quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

E o Senhor?, continuaria dormindo... ou rindo???


Se um "ser" de outro planeta, de outra galáxia, de outra constelação ou de qualquer outro lugar do universo, pousasse na terra nestes dias e prestasse atenção ao que está acontecendo no Vaticano, não teria dúvidas de que havia aterrissado numa colônia manicomial ou, no mínimo, num pátio parecido ao do antigo hospício de Barbacena.
Que linguajar volátil e sem sentido! Estão falando de quê, de quem e para quem, afinal, aqueles homens vestidos de mulheres e com os tapa-carecas de judeus? Seria um simpósio geriátrico ou um conclave de dementes?

"Deus estava dormindo!"; "Deus estava naquela barca!"; estarei próximo em oração!, sejam plenamente dóceis à ação do Espírito Santo!, a igreja é um corpo vivo!, a igreja está no mundo apesar de não ser do mundo!, cumpriu-se o tempo de Deus!, o advento de novos céus e de novas terras!!!........”

-      O quê é isso? Quê loucura é essa? De onde provem esse palavreado e essa linguagem de bêbados? Onde está a fronteira entre a razão e o balbuciar delirante? Entre o Verbo e a verborragia? Qual a importância desse museu de metáforas? Desse exagero de esoterismos? Dessa cascata de signos metafísicos?... Dessa espécie de poesia transfigurada??? 
Ah., quantos séculos devem ter sido necessários para tornar a plebe cega, insensível e indiferente ao ridículo!!! Quanto tempo e sofismas devem ter sido usados para transformar o mundo nesta espécie de aldeia refratária às idéias e à dignidade! Ou, será que, como diria Elias Canetti: está se combatendo a dissimulação do inimigo com a própria dissimulação?
Enfim..., todo mundo sabe que a questão é física e não metafísica... e que é por de baixo das batinas de seda e por dentro das cuecas desses cínicos que está a única e verdadeira razão de todo esse lero-lero e de todo esse escarcéu... Só que os beatos e as beatas fingem que não sabem...

Vargas Vila, que viveu alguns anos próximo àquele museu de horrores, escreveu: “A virtude cristã é uma virtude de escravos. O cristianismo que prostituiu todas as artes, não conseguiu criar nenhuma. Toda a estatuária cristã não produziu uma Vênus de Milo e nem sequer uma Vitória de Samotracia. Toda a pintura cristã, desde Rafael até Puvis de Chavannes, não serve senão para fazer a humanidade sentir a ausência insubstituível de Fidias e de Polignoto. Os escravos e os monges que fundaram essa religião de escravos e de mendigos não se conformaram com ignorar a arte, senão que a castraram. E fazendo de Apolo, um Orígines miserável, e dedicando-se a contrafazer artistas, povoaram de eunucos as galerias de seus museus e o coro da Capela Sixtina. E o mundo, mergulhado no desastre, ante o naufrágio da beleza, espera. Espera o quê? A morte de Roma e a ressurreição de Atenas...”

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A idiotice do eterno retorno...

Quando estou de folga gosto de ficar passeando pelos labirintos e ali entre os imensos blocos de concreto da universidade e procuro fazê-lo com um primo do mendigo K., que estudou por lá até ser jubilado e que conhece todo mundo, desde os professores contemporâneos até os das antigas gerações... Muitos, apesar de aposentados, circulam por aqueles espaços, arqueados sob o peso dos anos e das doenças. Vão distraídos, os olhares cravados no piso como se estivessem no auge de uma fórmula ou de uma reflexão imperdível... Mas logo um degrau ou a gritaria de uma turma os trazem de volta. Olham longamente para todos que encontram como se quisessem ser reconhecidos, identificar alguns de seus ex-colegas ou de seus ex-alunos... E seguem sua marcha na mais triste solidão, quase pagando para serem ouvidos por quem quer que seja, sem conseguir agudizar novamente seus desejos.. Qualquer um dos odiosos assuntos domésticos do passado, agora é digno de uma meia hora. Passou o tempo das grandes conferências, das aulas magnas, das recepções a Chomski, dos poemas de Maiakowski, das evocações de Marx ou de Lacan... Só sobraram verdadeiramente algumas centelhas de melancolia e algumas lições de abismo... O primo do mendigo K., cochicha de meu lado esquerdo:
  
-Tá vendo aquele velho que vem ali se arrastando com aquela bengala?, foi um dos fodões da sociologia. Traduziu Adorno e benjamim... Aquela senhora que cumprimentou o pipoqueiro e que estava com um braço na tipóia, foi quem trouxe Skinner para a universidade... A nota fúnebre daquele mural é de um temido doutor do Direito Penal... Aquele outro que atravessava o estacionamento apoiado em sua neta, foi a vaca sagrada da engenharia... Vem por aqui de vez em quando porque diz ter nostalgia por essas colunas e por estas salas escuras arquitetadas pelo defunto Niemayer...

