Gostei da frase que o Lula soltou lá no Maranhão sobre sua luta incessante para tirar o povo da merda. Guardando as devidas proporções, lembra a frase de Lênin prometendo ao povo soviético que após a revolução todos teriam seus penicos de ouro. Na verdade, todos os políticos fazem propostas como esta, com outro palavreado, mas fazem. Na prática parece acontecer exatamente o contrário. Trafegue pelo universo suburbano, principalmente depois das chuvas, para ver o que acontece com tuas botas. Claro que o Ilmo.sr. Presidente falava metaforicamente da merda sócio-econômica em que milhões e milhões de sujeitos estão imersos, o que não quer dizer que ele não tenha consciência de que grave mesmo é aquestão da merda mental. A merda sócio-econômica e a merda cultural podem ser amenizadas em uma ou duas décadas até através de medidas provisórias. Já, a merda mental, para ser extinta, ah, esta exige um planejamento secular. Os adversários do Presidente dizem que ele pronunciou esta frase bufa num momento de euforia, depois de receber a notícia dos elogios que o Primeiro Ministro Espanhol lhe dedicara no jornal El País. “O homem que assombrou o mundo” – é o título do artigo. E mais: chamam atenção para o duplo sentido que a palavra “assombrou” pode ter: amedrontar, apavorar, espavorir, terrificar etc. Mas isso é bobagem da oposição. O que importa mesmo, é saber que o Primeiro Ministro Espanhol pode até sentir mesmo por nosso Presidente o que manifesta, mas pela relação dos espanhóis com nossa América, ao longo dos séculos, é bem provável que os elogios desmedidos estejam relacionados muito mais com negócios. Sabe-se que hoje a Espanha tem mais de 50 bilhões investidos no Brasil, e que, não satisfeita, está de olho na maioria dos grandes projetos do PAC. Projetos ferroviários, portos, editoras, rede de livrarias, energia e estradas estão nas mãos de empresários da antiga Castilla. Em se tratando de investimentos no Brasil, só perdem para os gringos. Na área de turismo e de redes de hotéis de luxo - por exemplo - o litoral nordestino – parece uma província espanhola, isto, sem falar do universo idiota da telefonia. De um extremo a outro do país, todos os papos furados que são travados compulsivamente por nossas domésticas, engraxates, madames e executivos através de celulares vão engordar subitamente o capital espanhol. E não é de se estranhar, inclusive, se propagandas nessa área venham fomentar cada vez mais nossa verborréia e nossa prolixidade com fins mercantilistas.
Enfim, apesar do frenesi do consumo e da “disponibilidade atual de bens inúteis” nossa relação com os estrangeiros continua a mesma de 1500 ou de 1700: deslumbrados e de joelhos. E a imersão fecal mencionada pelo Presidente, parece ser, para milhões, ainda um destino atávico.
Ezio Flavio Bazzo
Enfim, apesar do frenesi do consumo e da “disponibilidade atual de bens inúteis” nossa relação com os estrangeiros continua a mesma de 1500 ou de 1700: deslumbrados e de joelhos. E a imersão fecal mencionada pelo Presidente, parece ser, para milhões, ainda um destino atávico.
Ezio Flavio Bazzo
Você está demais, caro Ezio! Cada dia melhor! Seu poder de crítica e análise é um presente para este país de "merde" e além do mais, sua crítica é refinada, se desdobra nas entrelinhas.
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