[A soma de barulho que uma pessoa
pode suportar está na razão inversa de
sua capacidade mental...]
A. Schopenhauer
Duvido que exista por aí alguém que não dedique o mais profundo de seu ódio, em primeiro lugar à britadeira e em segundo à maquita. Como é possível que 2283 anos depois de Epicuro, que 1948 anos após Sêneca e que passados 180 anos da Revolução Industrial ainda existam essas duas máquinas terríveis, barulhentas, turbulentas, estrondosas, ensurdecedoras e enlouquecedoras? E prestem atenção com que sadismo o sujeito que as está manejando aperta o botão de ignição quando vê você se aproximando desconfiado. Finge que a obra está parada, que a peãozada saiu para o almoço, que não há eletricidade no momento etc., e quando percebe que você já desativou seus instintos pressiona o ON.
Se a maquita, além do ruído infernal produz lascas de cerâmica e uma poeira microscópica que vai diretamente alojar-se nos brônquios e nos alvéolos da cidade inteira, a britadeira faz tremer os ossos e as estruturas dos prédios, lança cacos de meio-fio, de cimento e de pedras para todos os lados e praticamente implode os tímpanos e os nervos auditivos de qualquer terrestre.
E veja que ironia: só quando escrevi esta última frase é que me dei conta que dentro de nossos ouvidos existem três ossos que se chamam, sabe como? Martelo, bigorna e estribo... Putz! Sejamos realistas: tanto nosso corpo como a modernidade são fraudes e não há salvação! Ah!, quer saber o que é a modernidade? "É o momento em que toda puta pode dizer: eu trabalho e todo trabalhador: eu sou uma puta!"
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