Os alunos passam em bandos com as mesmas posturas infanto-juvenis dos secundaristas, enquanto por aqui ou por ali se move lentamente uma cabeça branca ou uma careca reluzente. Quando dois das antigas se encontram, intercambiam breves informes como se ainda estivessem na ativa, interessados pelos destinos do mundo e como se suas opiniões ainda valessem alguma coisa. No auditório tal haverá uma conferência do fulano de tal? Quem é? Ah, é!? Mas não é um revisionista de Marx! Uma reunião de arquitetos! A missa de sétimo dia do doutor de tal... E o novo plano de saúde?... Brasília terá uns vinte congressos neste meio de ano!.. Ah é!? Sem continuidade, sem interesse e sem eco, se despedem e seguem sem rumo. Ir para o sul ou para o norte dá no mesmo... O sol já se desloca para o ocaso... Mas, ir para casa fazer o quê? A mulher já morreu e os filhos migraram... Alguém vem oferecer-lhes um livro. De graça, de um ex-professor. Um livro? Aceitam o presente, sem entusiasmo e como se resmungassem a frase de Vargas Vila: ah, a velhice livrou-nos de duas de nossas maiores paixões: as mulheres e os livros! Impossível voltar a pensar na sociologia, na engenharia, na literatura, em traduzir um poema do grego. Aliás, o livro ofertado foi o de Emanuel Araújo, titulado: Escrito para a eternidade. Mas como interessar-se pela literatura do Egito faraônico com os reservatórios de testosterona vazios? E depois, tudo mudou, mas tudo continua igual! Os trinta e tantos anos de cátedra parecem ter sido inúteis e em vão. Tudo segue igual. A sociologia foi domesticada pelos contracheques, quem construiu verdadeiramente a cidade foram os pedreiros analfabetos, as aulas de Lacan foram substituídas pela gritaria dos pastores... Livros? Sabem que existem aos montes e por todos os lados! Muita merda empilhada por aí nas garagens... cada narcisista publica o seu e o considera a última maravilha do mundo... Todos os alunos potencialmente revolucionários se tornaram funcionários públicos e a essa hora já estão em casa brincando no facebook... A tarde vai invadindo os paredões das faculdades, os vendedores de porcarias vão fechando seus negócios. Nos estacionamentos, os motores dos carros da alunada começam a rugir... Ninguém mais vem às aulas a pé, de ônibus, de bicicleta, de sandálias, os cabelos tresloucados, com uma obra de Malatesta sob o braço como nos tempos passados... tempo em que alunos e alunas, professores e professoras “sarreavam” nos intervalos. Agora, os cânones são outros, o que se vê são meninos agarrados com meninos e meninas agarradas com meninas... Professores agarrados com professores e professoras agarradas com professoras...
Os velhos e antigos mestres não escondem a exaustão... apesar do teatro de pertenência, parecem desejar morrer, cair fora, acabar... vão sumindo sozinhos no meio das hordas juvenis, como sombras. Por mais que se quisesse, não há uma história real ou uma mágica qualquer que possa resgatar suas aulas magnas... a excitação de uma nova teoria da linguagem ou dos cromossomos... No meio de seus passos só uma noite quase escura caindo sobre toda a falácia do pretenso conhecimento do mundo...

Concierto de Aranjuez...

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A CASA DA MÃE JOANA... ALIÁS, DA PAPISA JOANA...

"Desde Pedro, até o papa Bento XVI, houve 265 pontífices, alguns deles grandes e outros nem tanto. Registros indicam que pode ter havido também uma pontífice, uma mulher, a papisa Joana, que disfarçou-se de homem por mais de três anos. As fontes oficiais apagaram os documentos que atestariam sua existência.
Entretanto, durante os mil anos seguintes, e até hoje, a procissão papal descreve um desvio conveniente para evitar passar pela rua onde ela foi assassinada. Parece que a papisa Joana estava a caminho de uma função oficial quando, inesperadamente, deu à luz em sua carruagem. Suas vestes papais foram arrancadas, e ela foi apunhalada várias vezes no próprio local, em 858 d. C. Mas os tempos realmente instáveis da história pontifical foram os anos de 882 a 1042, quando 37 papas passaram pelo trono de São Pedro, alguns permanecendo por apenas um mês. Pelo menos 40 pessoas chegaram ao trono papal à custa de subornos e fraudes e conservaram seus estilos de vida aristocráticos, que incluiam acompanhantes e amantes, apesar dos votos feitos ao alcançar o pontificado. Leão V foi papa por apenas trinta dias, em 903, antes de ser encarcerado e torturado. Como demorava a morrer, foi estrangulado pessoalmente por Cristóvão, que então se declarou papa em seu lugar. Mas também seu pontificado durou poucos meses até ele ser decapitado por um padre romano que se tornou o papa Sérgio III. Este foi papa durante sete anos e ficou célebre por governar por meio de uma "pornocracia", ou seja, entregando o poder a seu grande grupo de amantes, até o ano 911, quando morreu de sintomas que lembravam as antigas técnicas de envenenamento romanas. Foi a célebre cortesã Teodora quem promulgou a maioria das leis e normas durante o pontificado de Sérgio e quem assegurou que sua filha, uma das amantes dele, tivesse um filho que mais tarde, em 931, foi ungido papa João XI.
Teodora morreu de câncer antes de ver seu neto - o filho de João XII - tornar-se papa aos 19 anos, em 955. Mas também ele acabou tendo problemas por dormir com uma amante de seu pai e castrar diáconos." (Texto do historiador norte americano Michael Largo)

