O cortador de grama acionou a parafernália de seu maquinário às sete da manhã em ponto. Às 8:15 ligou-me uma senhora da
LBV querendo que eu "adotasse" uma criança. Em seguida recebi outras
duas ligações onde um anônimo perguntava: aí
é da POLIMAQ? POLIMAQ um caralho, meu amigo! – Lhe respondi. Um capuchino
frio + um pão com manteiga + um mini austríaco na tal boulangerie dos vivaldinos na Asa Sul = 17 reais (=Dez dólares!). No semáforo em frente à Federação Espírita uma velhinha tísica e demente vem entregar-me um folheto com uma inscrição em negrito: Jesus te ama & Xico Xavier voltará!!!
O
livreiro que ficou de efetuar-me um pagamento às dez horas, não
apareceu. Na
livraria onde procurei por um autor arquiconhecido, o vendedor nunca
havia
sequer ouvido falar seu nome. Cruzei com a doméstica do andar de
baixo que estava indo apressada buscar seu bebê no HRAS, porque o setor
da maternidade estava sendo invadido por formigas. O site de partituras
que o jornal daquela manhã divulgava e elogiava (SESC partituras) não disponibilizava partitura
nenhuma. O
moço que foi consertar minha geladeira – pela terceira vez -, esqueceu
de levar a peça principal, voltará na segunda-feira, se deus quiser, claro. Como era
sábado, mandei lavar o carro. Deram um sumiço nas sete ou oito moedas gregas
que
estavam no cinzeiro. No restaurante da esquina onde fui aplacar minha
cólera
devorando um contrafilé argentino, a pia estava entupida e o dispositivo
do
álcool gel vazio... Quer mais??? Como diria meu amigo baiano: Vá fuder otro!!! Estes são apenas alguns
dos transtornos de personalidade e dos dissabores de todos os dias... variantes do inferno que são os países “em
desenvolvimento” e que deveriam servir para que os populistas, os patrimonialistas e os demagogos entendessem
que é uma idiotice dar papel higiênico ao populacho sem antes ensiná-lo a
limpar-se o cu.
Observação: De prazeroso mesmo, só a música cigana e o excelente documentário feito em Cuba pela cineasta Ludmila Curi,
que pode ser visto no endereço abaixo:
E, mais tarde, a leitura de um livretinho de Kant
(1783) de umas trinta páginas, intitulado: O que é o esclarecimento? O texto
trata basicamente da passagem da minoridade para a maioridade. Isto é, da
mentalidade de rebanho, da burrice, da ignorância, da preguiça e do falso
conforto das ideias prontas, para a coragem de pensar com o próprio cérebro e
por conta própria. A seguir alguns fragmentos do sábio de Konigsberg:
1. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão
grande dos homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela alheia,
comprazem-se em permanecer por toda sua vida menores; e é por isso que é tão
fácil a outros instituirem-se seus tutores...
2. Após ter começado a emburrecer seus animais domésticos e
cuidadosamente impedir que essas criaturas tranquilas sejam autorizadas a
arriscar o menor passo sem o andador que as sustenta, mostram-lhes em seguida o
perigo que as ameaça se tentam andar sozinhas...
3. Ouço clamar de todas as partes: não raciocinai! O oficial diz: não
raciocinai, mas fazei o exercício! O conselheiro de finanças: não raciocinai,
mas pagai! O padre: não raciocinai, mas crede! Só existe um senhor no mundo que
diz: raciocinai o quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!
4. Um homem pode, a rigor, pessoalmente e, mesmo então, somente por
algum tempo, retardar o Esclarecimento em relação ao que ele tem a
obrigação de saber; mas renunciar a ele, seja em caráter pessoal, seja ainda
mais para a posteridade, significa lesar os direitos sagrados da humanidade, e
pisar-lhe em cima...
5.
Situei o alvo principal do Esclarecimento, a saída do homem da
minoridade da qual ele próprio é culpado, principalmente no domínio da
religião: pois, em relação às ciências e às artes, nossos soberanos não se
interessaram em desempenhar o papel de tutores de seus súditos...
(Traduzido do alemão por Floriano de Souza Fernandes e cotejado com o texto original por Luiz Paulo Rouanet)