quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

São Paulo: de desvairada a inundada I

São Paulo. De desvairada a inundada. Depois de passar pela taberna do Transyvoulos Petrakis e devorar um moussaká, qualquer um pode ir caminhando para a famosa rua José Paulino só para assistir o frenesi das mulheres sobre aqueles montes de trapos. São centenas as lojas nos quinhentos metros dessa rua. Há cinquenta anos atrás, meu pai já vinha comprar porcarias para revendê-las lá no meio do mato. Fricott; Kes; Adela; Chocris; Passion; Dolce Vita; Butiran; Chaville; Ekolos; Merona; Ranarum etc. Aqui as industrias desovam suas merdas para o consumo do populacho. Olhando a alienação desse bando dá para compreender porque a luta feminista ainda nem sequer começou. Acotovelam-se nas calçadas e diante das portas. Ajoelham-se quase em alucinação diante das pilhas de retalhos, das sobras de tecidos, das montanhas de fiapos. Se roçam as nádegas, tropeçam em si mesmas, falam sozinhas. Sem nenhuma ironia, lembram os pátios dos antigos hospicios. Os poucos homens que as acompanham ficam estacionados no umbral das lojas, engolindo veneno e aproveitando para correr os olhos para aquele mar de tetas distraidas. Os pacotes vão crescendo nos braços. Parecem felizes. São extremamente tolerantes umas com as outras. Se fossem assim no dia a dia em suas casas, a vida seria uma maravilha. Se me perguntassem porque insisto em passar algumas horas neste inferno, responderia que é apenas para fortalecer meu veredicto sobre a espécie.

Ezio Flavio Bazzo

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