Em outras palavras: só gente fina... e todos representantes de deus!!! 

 


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cai Guo-Qiang e o mendigo K...

Acabo de encontrar o mendigo K nos arredores de onde está instalada a exposição do chinês Cai Guo-Qiang, estava à sombra de uma dessas árvores demoníacas do cerrado folheando um livro de umas duzentas e tantas páginas de Ítalo Calvino, titulado Eremita em Paris.  Como sabe que sou semialfabetizado aproveitou para questionar a mistificação que se fez desse escritor com sua inconfundível dialética italiana e, revelou-me uma curiosidade: Calvino nasceu em Cuba, num vilarejo chamado Santiago de Las Vegas... 
- Que tal a exposição do china? - perguntei-lhe.
- Mais uma bobagem - respondeu, e aproveitou para fazer o que mais sabe, criticar: Cada dia estou mais convicto de que para ser artista é necessário ser meio autista! Imagine quanto devem ter gasto para trazer essas porcarias da China para cá... E ainda estão chamando o cara de Da Vinci do povo! Qualquer mentecapto faz isso aí se tiver uma oficina nos fundos de casa... Nunca imaginei que fosse chegar aos 60 tendo uma visão tão real e tão aterradora do mundo e das manadas! E o pior, é que sempre foi assim. A essência não se altera! Veja a putaria no Vaticano. Desde que foi fundado nunca deixou de ser uma espécie de prostíbulo. E, o mais bizarro, é que isso em nada alterou a "fé" dos beatos ao longo desses séculos. Continuam lá, os joelhos calejados, as pálpebras caídas sobre as córneas, a "alma" dando piruetas no meio dos abismos... Observe, como, no fundo, no fundo, todo mundo é amoral, não está nem aí para nada! Todo mundo finge acreditar nisto ou naquilo, ser desta ou daquela ideologia, deste ou daquele time, mas é tudo teatro para não fazer contato consigo mesmo... Veja o futebol! Noventa por cento da vida dos sujeitos, mortos de fome ou morbidamente saciados, gira ao redor dessa idiotice... E se agrava e se agrava... Veja a política! Tanto se lutou para sair de uma ditadura fardada, opressora, vil e autoritária, e agora estamos puerilmente caindo numa outra, civil e tão abjeta como aquela... Os bandos que acossaram a menina cubana nesta semana estão aí para ilustrar... E Veja os sessenta canais de TV... absolutamente só merda condensada, propaganda de merda superfaturada, ideologia de merda sobre as donas de casa solitárias e vulneráveis... E a saúde mental, então! Quem viu na semana passada a quantidade e o relato de doentes mentais confinados em prisões comuns ou em "depósitos de loucos" ficou indignado. Mas é só indignação e a indignação, neste estágio de demência generalizada, não serve para nada!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

FILICÍDIO - pai come criança ainda viva...




Aconteceu numa província da Nova Guiné, mas é tão impactante como se tivesse acontecido logo ali atrás do Congresso Nacional ou na portaria de nossos prédios. O bebê tinha uma semana de vida e foi literalmente devorado pelo pai diante de dezenas de espectadores... O mais legítimo e brutal dos filicídios! Nem as imagens de Goya, sobre Saturno, devorando os seus, são tão chocantes como esta... Sem nenhuma frescura clerical, como não indagar-se: quê coisas nossas devem ainda estar desgovernadas na essência desse homem, e quê coisas desse homem devem estar ainda apenas parcialmente sublimadas em nós? 
Por que um bebê mutilado nos causa tanto horror, mas um coelho, um avestruz ou um leitão não? Quanto tempo foi preciso para sublimar o canibalismo e para conseguir matar e comer os bebês de outras espécies sem o mínimo de desespero e sem a mais mínima culpabilidade? 
E não pensem que essa é uma coisa que só acontece lá na Nova Guiné, ou que a Guiné é terra de outro mundo! Não! Com apenas quinze horas de voo podemos aterrissar no quintal desse homem... 
Abram as persianas, joguem no lixo os óculos escuros e tomem consciência de que por aí, na retaguarda das aparências e por detrás dos esquemas convencionais (apesar das estatísticas) existem diversas guinés, cada uma contabilizando, ocultando ou negando os seus próprios horrores...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

QUER SENTIR VERGONHA E PENA DE SI MESMO? Assista isto... (do jornal italiano La Stampa)

Domitila barrios & Yoani Sánches...

