[... L 'élite c'est la canaille...]
Henry Becque
Além das imagens e dos ataques impressionantes, de um lado e de outro, o que é mais curioso nessa pantomima, é a retórica mística usada pelos três principais lados envolvidos. No meio dos tiroteios e das vaidades, nunca se falou tanto em: Satã; em Deus; em anjo caído; em abrir as portas do inferno; em Caixa de Pandora; no povo eleito; na Nova Jerusalém; nos rebanhos neo-pentecostais; no martírio dos ímpios, dos impuros e no Fim da História, como cacarejava o nipônico Fukoyama. E também, evidentemente, nos pangarés do apocalipse (São João japado de cocaína lá na Ilha da Patmos), na vassalagem genética da espécie... nos oráculos, nas profecias, na bandidagem intelectual, ... e outras bobagens delirantes... Observem: há algo juvenil e até infantil nas metáforas, nas metonímias, nas 'análises', nas parábolas, nas insistentes citações do Velho e caduco Testamento, na lógica e nos argumentos gerontocráticos, invejosos e vingativos dos que gerenciam toda essa chacina e toda essa matança. E mentem... e armam tocaias descaradamente uns aos outros... E fingem odiar-se/amar-se ao mesmo tempo, e fazer de tudo para dignificar a liberdade... e enxergar golens entre as nuvens... Enquanto, por debaixo dos panos, no meio de aleivosias e de favores... vão construindo pedestais uns aos outros... Tudo mentira. Lero lero, encenação. Manipulação dos rebanhos excitados e alterados. A pátria! A religião! A dignidade! A grande família dos símios iluminados! Incrível! Mentiras que a imagem de uma criança de cinco anos com as pernas amputadas por uma bomba ali em Gaza, basta para desmarcará-los e condená-los... Que gente! E de uma hora para outra, quando as munições acabam, passam a trocar afagos, elogios mútuos, palavras quase libidinosas... e até vão de braços dados avaliar e fazer um balanço das mutilações e dos estragos provocados por seus mísseis, suas polícias secretas e suas bombas... Caralho! E o que existe de mais burguês e de mais reacionário do que um "cessar fogo"? Enquanto isso, as máfias de comerciantes têm pesadelos ao redor do Estreito de Ormuz!!! Ah! Fechar o canal seria o fim! Ah! o petróleo.., o combustível, os dólares e o dinheiro para toda essa carnificina! Money... money... money... O erótico encontro do Golfo Pérsico com o Golfo de Omã! Ainda escreverei uma rapsódia ao Golfo pérsico e ao canal de Ormuz! (meu próximo cachorro se chamará Ormuz!)
Enfim, é quase inacreditável que a espécie tenha conseguido vir pelos séculos a fora sobrevivendo e se estruturando sobre todo esse matadouro, e sobre esse lodaçal de trapaças, no meio de todo esse tipo de raciocínios, de rancores, enfrentamentos e de genocídios. E, pior, sendo calada, adestrada e subjugada por uma laia de cretinos empoderados ...
E, o que dizer de nossos tataravós, bisavós, avós, pais... que, por ignorância, nos legaram essa palhaçada, esse desvario e toda essa loucura? Como, eles próprios, devem ter experimentado tudo isso, em seus devidos tempos?
E agora? Como curar-se? Quem conseguirá devolver-nos a sanidade? Curar-nos de todo esse circo ambíguo e miserável? De toda essa fúria insana e ignóbil por migalhas e pela existência? Desse cíclo mambembe, compulsivo & patético?
Enfim.., sem mais grandes onanismos apocalípticos e filosóficos, penso em Lupércio Leonardo de Argensola, nele que - também de joelhos para seu tempo - se limitaria, outra vez, apenas a resmungar: Lastima grande que sea verdade tanta miséria!!!

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