Não sei se sabem, mas está acontecendo em Brasília a Primeira Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Uma réplica da Feira do Livro que acontece por aqui cada dois anos ou anualmente, com a diferença que este ano promoveram também um concurso literário. Por sugestão da editora que vem reeditando meus livretos, enviei meu ultimo para participar do tal Concurso. Obviamente não fui homenageado nem sequer com um ramo de ipê, muito menos com os apetitosos trinta mil que seis outros vivaldinos embolsaram. Oxalá não tenham vindo da contabilidade do Cachoeira!!! Agora que o resultado já foi dado e que vi o nome das “autoridades” que fizeram o julgamento, sentei-me confortavelmente na varanda com um bule de cevada fumegante, mais cinco ou seis tâmaras argelinas e reli alguns trechos de meu pobre livro concorrente (Para antes que a gente vire pó) e fiquei imaginando (em excitação e frenesi) a cara daqueles energúmenos quando o liam, se é que o leram, bem entendido.
“não sou um homem de “premiações”. Não brigo por uma vírgula nem por uma palavra escrita com Z quando as regras obrigam que seja com S. A neurose dos eruditos e dos intelectuais não me diz respeito. Se for necessário, sou capaz de usar meus livros e toda minha “obra” para acender uma fogueira e nela cozinhar um caldeirão de batatas. Não conheço e não frequento a casa de outros marqueteiros, não vou tomar chá na suíte de nenhum poeta aposentado, não troco correspondência pensando na posteridade, não pactuo com bundão nenhum do mundo das letras, não queimo incenso a ninguém e vomitaria se soubesse que alguém, por equívoco ou doença o faz em minha homenagem. Odeio trapacear aos outros e muito mais ainda a mim próprio! Ninguém das hordas de puxa-sacos que proliferam por aí se atreveu até hoje a oferecer-me um “prêmio”, um certificado, uma caneta, um busto de Ruy Barbosa ou de Stalin por alguma bobagem que escrevi. Sabem o que penso disso e sabem também que todo sujeito que é premiado por alguma coisa, principalmente por seu trabalho escrito, é um bosta comensurável, um indigente imoral, um merda idêntico aos jurados que o premiaram”(p.43)
“Este palavrório não é necessariamente literatura e nem uma mito poética, muito menos ciência e muito menos ainda prosa poetizada. Apesar de albergar uma discreta hipomanía, – repito – não anseio por nenhum prêmio e nem mesmo por algum tipo demagógico de reconhecimento. O truque de besuntar-se mutuamente, dissertar e de especular sobre determinado assunto como se quisesse reinventar a pólvora, provar ou insinuar para uma plateia imaginária que se está além, muito além dela, entre nós não funciona, certo?”(P.57)
“São uma espécie de melros ensandecidos que recordam as aves totêmicas de Caim em fuga de si mesmas e de suas encantações voando neuroticamente ao redor de seus poleiros. Prestem atenção como – na essência – as coisas não mudaram muito ou quase nada da época do neolítico até hoje. Em que te diferencias dos selvagens irmão cara pálida?” (p. 79)
“No início da escrita apenas um ou outro sábio se atrevia a registrar com um espinho, com um fiapo de bambu e até mesmo com sangue suas ideias, seus sentimentos e seus conceitos numa pele de porco, numa pedra ou num pedaço de osso. E o fazia com o maior pudor, sigilo e com a maior cautela, pois sabia que seu gesto poderia definir o amanhã da turba ignorante, genocida e iletrada. Hoje, a banalidade fincou seus alicerces no mundo das letras. Qualquer bobalhão pode encontrar um editor em cada esquina para editar sua obra, mesmo que ela seja, na melhor das hipóteses, apenas medíocre e irrelevante. Fútil década dos Best-sellers de setecentas páginas, dos poeminhas oligofrênicos e principalmente das consentidas biografias de bandidos.”( p.140)
“As elites vadias e gatunas que não se cansam de falar em democracia, em confraternização e de “lamentar o mal” precisam compreender que é hora de começar verdadeiramente a praticá-lo contra si mesmo. Que é tempo de implodir a obra! O jardim calcinado! O porco gordo arquetipal! As banhas pútridas que cobrem os ossos, o homúnculo contrafeito, a mentalidade zebu, a buona vita reles e ordinária que – como dizia Borges – não é mais do que uma superstição estatística.”(p.p. 152/153).
Sinceramente, leitor, você como membro de uma panelinha de júri, premiaria uma "obra" desse calibre??? Daria os R$: 30.000,00 a seu autor??? Quando poderia fazer (impunemente) essa mesma gentileza àqueles que te colocaram nesse pretensioso papel e que amanhã farão uma resenha de graça a teu respeito e a respeito de teus medíocres rabiscos???
Ah, mas independente de todas essas idiotices, como esses trinta mil me garantiriam um distanciamento!!!... uma espécie de sursis por alguns bons meses!!!...
Bazzo, veja esse link do vargas Lhosa sobre a tragédia que é a cultura se transformar em entretenimento.
ResponderExcluirhttp://cultura.elpais.com/cultura/2012/04/13/actualidad/1334353232_001546.html