Ezio Flavio Bazzo
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
São Paulo: de desvairada a inundada II
Ezio Flavio Bazzo
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
São Paulo: de desvairada a inundada I
Ezio Flavio Bazzo
domingo, 20 de dezembro de 2009
Gorjetas, bacalhoadas, azeites e pugilatos homéricos entre os envolvidos.
Semana natalina. Há filas por todos os lados. A pilha de bacalhau embalsamado nos mercados lembra as pirâmides do Cairo com suas múmias. Que destino miserável o desses peixes! Dos mares do norte para o estômago desses mentecaptos! Um casal briga na fila. A madame quer bacalhau Imperial do Porto. Ele, com uma camisa do Flamengo prefere outro tipo, um subproduto que é vendido em lascas fedorentas e coberto de sal. A briga segue mercado a fora com o bacalhau em baixo do braço. Olhares terríveis. Eufemismos pra cá e eufemismos prá lá. Palavras envenenadas e promessas de uma semana recheada de insultos e de panelaços. A "ceia de natal" e o tiroteio do primeiro dia do ano serão apenas cenários novos para incrementar o desenrolar da guerra. É evidente que a invenção mais absurda do processo civilizatório foi o casal. Esses dois pobres coitados que se uniram por uma fatalidade e que se maltratam sistematicamente até a morte.Nas ruas e nos balcões todo mundo pedindo gorjetas.
- “Pode colaborar com a caixinha doutor?”
- Doutor um caralho! Se fosse com o caixão...
A palavra “gorjeta” parece ter vindo do francês, “gorge” = garganta. Tratava-se de uns trocados para o escravo “molhar a garganta”. O maior mérito tanto da antiga China como da antiga Cuba (comunistas) foi terem proibido a gorjeta. Costume perverso e pervertedor, engendrado pelo mundo capitalista – recitavam em coro o velho Mao e velho Fidel! Tinham razão. É essa complacência com a gorjeta e com a “caixinha” que vai descambar nos propinodutos e nas Caixas de Pandora.
Ezio Flavio Bazzo
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
A criação foi um engano e quem quer que tenha dito [Haja luz], um bufão.
Nos Evangelhos Gnósticos existe uma frase que cada dia passa a ser mais verdadeira: “a criação foi um engano e quem quer que tenha dito [Haja luz], um bufão”.
Ezio Flavio Bazzo
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Arbeit macht frei!
Sinceramente, apesar de meu anticlericalismo, prefiro o aforismo do bispo episcopal de Chicago, Gerald Burrill que escreveu: [A diferença entre a trilha rotineira e a sepultura é apenas a profundidade]. Ou então, o conceito de Ambrose Bierce, para quem, [o patriotismo é o primeiro refúgio do canalha.]
Ezio Flavio Bazzo
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Seja sincero: você não gostaria de também estar indo para Copenhague comer Smorrebrod?
