No princípio deste mês todo mundo viu o escarcéu que a mídia fez com o "Mendigo poeta"que uma boa samaritana resgatou das fétidas ruas de São Paulo onde o moço vivia há mais de trinta anos sabiamente administrando seus jejuns, suas insônias e seus temores sem grandes escândalos. Por seus rabiscos dá para deduzir que não é lá um Heine e nem um Strindberg, mas o espírito filantrópico dominante com o pretexto de que a família é sempre o melhor lugar do mundo achou melhor arrancá-lo do anonimato e devolve-lo para suas origens e para as neuróticas tertúlias das 17:00 horas, mesmo correndo o risco de interromper e mudar definitivamente seu destino de "poeta maldito"para o de petimetre das 17: 00 horas.. Não é necessário voltar a demonstrar que o abismo existente entre um homem da rua e um "bom burguês"é intransponível, independentemente dele ser um poeta ou não. Aliás, ultimamente, quando me falam em poesia penso logo naquela crítica de Fialho D'Almeida: a poesia como uma doença de pele recolhida. "meu cãozinho não parava de latir. Dei-lhe um purgante e se acalmou. Eis aí os inconvenientes de se não dar sal amargo aos bacharéis..."
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