De
vez em quando costumo passar numa lanchonete fuleira que funciona dentro de um
mercado só para tomar um suco e comer um enrolado de tapioca com queijo, banana
e canela. Hoje, lá pelas 18:00 horas, não sei por quê cargas d'água, o ambiente
parecia um asilo ou uma enfermaria. Numa das cinco mesas estava uma senhora com mais de 70,
praticamente entubada, os olhos fixos no teto, com dois moços, possivelmente
seus filhos, que a alimentavam por um tubo... Na mesa dos fundos, numa cadeira
de rodas, uma anciã, cuidada por mulheres
jovens, parecia ter tido um derrame e permanecia com os olhos semiabertos, a
boca torta e imóvel. Outra senhora, agora um pouco mais jovem e claramente afetada
pelo Alzheimer ou por outra demência qualquer, ia e vinha sorridente, de uma mesa a outra, falando bobagens e sendo
seguida de perto por seu marido, com quase oitenta que, apesar de enxergar mal, ia implorando desculpas aos que por ela eram abordados...
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Que horror resmungou a moça do lado! Logo hoje, no dia internacional da mulher!
Quando
percebeu que a mim também aquela cena não havia passado despercebida, foi impulsivamente divagando:
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Como perguntaria Calvino: será que essa longevidade só pode ser paga com a morte da alma?... Não, não quero ficar assim! Não quero chegar a isso! Por favor! Peço diariamente ao
meu sistema nervoso central que me poupe, que não me deixe passar por isso!!!
Concluiu a frase visivelmente abalada e se retirou. Fiquei
ali por mais uma meia hora, com minha tarde de sexta-feira praticamente
arruinada, entregue a mil conjecturas e àquele espetáculo absurdo, covarde e
estúpido da irreparável condição humana.
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