Nesta semana Brasília ficará bem mais limpa e tranqüila. Muitos políticos, de todos os partidos e naipes, estarão perfumadinhos e felizes nos aeroportos voando para Copenhague. Fazer o quê? Comer Smorrebrod com pasta de fígado. Outros preferirão as almôndegas de carne de porco com repolho vermelho enquanto suas “esposas” - também perfumadinhas e mais felizes ainda – experimentam o Risengrod, aquele arroz com açúcar, canela e manteiga que sempre foi o prato preferido do gorducho Papai-Noel. Não podemos esquecer que existe também um ecossistema estomacal e intestinal, tão importante como as geleiras do Himalaia e como a nossa estratosfera. Ser político! Não há profissão melhor neste mundo. Exige apenas um caráter de puta. Mas isto, quem não tem? Todos somos testemunhas de que nossa formação começa já lá no primeiro grau. Fazemos reciclagem no segundo e concluímos nossa a formação automaticamente na universidade. Depois que se entra no parnaso das Câmaras (municipais, estaduais ou federais) lugares onde chove dinheiro, oportunidades e poder por todos os lados, só se sai de lá demente ou morto. O que se exige de um político? Simplesmente que compareça na sua alcova. Que fale. Que suba à tribuna de vez em quando. Que se manifeste ora a favor dos tubarões, ora em defesa dos lambaris. Comprará a cumplicidade de três ou quatro capangas, iniciará seus filhos, irmãos e netos no mesmo métier e se reelegerá até a morte. Para dar coerência à mamata que o sujeito teve em vida, inclusive seu funeral será por conta do Estado. Pois é, aquele corpo inútil, malandro e desprezível que custou milhões e milhões aos cofres públicos, por ironia, ainda será velado num salão nobre, quase como um Papa ou como um Rei...Mas voltando a Copenhague. Todos nossos “porta-vozes” vão para lá com duas ou três páginas “ecológicas” no bolso do paletó escritas e revisadas por um tradutor juramentado. Uns com idéias mais transcendentes e revolucionárias que os outros a respeito do “clima”, da “preservação do planeta” etc, como se não tivessem nada a ver com os caixões de lixo hospitalar que encontramos diariamente por todos os lados, com a infestação criminosa de automóveis nas ruas, com a fumaceira dos escapamentos dos ônibus, com a falta de higiene elementar nos restaurantes, com a insalubridade nos ambientes de trabalho e com a ausência de esgotos na América Latina inteira, com o sufocamento bestial dos rios, com a ausência absoluta de atendimento à saúde mental no país e com a construção obsessiva de prédios em áreas verdes. Aqui em Brasília – por exemplo – os tratores já iniciaram a derrubada de mais uma área imensa de cerrado, a uns mil metros do Palácio do Buriti, para a construção de um condomínio grãnfino. Sim, os corretores estão até falando que será um modelo de moradia ecológica, e isto, com a conivência de todo mundo: civis, militares, políticos, ecologistas, padres, velhos, adolescentes, putas e freiras, ricos e fodidos, empresários, mendigos, bandidos e santos. Não tenho dúvidas que há na essência dessa passividade e desse desinteresse uma tendência imensa ao suicídio. E não foi por acaso que Leclerc, ao traçar o perfil psicológico do brasileiro escreveu: “toda a nossa sabedoria política se resume na resignação diante do fato consumado”. Que tragédia e que bosta!
Ezio Flavio Bazzo
sábado, 12 de dezembro de 2009
Lênin prometeu penicos de ouro aos soviéticos, Lula diz que quer tirar os pobres da merda...
Enfim, apesar do frenesi do consumo e da “disponibilidade atual de bens inúteis” nossa relação com os estrangeiros continua a mesma de 1500 ou de 1700: deslumbrados e de joelhos. E a imersão fecal mencionada pelo Presidente, parece ser, para milhões, ainda um destino atávico.
Ezio Flavio Bazzo
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Um mundo apaixonante de cavalos, éguas, asnos e jumentos...
Como o General Figueiredo, o governador Arruda parece um apaixonado por cavalos. Dois dias após o descobrimento de seu luxuoso haras nos arredores desta cidade de madraços, mandou a cavalaria da polícia Militar pisotear a população que fazia uma manifestação em frente ao Palácio do Buriti. E aqueles não eram cavalos alados. Em nada parecidos aos seus minúsculos antecessores (os Eohippus), se aquela cavalaria furiosa, com dentes perfeitos e membros esguios lembrava, por um lado, o cavalo de Guérnica, politicamente simbolizava o Cavalo de Tróia. E qualquer um se impressionaria com os olhos, os beiços, as mandíbulas e as patas daqueles animais! Não foi por simples covardia – como se costuma acusar - que os maias e os astecas caíram de joelhos diante da quadrilha espanhola de Cortez, quando a viram saindo dos navios cavalgando animais tão apocalípticos. Ainda é um mistério o fato de, principalmente, os políticos, os novos ricos e as mulheres devotarem um afeto e uma reverência tão especial aos eqüinos. A prova desta devoção está na maioria das praças das grandes cidades onde sempre há uma escultura imensa em bronze, de alguém montado num Puro Sangue Inglês (PSI). Segundo Vargas Vila, a homenagem nunca é ao cavaleiro, sempre ao cavalo. Melhor. Y asi se van los dias!Ezio Flavio Bazzo
ELEGIA AOS ANIMAIS...
