Enquanto os últimos bispos já arrumavam as malas e partiam para o aeroporto; enquanto a marcha dos dois mil homossexuais chegava entre cólera e euforia em frente aos ministérios, enquanto os prefeitos, - bebericando no luxuoso Golden Tulip - ouviam as promessas vãs dos "presidenciáveis", índios de várias etnias - que estão há meses acampados frente ao Congresso, quase em baixo das cachoeiras do Ministério da Justiça - pelejavam corajosamente com a Polícia Legislativa da Câmara. Socos, coices, maldições, arranhões, gravatas, cusparadas, gritos, covardias, pontapés. Uma senhora índia desmaiada, um índio com a perna quebrada, outro tonto depois de ser agredido com um cassetete elétrico, um polícia só de cuecas, outro abobalhado depois de levar um cruzado de um manifestante e a índia Munduruku agarrada ao pescoço do representante do CNPI. Só não lhe deu uma joelhada no saco porque a confusão foi demais. Pauta dos índios: revogar o Decreto Presidencial 7.056 que praticamente privatiza a FUNAI. Pauta dos governantes: ganhar os índios pelo cansaço. Deixá-los mais alguns meses humilhados e pisoteados ali em suas improvisadas choupanas de plástico expostos aos DAS 6 que passam de nariz empinado e de cuequinhas de seda no banco traseiro dos carros oficiais.
Mas isto foi ontem. Hoje de manhã tudo já parecia estar Zen na “aldeia”. Às seis horas já havia um índio tocando seu violão de cara para o sol, um velho estendendo uns trapos num varal e uma mulher sorridente banhando seu filho enquanto um tufo de fumaça subia em direção às vidraças do Ministério da Justiça.
Mas isto foi ontem. Hoje de manhã tudo já parecia estar Zen na “aldeia”. Às seis horas já havia um índio tocando seu violão de cara para o sol, um velho estendendo uns trapos num varal e uma mulher sorridente banhando seu filho enquanto um tufo de fumaça subia em direção às vidraças do Ministério da Justiça.
Independente de qualquer frescura romântica ou rousseauniana, é difícil encará-los sem experimentar uma espécie de vergonha. Mesmo que não tenham consciência ou que não o digam, devem pensar de nós o mesmo que pensavam outrora daqueles fazendeiros brutais e estúpidos que os contaminavam deliberadamente com o vírus da varíola ou do sarampo e que depois, quando a febre chegava a níveis insuportáveis, deixavam que, para escapar ao sofrimento, se matassem entre eles, uns aos outros, afogando-se nos riachos ou se destroçando o crânio com pedaços de pau e de pedras...
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