Ao invés de admitir que isto aqui é apenas um estágio para o inferno, essa pobre gente ainda segue apostando numa “Terra prometida”, numa “Nova Jeruzalém”, num “Sertão das delícias”, num “El dorado” etc. Houve, com certeza, um erro neurológico na espécie a que pertencemos, erro que a faz vulnerável e até fascinada pela mentira, pela ilusão, pela falácia e pela fraude. As quatro da manhã já se aglomeram hordas de peregrinos na base da escadaria que vai montanha acima, pela vía-sacra sertaneja, até uma igreja construída lá no topo da pedra pelo “missionário” italiano Apolônio de Todi. Os vi, agora de manhã sentados no chão e amontoados como uma imensa trupe de mendigos, ansiosos para iniciar a subida e, lá do alto, implorarem por milagres que não existem. Euclides da Cunha, em sua época, descreveu assim o vilarejo de Monte Santo:
“A vertente oriental cai, a pique, lembrando uma muralha, sobre o vilarejo. Este ali se encosta, sobre o socalvo breve, humílimo, assoberbado pela majestade da montanha. Entretanto, é por esta acima até ao vértice que se prolonga, saindo da praça, a mais bela de suas ruas – a via-sacra dos sertões, macadamizada de quartzo alvíssimo, por onde têm passado multidões sem conto em um século de romarias. A religiosidade ingênua dos matutos ali talhou, em milhares de degraus, coleante, em caracol pelas ladeiras sucessivas, aquela vereda branca de sílica, longa de mais de dois quilômetros, como se construísse uma escada para os céus...”
É inacreditável a tolerância da sociedade organizada e esclarecida para com os absurdos da fé. Dizem combater internacionalmente a cocaína, a maconha, o terrorismo, a prostituição, o contrabando, a pornografia, a propagação de enfermidades, o racismo, a corrupção, o uso de armas, a bandidagem etc, mas com relação às patologias religiosas e às idiotices da fé, tolerância absoluta. Ultimamente se tem deflagrado uma campanha internacional contra a pedofilia, contra aqueles adultos que abusam sexualmente de crianças, mas não se tem dado um pio sequer em relação ao abuso religioso que se faz delas, nem contra sua iniciação precoce ao mundo da abstração religiosa, da fé e das incontáveis baboseiras esotéricas vigentes por todos os lados. O vídeo abaixo é, além de uma curiosidade mórbida, uma demonstração desse abuso e da maneira mais prática de psicotizar uma criança e uma sociedade.
http://www.youtube.com/watch?v=uMvlr_B9-Jk
Ezio Flavio Bazzo
isso mesmo, a tolerância é virtude do covarde. ao mesmo tempo em que a intolerância é a virtude do auto-engodo. ambas são as duas faces da mesma moeda da cultura do medo. o tolerante foge do confronto necessário com o outro dizendo: "sobre, mulher, política e religião não se discute". dito isso fogem em debandada. o intolerante foge do confronto necessário com ele próprio dizendo: "antes só do que mal acompanhado". dito isso fogem se lançando, suicidamente, uns contra os outros. tendo a coragem no espírito, não se precisa escolher nem um lado nem outro. escolhe-se enfrentar de frente toda a merda que se faz - principamente com as crianças. porque deixar que, os que toleram a intolerância e, os que não toleram a tolerância, cuidem de perpetuar o espírito miserável da covardia e do auto-engodo? vejam essa criança do vídeo! seus delírio são gritos de desespero. do tipo: "porra! olhem o que vocês estão fazendo comigo"!
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