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
CREIO, EXATAMENTE PORQUE É ABSURDO...
Meus correspondentes em Londres me informam que na semana passada um ateu foi preso na periferia de Madri e condenado a um ano e dez meses de prisão. Motivo: interrompeu um batizado coletivo de crianças e (exatamente na hora em que os beatos declaravam ao padre que ACREDITAVAM em algo, por mais absurdo que fosse) começou a gritar: NÃO CREIO! NÃO CREIO! As testemunhas, a polícia e o próprio servo de Deus disseram que, além dessa blasfêmia, o ateu Raul C.P. chamou o batizador de “homo afetivo” e o mandou se foder.Só quem já viveu na Espanha pode imaginar a repercussão que esse fato deve ter tido na comunidade em geral, mas principalmente nos porões da Opus Dei. A Espanha, Portugal e Itália são os países europeus mais infectados por religiosidades. Apesar da beleza, da história, dos vinhos e da modernidade aparente, a vida privada e íntima naqueles países guarda muito do catastrofismo medievo e das choradeiras das catacumbas. É curioso que proíbem em coro o consumo de álcool, de crack, de cocaína, de maconha, o roubo, a infidelidade, a corrupção, o estelionato, o “caixa-dois” o canibalismo, a eutanásia, que proíbem dirigir bêbados, jogar lixo nas ruas etc, mas deixam qualquer demente inventar solenemente uma religião, abrir um templo e dopar ao bel prazer a seu rebanho. Sim, é curioso que o tabu da “liberdade de crença” ainda não tenha sido visto como um dos maiores absurdos civilizatórios, ele que dá legitimidade a todo tipo de crapulices e que coloca em risco, descaradamente, a integridade mental de nossas crianças.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Poeira de cocaína, pedregulhos de crack e raízes de arruda IV
Ezio Flavio Bazzo
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
O futebol e a reunião de Copenhague
Seria oportuno que a reunião de Copenhague não ficasse apenas nos banquetes e no blábláblá das emissões de carbono, dos peidos das vacas do Mato Grosso, das motos-serra do Amazonas, das chaminés das fábricas, dos agrotóxicos, do lixo hospitalar, da poluição dos carros etc., mas que incluísse o futebol entre os venenos que acabarão imbecilizando ainda mais e degradando gravemente o planeta e a espécie.
Ezio Flavio Bazzo
domingo, 6 de dezembro de 2009
ALFONSINA Y EL MAR...
http://www.youtube.com/watch?v=M_3Xcym37fE&feature=fvw
Ezio Flavio Bazzo
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Poeira de cocaína, pedregulhos de crack e sementes de arruda III
Brasília não é e nunca será uma cidade como as outras. Extremamente jovem, completando cinqüenta anos em abril, tem origem e história bizarras. Imagine, qual poderá ser o porvir de uma cidade com apenas cinqüenta anos e já com trezentos e tantos pastores! O escândalo que está em curso é apenas uma das patas da aranha caranguejeira que é. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, como diria Freud, se lida com as questões de dinheiro, sexo e excrementos com a mesma hipocrisia. As religiões que infestam as esquinas e os cérebros são apenas o lero-lero hipnótico para todo tipo de licenciosidades. E depois, é mais do que sabido que freudianamente falando o dinheiro está intimamente ligado e relacionado aos nossos dejetos, ao penico e às misérias secretas de cada um. Todo mundo sabe que dinheiro e fezes estão inseridos no universo da pulsão erótica anal. Em outras palavras: simbolicamente o dinheiro é, por um lado, como merda e por outro equivalente fálico. Por aí a fora e pelos labirintos da neurose, talvez, se possa até chegar a ver o corrupto com outros olhos e a corrupção como um simples sintoma de uma desgraça ainda muito mais profunda. A grande frustração do corrupto é ele não poder enfiar o dinheiro goela abaixo, ele não poder enfiar-se o dinheiro pelo cu. Tem que enterrá-lo em casa, nas paredes de fundo falso, ou então nos porões dos bancos suíços e caribenhos. Vive simultaneamente eufórico e angustiado pela possibilidade de morrer ou ficar demente e seu dinheiro apodrecer lá, como sua merda e manchado por sua miséria.Ah! Há muita gente no mundo! Há muita gente nesta cidade! Os shoppings e as ruas estão entulhados. Muitas mães, com caras de retardadas, querendo a todo custo levar seus filhinhos e filhinhas para sentarem ingenuamente no “colo” do Papai Noel. Hooooohoooooohooooooooo!!!!! Hoooo! HOOOOooohooooo!
