sábado, 27 de fevereiro de 2016

FAUSTO & Mefistófeles

Depois de uns vinte e tantos anos, voltei ao Cine Brasília para ver FAUSTO, filme produzido em 1926 por F. W. Murnau, com trilha sonora ao vivo sob responsabilidade do também alemão M. Munch, instalado com seu piano em baixo da tela. Aqui entre nós: em alguns momentos, a música mais atrapalhava do que ilustrava. Normalmente procuro esconder que não sou lá grande admirador do cinema. Entre todas as artes, me parece a mais empenhada em enganar e em engambelar o populacho que, aparentemente sedento por cultura, lá no escuro da platéia só quer saber mesmo é das pipocas... Aliás, apesar de Goethe, depois dos primeiros 15 minutos, não consegui entender mais nada. E a figura de Mefistófeles, também não me agradou, porque parecia uma cópia do cara que, toda quinta-feira, passa aqui por debaixo de meu prédio vendendo pamonhas...
Mas valeu. Principalmente os trinta e tantos minutos que passei na sala de espera. Se no passado eu compunha quase uma gangue de arruaceiros ali naquele mesmo espaço, agora me vi numa imensa fila preferencial entre velhinhos quase caquéticos. Além de duas moças em cadeiras de rodas, um sujeito de muletas, um outro que parecia meio lelé da cuca e várias megeras com os cabelos pintados de bronze, só se via cabeças brancas e muitos velhotes fingindo vigor e vitalidade. Fiz rapidamente os cálculos e concluí que somadas as idades só dos que estavam ali na minha frente, incluindo a minha, dava mais ou menos uns mil e quatrocentos anos. Quase abandonei o barco! Por ironia, ouvi dois adolescentes que não haviam conseguido ingresso fazerem o seguinte comentário: "nossa esperança é que se demorarem um pouco mais para autorizarem a entrada, essa fila aí  - apontando para nós - comece a cair inteira por hipoglicemia..." Não aconteceu, mas quase!
Para meu espanto, quando o filme acabou, a platéia inteira levantou-se em gritos, palmas e assobios, louvando aquele que, se para mim, havia sido uma chatice, - para eles - era um marco na história do expressionismo cinematográfico...
Saí caminhando no meio da noite mais convicto do que nunca do tamanho de minha ignorância, mas resmungando soberbamente esta frase de Vargas Villa: "Encontrei muitas poesias toleráveis, mas não encontrei nunca um poeta que o fosse..." (in: De los viñedos de la eternidad, vol. 25, p. 36)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Vedi come la vita é bella 2... (E la nave vá...)

I.
Em Goiás
"Um caso ocorrido na zona rural de Aporé, interior do estado de Goiás, chamou atenção e causou indignação entre internautas nas redes sociais. Um pastor, identificado como Valdeci Picanto Sobrinho, de 59 anos, foi preso acusado de abusar sexualmente de várias mulheres. Ele dizia que tinha um "pênis abençoado"
Uma das vítimas, uma jovem de iniciais M.R., de 23 anos, relata que os abusos aconteciam nos fundo da igreja e as irmãs eram obrigadas a fazer sexo oral. “Muitas vezes, após os cultos, o Pastor Valdecir nos levava para um terreno nos fundos da igreja e pedia para a gente fazer oral nele até o espírito santo aparecer por meio da ejaculação”, afirmou. 
Valdecir, que também responde por abuso contra idosas, nega todas as acusações e se diz um 'servo do senhor'. “Vocês estão prendendo um servo do Senhor e ainda se arrependerão disso. Espero poder continuar com meu belíssimo trabalho dentro da prisão”, declarou ele ao ao acrescentar que teve um encontro com Jesus num bordel e que Ele lhe deu a missão de “distribuir o leite sagrado”. 
A delegada responsável pelo caso, Denise Pinheiro, informou que o acusado foi preso no momento em que esfregava seu membro no rosto de uma comerciante. 'Quando autuamos o senhor Valdecir, ele não ofereceu resistência e ainda perguntou se eu queria fazer parte do reino dos céus durante o trajeto para a delegacia. Ele não tem vergonha de tais atos e acha tudo a coisa mais normal do mundo', conta". 