No princípio dos anos 80, todos que se diziam "esclarecidos" e "revolucionários", de professores a militantes baratos, leram e se solidarizaram com a boliviana Domitila Barrios de Chungara, com seu livro: Se me deixarem falar, texto onde ela denunciava quão terrível era a vida, em especial a dos mineiros daquele país. Ontem, paradoxalmente, a blogueira cubana Yoani Sánches foi maltratada ao pisar no Brasil, onde pretende - como Domitila - denunciar a situação sociopolítica daquela ilha. Que mente esquizo e discriminatória a nossa!? Quando é que passaremos a aprender semiótica, nem que seja plebeia, nas escolas?

O mais curioso é que nas últimas décadas (depois da lendária anarquista Emma Goldman e da famosa comunista Rosa Luxemburgo), não lembro de ter ouvido falar de alguma outra mulher "dissidente", seja no mundo capitalista, comunista, misto, evangelista ou ilusionista, (além das do Big Brother) que tenha aparecido por aí disposta a contestar abertamente algum regime ou alguma coisa... Daí aumentar o absurdo e a contradição em querer sufocar e calar a boca logo da "companheira" cubana Yoani. Onde estavam as feministas libertárias e as professoras fálicas, defensoras da liberdade de expressão, que não compareceram à Feira de Santana para garantir-lhe o direito da palavra? 

Claro que Yoani não é nenhuma incendiária, mas mesmo assim, com seu ar de freira carmelita, parece ter mais huevos que os "camaradas" que tentaram intimidá-la e silenciá-la. O mais curioso é que nem Fidel, nem seu irmão e nem o povo cubano precisam, evidentemente, dessa tola "solidariedade" tupiniquim que, ao invés de agregar algo, só fragiliza e obscurece ainda mais a ilha. 

Mesmo sabendo que a juventude-em-si é quase uma doença e que uma juventude-sectária é uma doença e meia, mesmo sabendo que partidarismo não tem muita diferença de religiosismo, me vem uma ânsia imensa de saber: de onde surgiu o encanto e o deslumbramento que esse bando de defensores e de militantes alimenta pelo regime da pequena ilha do caribe? 

Claro que quem já bebericou uma garrafa daquele rum e fumou meia dúzia daqueles charutos numa das sacadas do hotel Havana... ah., esse não tem como olvidá-la e muito menos esquecê-la!!! 
De uma coisa podemos estar certos: se Yoani Sánches permanecer no Brasil por mais de uma semana, tempo mais do que suficiente para perceber a superficialidade político-intelectual e a zona generalizada em que estamos metidos, de tão patético que isto lhe parecerá, pode até ser que reconsidere e que até amenize as críticas à sua singela, precária e idílica terra...  

 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Radialista do Hades...

Brasília, talvez seja a única cidade do mundo a ter uma rádio FM, em funcionamento, com um locutor do além. Morto há três ou quatro anos (?) seu antigo diretor e locutor continua diariamente anunciando seus pretéritos repertórios musicais: tangos, tarantelas, um ou outro tchá tchá tchá, algumas clássicas, óperas, bossa nova e etc. Não tenho nada contra, pois meu gosto musical de vez em quando até coincide com o do defunto, mas o que é estranho é... Se naturalmente já tenho uma tendência a achar que quem realmente comanda a vida dos vivos são os mortos, quando ouço sua voz lá pelas 18:00 horas, surgindo do vazio, do nada, do Hades... fico ainda mais convencido da pertinência de minha tese... 
Naquele clima meio fúnebre e meio melancólico, sempre aproveito para ficar imaginando a revolução que a fita cassete e depois os gravadores mais modernos devem ter causado no mundo do narcisismo, da música, dos recitais poéticos, da política e até do espiritismo, quando apareceram. Se antes tudo deveria ser ao vivo, meio improvisado, sem cortes, sem arranjos e, por isso mesmo, cheio de mentiras, de tolices e de gafes, depois do invento dessas engenhocas, passou-se a gravar e em seguida a ouvir, revisar, editar e controlar a bobageira, o tom do discurso, a voz do cantante, o som do violinista ou a barulheira da percussão (em outras palavras: a remediar e até a falsificar a realidade) mesmo com seus atores já apodrecendo no limbo ou na eternidade... Digamos que foi um tônico egótico para a espécie! Um bálsamo para a amnésia psicogênica, uma pá de fertilizante sobre a vaidade humana! Enfim, um passo importante para a ilusão de permanecer e de durar que sempre alucinou essa efêmera turba.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Malandros, costumamos turvar as água para dar impressão de profundidade...

