quarta-feira, 4 de junho de 2025

E a Zambelli, que sabiamente, optou pelo exílio?




"Um homem julgando outro me faria chorar de horror, 
se não me fizesse morrer de riso"
Flaubert






Os moralistas de plantão, os filósofos do cárcere e os apologistas das algemas e da cadeia estão, por um lado, frustrados e por outro, invejosos da Carla Zambelli, dela que, cruzando uma fronteira aqui e outra ali, caiu no mundo...  

Ora! Para qualquer homem ou para qualquer mulher, nenhum status é mais desejável do que o de exilado. Quando se é deputado, então, com passaporte diplomático e vendo o próprio nome plantado na tal lista da Interpol, o gozo é ainda maior... Qualquer um, que tenha cometido um delito ou não, com a polícia em seu encalço ou não, tendo lampejos de lucidez, zarparia para fora das fronteiras... A clandestinidade! Tudo o que um homem deseja, na íntegra, é a clandestinidade. O anonimato, a condição de apátrida. De poder ouvir qualquer asneira mística, qualquer hino e qualquer choradeira sedentária sem ter que se colocar de joelhos, de quatro ou em pé, em posição de sentido, no meio do rebanho, com uma das mãos sobre o lado esquerdo do peito... Ah! As ruas nunca antes percorridas, as caras que nunca se viu, um idioma que não se conhece, os livros que não se consegue ler, os novos códigos, as comidas, o silêncio das madrugadas e o acordar invisível, sem saber onde se está... Acreditem, na condição de exílio, até as tormentas e os tsunamis são encantadores.... Duas adolescentes lambendo com cuidado uns pedaços de ambrosia e limpando os dedos na saia xadrez do Sacré Coeur... O passaporte, o dinheiro, um punhado de avelãs ou de amendoins alepinos nos bolsos e a vida inteira para vagabundear de um bulevar a outro, assistindo as lamentações e as ficções da turba, à policia, como 'cães de guarda das elites', indo e vindo com as sirenes ligadas, vendo seu nome estampado lá no cartaz colado às paredes e livre da neurose pátria, (sabedor de que o patriotismo, "resume-se apenas às coisas boas que comemos na infância e que, por ser o sentimento mais acessível aos imbecis, acabou inspirando a maior parte das asneiras e das bobagens vigentes"...) e cada dia mais convicto de que, como dizia Disraeli, não existe amor, a não ser amor à primeira vista...  Cidadão do mundo!  Apátrida! Herege! É para o sujeito no exílio que todos os galos cantam e que todos os sinos das catedrais tocam... e que a violinista da esquina, sempre que o vê passar, executa o Adágio, de Albinoni. Sim, tem consciência de ainda estar irremediavelmente confinado em uma sórdida e imensa penitenciária, e que da qual não é possível evadir-se, pois trata-se da gigantesca e patética penitenciária que é o mundo...









Um comentário:

  1. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/06/7165363-moraes-determina-bloqueio-de-contas-investimentos-e-salario-de-carla-zambelli.html

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