Para
escalar a ladeira que leva à igreja de Santa Efigênia - orientava a camareira - é
necessário mover-se como fazem os burros, isto é, em ziguezague. E
completou explodindo numa gargalhada: quem subir até lá sem ter um
infarto do miocárdio e ainda por cima, conseguir ter uma ereção completa nos
dois ou três dias seguintes, pode estar certo de que está livre da indústria
cardiológica e também da indústria do viagra...
Por
coincidência encontrei um primo do mendigo K., nas escadarias de um dos museus
da cidade. Como é de praxe naquela família, estava meio taciturno, com os
cabelos esganiçados e lançando mísseis para todos os lados. Dizia a uma
pessoa jovem que o acompanhava que, no caso da ocupação portuguesa de Ouro
Preto, os índios agiram como "resistência" (se negando a trabalhar para os invasores) e os negros, pelo contrário, como
"colaboracionistas"...
Sem
preocupar-se com a presença do guia, um homem formalmente analfabeto, mas ao
mesmo tempo, uma verdadeira enciclopédia histórico-ambulante, foi torcendo o
nariz e apontando para os objetos sacros do local, para móveis antigos, chicotes,
pinturas da corte portuguesa nas paredes, balaústres, figurantes com espartilhos, bengalas com cabo de prata, oratórios
usados tanto pelos larápios monarquistas daquele período como pela escória que
era mantida nas senzalas... e proclamando: - É preciso livrar o passado e a história de toda essa velharia e de todo esse mofo!!!
Fez um silêncio e continuou: Neste particular, confesso que sempre fui adepto de
Marinetti: [Yo os he enseñado a odiar las bibliotecas y los museos, para
prepararos a odiar la inteligencia... El arte es una necesidad de destruirse y
de desparramarse, gran regadera de heroismo que inunda al mundo. Los microbios
- no lo olvides - son necesarios para la salud del estómago y del intestino.
También existe una especie de microbios necesarios para la vitalidad del ARTE,
prolongación de la selva de nuestras venas, que se esparce fuera del cuerpo, en
el infinito del espacio y del tiempo...]
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Em tempo: no
final da tarde o primo do mendigo K., estava encostado numa das pontes da
cidade e de braços dados com a acompanhante de aluguel que sempre leva nas
viagens. Segundo ele, o custo benefício é muito mais conveniente. Ao me ver,
atravessou a rua apinhada de gente e lançou na minha direção estas duas frases
absolutamente fora de contexto: 1. O
objetivo da vida não é a felicidade! Observe como o sujeito feliz é sempre um
bestalhão... Ou vice-versa... 2. O grande erro de Marx foi ter apostado no
proletariado. Se tivesse apostado na burguesia, o mundo hoje... seria outro!
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