Há quase meio século, num daqueles finais de tarde estupendos da Cidade do México, ao ouvir o professor S. Ramirez levantar a hipótese de que um dia... no futuro... no porvir... talvez... todas as artimanhas e a canseira da psicanálise pudessem vir a ser substituídas por uma simples pílula, fiquei mais do que indignado. Achei aquilo uma heresia cartesiana, uma afronta ao velho Freud e a todas as trupes dos Institutos Internacionais, uma ingenuidade diante da complexidade e do subjetivismo a que estava exposto o SER humano, bem como uma dessacralização de todos os idealismos, do mais revolucionário ao mais doméstico, da idéia de irmandade universal, da afetuosidade, enfim, de todo um projeto de mundo e de vida romantizados.
Hoje, começo a ter dúvidas sobre nossa famosa "complexidade", sobre nossa mística "profundidade" e até mesmo sobre nossa tão badalada "subjetividade". 
Olhe ao seu redor, revise seu dia-a-dia e sua história.... Transite sinceramente por seus supostos sentimentos... Talvez sejamos bem mais rasos, simples e elementares do que gostamos de pensar... uma pobre máquina, um invólucro mais do que previsível e movido basicamente a fluídos e a hormônios. A hipófise, a tireoide, as paratireoides, o pâncreas, o córtex das suprarenais, os testículos, os ovários etc... Aí estariam as usinas e os geradores de tudo, daquilo que pensamos, daquilo que sentimos, daquilo que tememos e até daquilo que desejamos? Desses combustíveis ainda tão pouco conhecidos é que nos viria desde a cólera, a chatice, a vaidade e a infelicidade, até as bravatas da paixão, da simpatia, da paciência, do bom humor e da felicidade? Quê pobreza e quê decepção! E digo isto pensando, principalmente, na mudança comportamental e afetiva de meu cachorro depois de passar a ingerir uma minúscula cápsula diária de um dos tantos hormônios mencionados. Passou a ser outro. A inércia foi substituída por uma disposição quase de lobo, o latido, de frágil e sem convicção, agora faz tremer os lustres, as cadelinhas que ignorava, agora quer cavalgá-las a qualquer preço... Anda rápido, desce as escadas em disparada, está mais atento ao mundo e cheira erva por erva como se cada uma delas pudesse vir a revelar-lhe um mistério ou se, através de suas narinas, pudesse decodificar ali algo até então nem sequer imaginado...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A decadência dos carcarás...

Quem transitar pelo campus da UnB, a qualquer hora do dia, possivelmente irá deparar-se com uma cena pra lá de desoladora: uma família inteira de carcarás, uns sete ou oito, pastando ou ciscando nas lixeiras como verdadeiras galinhas chocas, num verdadeiro estupor... Só falta cacarejarem! Logo eles que, "parentes" longínquos das águias e dos falcões, sempre foram mencionados tanto pela literatura como pelos sertanejos, como o verdadeiro terror de outras espécies... Logo eles a quem dediquei Entre os gritos do carcará e a desfaçatez da raça humana!, e que justificaram minha viagem de vinte dias pelas margens do Rio São Francisco, desde a fonte, nas montanhas de Minas, até a desembocadura no mar das Alagoas... 
Quê triste espetáculo o da domesticação!!! O bico já não é como navalha, o solidéu no alto da cabeça nem é mais tão preto, as penas meio arrepiadas, os piolhos quase visíveis, o olhar morno da anemia, o passo quase deprimido esgaravatando sobre restos de porcarias acadêmicas e domésticas... Nada neles lembra aqueles selvagens e esbeltos predadores, sempre de guarda, com as garras cravadas sobre os botões espinhentos e vermelhos do mandacaru... sempre vibrantes, olhar hipnótico, as asas típicas de combatentes... dando rasantes aqui e acolá sobre os inofensivos bezerros recém nascidos ou então, se atracando ferozmente com uma jararaca na poeira dos barrancos...



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Meu lhasa apso e a renúncia do Papa...


