralidad" de los chinos. La nada nihilista, plantea Hegel sin reparo alguno, no admite ningún compromiso, conclusión ni constancia. La nada nihilista se opone a cualquier Dios que represente la verdad y la autenticidad..." Ver página 12, do livro acima.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Chuva de aranhas e um raio em pleno dia de sol... E o pobre Darwin?...






[... E Arão estendeu sua mão sobre as águas do Egito e delas subiram rãs,... Porque esta vez enviarei todas as minhas pragas sobre teu coração...]
Êxodo , capitulo 7, versículo 20

No mesmo dia em que a Ministra dos Direitos Humanos trouxe de volta a polêmica entre a igreja e Darwin, (ver bispo de Oxford,  Wilberforce, 1859) choveu aranhas no interior de Minas Gerais e um raio, num dia tropical de sol, fulminou duas mulheres (a mãe e sua filha) nas cercanias de um vilarejo paulistano... 
Como o padre Quevedo (aquele parapsicólogo madrilenho/brasileiro que dedicou sua vida a desmascarar os entortadores de garfos e a desvendar muitos outros tipos de charlatanismos havia acabado de morrer) e o João de Deus esta preso, os cientistas foram logo convocados para dar explicações aos fenômenos, antes que os fanáticos começassem a clamar e a gritar pelas ruas que os dois acontecimentos seriam  uma continuidade das 10 ou doze pragas lançadas (ainda antes da história) lá sobre os ignorantes e miseráveis panteístas egípcios... e que os dois fenômenos eram  uma evidência mais do que clara de que os dias do Juízo Final estariam próximos...

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/01/10/interna-brasil,730142/fiquei-espantado-diz-menino-que-gravou-chuva-de-aranhas-em-minas.shtml


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

O mendigo K, as passarelas subterrâneas e os impactos da volta...

"... Et comment les Brésiliens se mettent-ils, sans se bruler des charbons ardents dans la bouche...?"
Gaston Bachelard 
(IN: La psychanalyse du feu... página 66)

Conversando com o Mendigo K. que esteve por alguns meses no exterior ouvi o relato daquilo que é mais impactante quando se volta:

Em primeiro lugar: O sucateamento geral de máquinas, de prédios, de ruas, de escolas, hospitais, ônibus, portas, praças, botecos e até mesmo das pessoas. A fala dos administradores da cidade e dos próprios jornalistas que esta religiosamente viciada e centrada na idéia e na filosofia doentia da remediação. Remediar é o verbo predominante! O porvir parece não estar na pauta de ninguém. Os postes seguem cheios de gambiarras e o asfalto das ruas continua e continuará por muito tempo, apesar dos argumentos em contrário, sendo de dois centímetros e não de dez... Para durar até o próximo período de chuvas e não pelos próximos cem anos. E quem visitar a antiga rodoviária (no Plano Piloto) lá pelas 11:00 horas terá certeza de que o Renascimento ainda não chegou por aqui. 
Por quê se pensa e se age assim? Me perguntava no meio da conversa e, diante de meu silêncio, ele mesmo respondia: Por um transtorno de personalidade somado a um sentimento de párias. 

Segundo: A pantomima relativa às passarelas subterrâneas aqui de Brasília que vem há anos evidencia essa patologia: No mínimo há dez anos planejam torná-las minimamente dignas. Já contrataram arquitetos, designers, artistas, decoradores, padres, pastores, músicos, gurus, e até algumas cortesãs para aconselhamentos mais íntimos... E, como dizem os espanhóis - no pasa nada! Tudo continua igual, isto é: seguem como mijadores e cagadouros de transeuntes, de indigentes, de ratos, de cachorros e até mesmo de turistas... (fotos abaixo feitas há meia hora). Só mesmo os potencialmente suicidas se atrevem a cruzar por uma delas depois que o sol se foi... E mesmo assim o fazem com um canivete aberto e disfarçado no meio de um jornal... Qual é a causa? E ele mesmo respondia: uma burrice crônica que afetou o sistema nervoso central.



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Terceiro: É impressionante constatar que a arquitetura de Brasília (tanto dos prédios comerciais como dos residenciais) é idêntica ao que há de pior nas periferias e guetos das cidades européias. Tudo feito para albergar provisoriamente pessoas desamparadas, desempregadas, imigrantes, marginais e fodidos daqueles anos 50, 60. O Sr. Le Corbusier e o Sr. Niemayer deveriam ter tido tempo para prestar contas não apenas aos proletários, mas também à classe média fajuta que perdeu parte da vida enfiada nesses cortiços... 
Outra coisa que chama verdadeiramente a atenção quando se volta são as mulheres, principalmente as de uma determinada instituição estatal que visitei no dia de minha chegada. O investimento que elas vem fazendo no tamanho das tetas e das nádegas é quase inacreditável. Qual é, afinal, a fantasia que  empurra essas idiotas para esse bizarro lugar? Umas inclusive, levam os celulares nos bolsos traseiros para dar ainda mais volume aos famosos glúteos... 

Quarto:  Para quem viveu um bom tempo no exterior como um Zé ninguém e como um  bundão anônimo, os flanelinhas e outros malandros que ficam por aí (com a cumplicidade das ditas autoridades e do Estado) extorquindo nas ruas e nos estacionamentos dão ao sujeito que volta até um certo fôlego quando, no processo de extorsão o chamam cinicamente de doutor, de chefe e, algumas vezes, até de comandante...
Posso cuidar de seu carro, doutor? Vamos lavar, comandante? E aí chefe, posso vigiar?

Quinto: A obsessão por automóveis é visível aqui pelos 'pobres trópicos'. Para ir até a esquina é necessário ir de carro. O sujeito sente que não existe se não tem um carro, ou dois, ou três... Ir a pé até a esquina é quase uma humilhação e pensar em transporte público quase uma afronta e um delírio... Curiosamente, nos países desenvolvidos se anda confortável e soberbamente em transporte público enquanto em países miseráveis e aos pedaços é necessário ter uma merda dessas estacionada em frente a casa, tirá-la da garagem cinco vezes por dia, aprumar o chapéu, colocar o braço esquerdo para fora da janela, ligar o som e deixar baixar o espírito de porco junto ao espírito de otário... 

Sexto: Na política, cada governo que chega demite centenas e milhares de chupatintas entronizados pelo governo anterior.., mas não, como se quer insinuar, para 'moralizar' ou pensando no PORvir da pátria, mas porque se precisa do lugar, da vaga e da gratificação para os, agora, seus chupatintas...  Aliás, no serviço público, por mais consciente que o sujeito seja, é impossível não vir a tornar-se um chupatintas. Para mudar uma cadeira de lugar, para levá-la da sala A para a sala B são necessários, no mínimo, seis meses de memorandos, ofícios, reuniões, consultas aos barnabés já aposentados, ao Tarôt e à Bíblia, brigas internas e etc. Quê miséria! e que neurose circular!!... Mas, mesmo assim... la nave va... (para o abismo!)