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"Mais vouloir imposer sa verité aux autres, voilà le despotisme!"
T. Szasz
Hoje, domingo, 05 de março (dia em que nascia Rosa Luxemburgo) encontrei o mendigo K. procurando moedas ali num parque onde ainda ontem um bando de bobalhões passou a noite pulando, se apalpando e gritando sob a neurastenia carnavalesca... Quando me viu ficou visivelmente intimidado, retirou compulsivamente do bolso dois pedaços de jornal onde num estava a foto de B.C. quando ainda tinha uns 30 anos e no outro, também referente a ela, uma foto bem mais recente. Exibiu-me as duas, uma ao lado da outra e vociferou com raiva: Veja que desgraça! Que desgraça que é a velhice!
Tomado de surpresa prestei atenção nas duas fotos: numa delas B.C. aparecia linda, sorridente, os olhos encantadores, a pele exuberante, as tetas querendo escapar pelas brechas da camisa, os lábios tentadores, os cabelos trêmulos ao sol e ao vento que parecia surgir do mar... A outra se tratava dela já na atualidade. Já sem atributos, com toda aquela beleza desfeita, as bochechas e a papada visivelmente afetadas pela força da gravidade, as pálpebras tapando pelo menos a metade da córnea, os lábios tortos, o olhar obscurecido por uma raiva ancestral... como duas fontes vazias... e a pele... Bem,... um horror...
Balançava as fotos diante de meus olhos esbravejando cada vez com mais fúria: Veja que desgraça! Veja que desgraça! Deus? Ateísmo? Não basta ser ateu. É preciso ser antiteísta!
E concluiu: entre as três principais desgraças da vida: (envelhecer, adoecer e morrer,) a primeira é a mais vil, vingativa e canalha de todas...
Sempre fui um porra louca do caralho. Pelo menos quando for velho (a gente sempre sobrevive aos trancos) vou poder rir um pouco de pelo menos jovem ter desafiado essa puta (no mau sentido da palavra) da vida!
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