Meu cachorro, que nem mexeu as orelhas ouvindo o discurso de renúncia do Papa, quando lhe encostei essa foto no focinho, ficou visivelmente inquieto e assustado... Quê horror! Uma religião que conseguiu driblar a ingenuidade e a superficialidade do mundo durante tanto tempo basicamente por seu poesietório e por sua estética virginal, de repente, se deixa fotografar assim, quase como num ritual de vodu ou de magia negra! Que os litúrgicos, os exegetas e que outros palermas de plantão olhem bem para a atrocidade desta imagem!!! Quando é que essa seita substituirá o homem crucificado e sangrento por um símbolo vivo e resplandecente???
São muitas as especulações sobre a renúncia do pontífice. A senhora do posto de gasolina jurava que foram os gays e os pederastas infiltrados no vaticano que o derrubaram, em função de suas posições muito ortodoxas sobre a libertinagem. O porteiro de meu prédio aposta que foi pura pressão dos defensores da eutanásia. O mendigo K., sempre mais antenado que qualquer outro, não tem dúvida de que o ilustre representante de Pedro nesta imensa terra, deve estar envolvido em algum gravíssimo caso de pedofilia, ou em alguma outra contravenção do gênero, fato que seu antigo mordomo trará à tona em breve etc.,. Outros acreditam que a renúncia está fundamentada num escândalo de ordem 
político-financeira e outros ainda, que tudo não passa da magnânima e suprema vontade de Deus. Sim, Deus, para quem, neste momento de iniquidade global, este mundo, parecido a um rosário turco de putarias, precisaria de um capataz mais enérgico, mais alcoviteiro e mais falastrão. De qualquer forma, esse "abandono de barco" é apenas mais um detalhe do espetáculo terráqueo que está causando inéditas libações e estranhas excitações, principalmente na penumbra das sacristias... Lembrando a Sylvain Tesson: como as torres das catedrais, esse besteirol papal é apenas mais uma variante da fé ou da vaidade dos homens, ou talvez, até mesmo das duas, uma vez que a fé, no fundo, é apenas a vaidade de acreditar que somos a criatura de algum Deus...

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Ahmadinejad, Malafaia & Yoani Sánchez...

Sempre que ouço alguém dizer: comigo é 8 ou 80! Ou então: comigo é no branco ou no preto! Ou ainda: pra mim só existe esquerda ou direita! Penso: pronto, estou novamente diante de um idiota sectário!, pois me parece até um dever civilizatório saber que entre o 8 e o 80 existem outros 72 números, que entre o preto e o branco habitam milhares de outras tonalidades e que entre a direita e a esquerda há um sem número de outras direções... Apesar de termos duas orelhas e apenas uma boca, nossa dificuldade de ouvir continua cada vez mais crônica e a superficialidade continua sendo nossa grife. Preferimos falar do que escutar, contaminar o outro, a qualquer preço, com nossas "teorias" que, quase sempre, estão mais para o lado da crença fútil e da do que da lógica. 
Acabo de receber um "chamamento" das "esquerdas" unidas, para aderir ao boicote que se pretende fazer à Yoani Sanchez, a blogueira cubana que chegará ao Brasil nesta semana. Não gostam dela e a acusam, em outras palavras, de vaca mercenária, agente do imperialismo e etc. A referida repórter é conhecida por fazer resistência ao regime cubano, por denunciar arbitrariedades e por discordar dos rumos políticos da ilha.
Não faz muito, com a vinda do líder iraniano Ahmadinejad, recebi um chamamento da "direita" para boicotar sua visita. Não gostam dele, principalmente depois que confessou querer riscar o estado de Israel do mapa, e defender a tese de que o holocausto teria sido uma invenção e uma mentira histórica. 
Na semana passada, depois que o pastor Malafaia, através de uma longa entrevista, questionou as suposições genéticas e "naturais" da homossexualidade (feminina ou masculina), recebi um chamamento das confrarias gays, lésbicas e etc., para apoiar o amordaçamento do referido pastor e inclusive o confisco de seu diploma junto ao Conselho de Psicologia. 
A quê vulnerabilidade estão expostas nossas "verdades"! Que tendência autoritária e fascista a nossa!!!
Observem como quando a fala de alguém destoa da do rebanho, ao invés de turbinar nossa curiosidade e nossa ânsia de saber, queremos imediatamente subjugá-lo, calá-lo e até decapitá-lo, como se dependessemos para sempre do vazio e da precariedade...
Não lhes parece que seria muito mais saudável e "libertário", nesses três casos, abrir todos os espaços possíveis para que cada um desses protagonistas pudesse expor a fundo e até a exaustão suas teses. Quem é que não gostaria imensamente de ouvir as razões da dissidência da Yoani? Seus relatos únicos sobre o mar batendo de madrugada nas muralhas do Malecón... sobre a vida real na penumbra e na intimidade daquela pequena ilha.., claro que além do bem e do mal, além da cegueira da esquerda ou da direita, além do reducionismo obscurantista do preto e do branco!
Quem é que, depois de mais de cinquenta anos ouvindo os mesmos e tenebrosos relatos sobre o holocausto, não ficaria fascinado ao ouvir alguém tentando demonstrar (ou demonstrando) que foi tudo mentira? Não seria ótimo para a honra da humanidade se tivesse sido tudo mentira? Quais são seus dados senhor Ahmadinejad? Quais são suas fontes e suas referências para tal afirmação? 
E o pastor Malafaia, porque não deixá-lo esgotar sua compreensão e suas hipóteses sobre a "etiologia" da homossexualidade? Que se apoie na Bíblia, em Freud ou em Olavo de Carvalho, tanto faz. Quais são suas referências, seus dados e suas fontes, ilustre pastor Malafaia? 
E aqueles que da plateia tivessem sólidos argumentos, fontes e referências em contrário, poderiam apresentá-las, também até a exaustão... E mesmo que não se esclarecesse nada, pelo menos, com essa praxis, se diminuiria o peso e a arbitrariedade de uma mentira sobre a outra...
Do contrário, não há lábia que chegue e passaremos mais um milhão de anos inutilmente tentando fecundar pedras, apenas eternizando nesta sociedade descaradamente burra e homicida, a mesma guerra de fé, cega e demente, entre bandos... 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Da tragédia... ao xotes do gringo desvairado...