Ezio Flavio Bazzo
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
A poeira da cocaína, o pedregulho do crack e as sementes de arruda II
-Senhor! Senhor! Obrigado por fazer-nos corruptos! Por fazer-nos entender que só o dinheiro salva! Oh, Como és poderoso! Depois de ti só os pacotes de dinheiro! Tu que tens todo o poder do mundo, Oh, Senhor Amado, Aleluia, poupa-nos da polícia federal! Tu, em tua Onipotência, OH, Senhor, Aleluia! Aleluia! Sabes que roubamos para o bem das cidades satélites, para a salvação dos milhares e milhares de dejetos humanos que vivem na Extrutural, nos becos infectos, das castas subhumanas que lambem as nossas botas todas as manhãs quando chegamos aos nossos gabinetes. Senhor! Oh Senhor. Sabes que por nós o mundo seria diferente. Tu Senhor Todo Poderoso, Oh Senhor, que conheces nossa desgraça interior, defendei-nos dos invejosos e daqueles que querem o nosso mal. Amém. Aleluia!
Corruptos, corruptores, indignados e ingênuos vão às ruas. A idéia de um bode expiatório continua sendo uma grande panacéia. Apedrejar o corrupto fora-de-nós dá a ilusão de inocentar o corrupto dentro-de-nós. É por isso que os amigos e os outros partidos logo se afastam daquele que caiu em desgraça e pedem desesperadamente o seu aniquilamento. Quanto mais rápido for eliminado, melhor. É evidente que há algo mais do que simples moralismo ou simples eticismo nessa ansiedade e nessas manifestações. A corrupção e o sexo, - assuntos tão antigos como a espécie - incomodam tanto aqueles que os praticam como aqueles que são abstêmios. Alguns dizem até que a abstinência – nos dois casos – é mais perversa e mais libidinosa de que a prática. Já encontrei pessoas que defendem a corrupção até como forma política, antiestatal e de distribuição de rendas. Prática anárquica de sabotar o gigantismo estatal e o monstro descrito por Hobbes – dizem, justificando suas fortunas surgidas do nada. Os padres - que os ouvem e que os perdoam nos confessionários - dizem que é o demônio atuando através dos homens. Os advogados culpam as brechas da lei (lei que eles próprios engendraram). Os antropólogos dizem que essa prática é ancestral e que está na origem do ser. Os sociólogos insistem na ganância e na desigualdade social. A polícia acha que todo mundo é bandido mesmo e que diante de uma oportunidade qualquer um se corrompe. Mas as esposas e os filhos dos corruptos pensam diferente, consideram seus maridos e pais quase como super-heróis. Adoram ver as maletas, primeiro no porta-malas, e mais tarde, abertas sobre o criado mudo repletas de notas verdes. Algumas senhoras, como gratidão e felicidade, fazem impulsivamente um felatio ao herói, ainda engravatado. A boca tensa, os olhos cravados nas notas.
Ezio Flavio Bazzo