quinta-feira, 2 de abril de 2009

A felicidade e a corja do G20


Enquanto você está aí comendo seu churrasquinho de gato no fundo de um barracão, na fila da CEF tentando comprar um cortiço (em trinta anos) onde enfiar tua família ou simplesmente gastando a vida para ganhar a vida, a corja do G20 está novamente em sessão extraordinária. Agora em Londres, mas ontem foi em Roma, antes de ontem em Paris, NY, etc. Alguns estudiosos que conheço gostam de assistir e de analisar a premiação do Oscar na busca de uma explicação para a cretinice do mundo. Eu, sinceramente, prefiro essas reuniões do G20; as do Grupo dos 8; as do Mercosul; as dos Países Emergentes, dos Alinhados, dos Desalinhados etc. Sinto que ali posso identificar com mais facilidade os DNAS da gatunagem, da mentira, da hipocrisia, do poder delirante e mesmo do monarquismo travestido. E a canalhice não se resume no sujeito que aparece lá, enfileirado, sorridente e de braços dados com os outros 19. Não. O verdadeiro festim acontece com o pessoal que está na retaguarda. Cada um desses “estadistas” leva atrás de si uma corja, um exército, um batalhão de bajuladores, carregadores de malas, limpadores de botas, lavadores de cuecas etc. No mínimo trinta funcionários da diplomacia, parentes, amigos, lobistas, esposas, amantes, histéricos voluntários, médicos, psicólogos, uma mídia particular, massagistas, policiais, adidos disto e adidos daquilo e até padres. Muitos desses políticos gananciosos e salafrários têm horror só em pensar na hipótese de bater as botas sem receber a extrema-unção e sem tempo para pedir perdão. Lotam os hotéis cinco estrelas, os restaurantes e os cafés mais chiques, Fingem que estão sempre apressados, que são importantes que vão mudar as bases desta sociedade infame... E enquanto os que correm pra lá e pra cá com seus crachás, celulares e com seus computadores dão sustentabilidade ao teatro da sobriedade internacional, as madames deste ou daquele executivo vivaldino que conseguiu infiltrar-se na comitiva, chamam um táxi e vão à Oxford Street fazer compras. Os homens preferem ir à Jermyn Street e desbundam em gravatas, paletós, perfumes e lencinhos para a intimidade... Só voltam para o hotel quando a noite começa a cair sobre os arranha-céus e sobre o Tamisa, hora em que os lamentos do Big Ben se fazem mais audíveis.

Nas suítes, banhos, massagens, elogios mútuos, puxa-saquismo. Um champanhe para comemorar a fala de nosso chefe! Cumpliciam-se no engodo, no engano na adulação astuciosa e na mentira para amenizar a culpa pela gatunagem. Daqui a pouco é hora de cair na noite. Uns gabam-se de já serem freqüentadores antigos da boate Neighbourhood. Outros vão à Turnmills. A grande maioria bota um brinquinho e vai rebolando para a Egg. Um punhado de Euros no interior do paletó e o Cartão Corporativo embaixo de um copo.

Pois é, e você que está aí palitando os dentes depois de devorar teu churrasquinho de gato, não adianta espernear. Estes são os jogos legítimos e as manobras clássicas da República ou, se preferires, dessa monarquia dissimulada. Sim, a revolução francesa serviu para isto: travestir aquele circo neste.

Amanhece. Todo mundo está visivelmente feliz e encontram-se no café antes de reiniciarem o teatro lá no auditório do G20. Uma das madames com olheiras imensas recita para seu acompanhante esta frase de Samuel Johnson: - Acorda meu bem... “Quando um homem está cansado de Londres, está cansado da vida”.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. reuniões dos encobrimentos e suas novas tentativas coloniais. estranhos sentidos nacionalistas e xenófobos sendo negociados e modernizados. velhas caras de pau envernizadas com neo-liberalismo libertário. grandiloquentes herdeiros de tudo o que foi inaugurado pelos fascismos mundo a fora. estados-muletas úteis uns para os outros. monarquias, repúblicas e parlamentos todos às voltas de seus gurus e empreiteiros. o fedor dos mortos, o quebra-quebra, a pacificação e o silêncio. de resto, a megalomania global aplaudida tanto pelos novos ricos quanto pelo fanatismo popular.

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