Agora que os mortos já foram enterrados, que a missa eclética de sétimo dia já foi celebrada e que os horrores da tragédia vão passando para o arquivo inútil da história, entra em cena o samba do criolo doido, ou melhor, o (xotes dos gringos desvairados) e a miséria do processo investigativo. 
A responsabilidade é do prefeito?! Ou melhor, de sua equipe! Mas, e os bombeiros? De quem é a real responsabilidade? E os fiscais? E a saúde pública? E os donos? Mas a culpa não seria dos clientes? Não, isso não! A responsabilidade foi dos músicos! Ou do demônio? Dos leões-de-chácara da boate! Do padre que não foi benzer o local! Da Lei das Probalidades! Da bíblia que não previu a catástrofe e até mesmo de deus que poderia ter poupado tanto sofrimento! Ou não? Onde está o alvará? Ora, mas este é falsificado! E a licença? Ah, a Secretaria estava sem papel... E as portas de segurança, e os cadeados, e os extintores de fogo? Mas, e Nietzsche! E as bençãos do Padre Marcelo! Não havia extintores de fogo, mas havia extintores de vidas! Não é a mesma coisa, doutor!? Vamos investigar, doa em quem doer... Diz o governador, que já foi ministro e que ninguém sabe o que poderá ser no porvir... Conivências e subcontratos para todos os lados! Casas e casos de tolerância! Quem são os donos? Mas esses já tinham passagem pela justiça! Quem prescreu-lhes o habeas corpus? Tudo era para lavar dinheiro! Ah bom! Mas e a polícia? E o Papa? O que é afinal uma boate? Uma boate de isopor? E a comunidade o ano inteiro com o rosário entre os dedos? Foi uma fatalidade! Obra do destino! Deus quis assim! Mas por quê deus desejaria assassinar quase 300 adolescentes? E a Santa Maria, por quê não lançou pelo menos um alerta? Lágrimas! Chavões moralistas, socos na parede. Os joelhos calejados! E o governador? Vamos indenizar os familiares das vítimas! Ora, mas isto não é mais uma forma de prostituir ainda mais a desgraça! É evidente que não se chegará a nada! Parole! Teatro! Festival de alcaguetismo! Nenhuma novidade! Vivemos mergulhados num universo sucateado. Faça um teste: abra o catálogo telefônico ao azar e escolha um endereço, uma casa, uma empresa, uma profissão... Tudo irregular! Uma ala foi agregada ao imóvel fora do planejamento, os documentos estão sob judice. Falta isto ou falta aquilo! O próprio dono foi registrado dois meses depois de nascido, o sobrenome saiu errado, e não pode ser corrigido porque o juiz da época não tinha legitimidade... Além disso, tocaram fogo no cartório. Havia um registro na paróquia, mas o padre foi preso por pedofilia e ninguém sabe mais onde está o arquivo. Dizem que o dito cujo foi mandado para um seminário porquê seu pai, bêbado e violento, ameaçou matar não só a ele, mas a seus doze irmão, todos aliás, nascidos contra a vontade da mãe, já que parte das pílulas eram falsificadas... A farmácia que as comercializava estava no nome de um farmacêutico laranja...
Quando levavam o padre para a prisão o carro sucateado da polícia chocou-se com um ônibus clandestino, cujo motorista não era habilitado. Na discussão o policial sacou uma arma (sem registro) para intimidá-lo, mas acabou acidentalmente dando-lhe um tiro na cabeça. Ninguém apareceu para reconhecer o corpo do motorista... E o policial ainda está solto...
Enfim, tudo isso sugere que fazemos parte de uma tribo onde quase ninguém sabe sequer, quem é, realmente, seu avô... e também nos lembra o que escreveu Wilson Lins: “A terra se vinga do homem servindo-se do próprio homem como instrumento de vingança". 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

CURITIBA... 43 anos depois...


