F. Nietzche
Quase perdi minha aula de violino para assistir aos depoimentos no STJ (Superior Tribunal de Justiça), dos réus, acusados de Golpe de Estado... Foi surreal, inacreditável! Três/quatro horas de pura ficção, acrobacias e de memórias alucinatórias... Vendo e ouvindo aqueles monólogos com aparência de diálogos, só ia pensando nos Cem anos de solidão, do Garcia Marquez, e na História universal da infâmia, do Jorge Luis Borges... Nos intervalos, para o WC, para o cafezinho e para os biscoitos amanteigados, aproveitava para folhear Francesco Carnelutti (As misérias do Processo Penal) e também ao velho Beccaria (Dos delitos e das penas...). Sem, contudo, conseguir esquecer do Exército de Brancaleone... e do Doente imaginário, do Molière...
Foi uma tarde cultural & antropologicamente fascinante!
Nenhuma mulher na área e nem no cenário. Onde teriam se metido? Só homens, fardados, sob suas capas ou engravatados, com seus anéis de bacharéis, seus óculos escorregadios e suas metáforas cabotinas... respondendo a questionários de obviedades: E aquele rascunho, general? E aquela manhã? E aquela reunião? E aquela noite de insônia? E Aquela caixa de vinho? E o Discurso do Método, de Descartes? E os voos da FAB, e as urnas, ex-Presidente? (não.., não as urnas eleitorais, as urnas funerárias do Egito antigo...) E os adversários políticos? E as emendas? E as senhas? Vossa Excelência tem indícios de que eu recebi 50 milhões de dólares para eleger vosso adversário? Em absoluto, excelência! Era pura retórica. Retórica? Sim, lá nas Agulhas Negras estudávamos muito ao pai da retórica, Aristóteles... Tudo bem, mas, Dr., e o senhor acha normal receber dinheiro clandestino em caixas de vinho? Data vênia, excelência, mas por aqui, isso é até mais do que normal... E vossa Excelência o sabe... No máximo muda-se a caixa: as caixas de vinho pelas caixas de vodka, de Champagne ou de Uísque...
Apenas uma ou outra ironia, e mesmo assim, com muita cautela, para não ser acusado de injuria racial, ou sexual, ou existencial, ou até mesmo de terrorismo... Excelência.., Vossa Excelência sabe que, muitas vezes, se diz que se está sendo convocado para uma reunião de urgência, apenas como álibi e como argumento para fugir da sogra...
Sigo assistindo aquela maravilha teatral intoxicada de ponta a ponta por um instinto moral, e por uma dialética sacristã e de templários, atento à voz, vinda das alturas, que, de quando em quando, me alertava: Bazzo, olhe bem para tudo isso se queres saber o que ainda podes esperar do mundo!

Sua melhor crônica, Bazzo!
ResponderExcluirO grande espetáculo da nossa sutil democracia, ou a grande farsa, depois da tragédia do julgamento de Lula. A história se repetindo só nos lembra Nietzsche e seu eterno retorno. Aqui, todos nós sempre soubemos como se tratam os golpistas, sempre de plantão. Agora querem dar ares de evolução em nossa história. Pela primeira vez na história deste país... não veras país algum neste admirável mundo novo. Ó abre alas para o centrão e os ricos com sua "terceira via". Lula sendo morto pelos jornalões, Bolsonaro pela justiça. Roteiro batido e cansativo. Assim vão diluindo o Brasil dos brasileiros e criando, mais que nunca antes na história deste país, o Brasil dos abastados e rentistas.
ResponderExcluirDá-le Bazzo!!
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