Para muita gente esclarecida o que existe de melhor aqui em Curitiba ainda é a Confeitaria das famílias, com suas três portas brancas e seu salão de chá, instalada na Rua XV, 374, e fundada em 1945, pelo espanhol Jesus Alvarez Terzado. Uma xícara de chá de hortelã com um strudel de maçã, lá pelas 17:30, pode ser a penúltima maravilha do mundo...
Cada vez que venho para cá me surpreendo caminhando pelas velhas rotas de outrora, a cabeça no prumo, atento a todos os caminhantes, mas meio temeroso de, de repente, deparar-me com um dos amigos daqueles tempos vindo cambaleante pela faixa dos cegos, meio demente, as mãos trêmulas... Ou então, uma daquelas felizes adolescentes dos cursos preparatórios atravessando a faixa, agora com seus 100 quilos, tateando o mundo com uma bengala de prata...
Fui à Biblioteca Municipal doar um livro, mas estava fechada. Greve dos vigilantes! Sorte que uma bondosa senhora o recebeu pela brecha da porta e até ditou-me a dedicatória que deveria fazer... Notem como as bibliotecas estão sempre em greve! temos alergia a livros! O único que nosso sistema imunológico suporta é aquele de capa preta em cuja página 118 pode-se ler: "Mandará também o sacerdote que se degole uma ave num vaso de barro sobre águas vivas..." Apesar de nos considerarmos cristãos, racionais, isto ou aquilo e etc., somos na verdade loucos por tudo o que pertence ao mundo da magia e do animismo... Aliás, deparei-me com vários jogadores de tarô por aí, um, inclusive, ao lado de  uma igreja e o outro, na entrada da Praça  Osório, ali onde sempre tem alguém queimando fumo e onde existe uma fonte com 6 mulheres abraçadas a peixes que cospem filetes de água...
Minha passagem pelo antigo prédio da Farmácia Steffeld é inevitável. Ainda sinto o cheiro do laboratório de manipulação. Era sempre pela manhã que chegavam os viciados, com suas receitas de psicotrópicos, falsificadas... Anêmicos, trêmulos, em abstinência, com olhar de súplica, aguardavam lá no balcão enquanto, numa mise-en-scène sádica, levávamos a receita fajuta para o velho Oswaldo, que a examinava contra a luz e que tinha um gozo imenso em decretá-las falsas. Corria excitado lá para o balcão pronto para dar um esporro nos farsantes, mas eles, quando o viam, caiam fora em disparada... A família Steffeld foi derrotada pelo tempo... agora, em cada esquina há uma filial do grupo Nissei...
Dois gaiteiros na praça Rui Barbosa, uma polaca com seu leque multicor descendo a Emiliano Perneta e, na Travessa Jesuíno Marcondes, não há mais nem vestígios da boate Kracóvia. Adolescente, morava numa pensão em frente e vivia atormentado pelas ilusões e pelas fantasias daquilo que deveria acontecer em seu interior... Derrubaram também o Colégio Iguaçu. Quando precisei melhorar minhas notas para concorrer a uma bolsa de estudos em Coimbra, a dona G., com seus 90 anos, sem nenhuma cerimônia, transformou-me em minutos de um aluno medíocre num estudante notável...
Pensões: morei numas duzentas! Ainda está lá o pequeno restaurante japonês que servia arroz, ovos, batatas e banana! O Instituto de Educação ainda continua pintado de rosa. Vinhamos para cá nos fins de tarde ver as alunas saírem de mãos dadas com as babás ou com as mães... Mas não pegávamos ninguém! Nossa salvação eram as funcionárias das Casas Pernambucanas, Americanas, etc. De vez em quando acompanhávamos uma no fim do expediente. Os ônibus normalmente iam para o Boqueirão, Bom Retiro, Juvevê... Já era noite. Ficávamos no portão ou no jardim de suas casinhas modestas e sempre fazia frio. Não se falava quase nada. Nossa dialética era só corporal. Lembro que uma delas, filha de uma família ucraniana, empurrava-me para cima de um degrau e deixava instalar meu pobre phalo entre suas duas suculentas tetas, brancas, muito brancas, quase como as nevascas de sua terra natal... Acho que foi nessa época que um escritor daqui publicou o Vampiro de Curitiba. De lá para cá foi mistificado e transformado quase num gênio literário. Pura neurose da mídia e da plebe. Observe como cada cidade tem um, sempre pré-fabricado para turbinar o folclore e a ilusão das letras...
As meninas que ficavam à noite numa esquina da Visconde de Nacar agora, mais do que calejadas, administram carrinhos de pipoca e giram por aqui nos arredores da antiga rodoviária...
Na esquina da catedral duas senhoras vendem tumbas no Cemitério Vertical de Curitiba. No folheto vem esse slogan malandro: "você não compra um plano de saúde para ficar doente, e nem um plano funeral para morrer..." A vendedora chamada A. vai me falando: oferecemos sepultamento, cremação, funeral completo e translado nacional. E mais, somos um dos únicos no Brasil que dispomos de DETECTO-VIDA, um aparelho que fica conectado ao morto por 72 horas e que pode detectar sinais vitais, se for o caso...
Pobre senhora!, talvez ainda não tenha vivido o suficiente para saber que só um trouxa se daria ao trabalho de, já estando lá, fazer algum esforço para voltar ao mezanino deste palco de mesmices e de cafajestices...