II
Na Bahia


23/02/2016 11h08 - Atualizado em 23/02/2016 11h24

Prática religiosa ocorre em Simões Filho, região metropolitana de Salvador.

Ministério Público diz que investiga situação e orienta que colégio evite reza.

Do G1 BA, com informações da TV Bahia
  O pai de uma aluna denunciou a escola da filha ao Ministério Público porque os estudantes são orientados a rezar o "Pai Nosso" antes das aulas, em Simões Filho, região metropolitana de Salvador. O aposentado José Ivanildo Cabral é ateu e acredita que a filha de seis anos pode ser induzida a se tornar religiosa pelo fato de fazer a oração na Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães. O MP informou que investiga o caso desde fevereiro de 2015 e que vai recomendar a escola a evitar as práticas religiosas, já que o estado é e deve ser laico.
Segundo Cabral, em casa, a educação é baseada no ateísmo, a ausência de crença em divindades. Mas, de acordo com ele, o colégio onde a menina estuda pratica rituais religiosos com os estudantes, o que significa uma falta de respeito à diversidade no ponto de vista do aposentado.
"É uma imposição porque está se colocando algo na mente de uma criança, indo contra os princípios da família", reclama José Ivanildo. De acordo com Elisângela, secretária da escola, toda segunda-feira é feita a oração do "Pai Nosso" com os alunos, mas eles não são obrigados a participar. "Aqui não existe isso. Os alunos não são obrigados a fazer a oração", afirma a funcionária.
Mesmo sem a obrigação, o pai da estudante ainda considera a oração uma imposição religiosa. "O estado é laico, as escolas são um braço do estado e deveriam também respeitar a laicidade, respeitar a diversidade", defende. Já Lenilda Freitas, que tem dois filhos na escola, concorda com a prática religiosa. "Eu acho normal. Acho que não prejudica em nada a criança", conta.
A secretaria de Educação de Simões Filho informou por meio de nota que não orienta nenhuma prática religiosa dentro das instituições da rede municipal, e que o ocorrido na escola Antônio Carlos Magalhães é um fato isolado.

Ainda por meio da nota, a secretaria informou que a direção da escola realiza duas vezes por semana o "momento cívico", quando é cantado o hino nacional e feita a oração do "Pai Nosso", por ser considerada uma oração universal, sem nenhuma conotação religiosa. Já com relação à filha de José Ivanildo, a secretaria de Educação disse que a direção da escola encaminhou a situação ao conselho municipal de educação e aguarda o parecer técnico do órgão.


III
Aqui em Brasília


 Não se trata de muçulmano de um país islâmico irritado com uma representação de Maomé, mas do arcebispo Sérgio da Rocha, da Arquidiocese de Brasília, que está ameaçando processar a artista Ana Smile, 32, por não gostar de sua coleção divertida de Nossa Senhora.


Versão
Chapolin
Colorado
Smile colocou à venda na internet e em uma loja de Brasília estatuetas de gesso de 30 cm a 55 cm nas versões diabinha, Galinha Pintadinha, Malévola, Chapolin Colorado, Mulher Gato, Frida Kaho, David Bowie, Mine, entre outras.
Batizada de Santa Blasfêmia, a coleção também outros santos, como o Santo Antônio, que tem no colo menino Jesus estilizado como Robin.
Um grupo de católicos encaminhou ao Ministério Público de Brasília uma representação para que as estatuetas sejam retiradas da loja por ferir sentimento religioso, de acordo com o artigo 208 do Código Penal. Esse artigo é considerado a lei brasileira da blasfêmia.
As proprietárias de Endossa, a loja, tiraram as estatuetas da vitrine, após terem sido ameaçadas por e-mail e pela rede social.
“Ficamos com medo de apedrejamento”, disse Luana Ponto, 30, uma sócia. “[Eles] passam aqui gritando, brigando, dizendo que vão processar a gente.”
Smile também tem sofrido ameaças pela internet.
Ela disse que, com as estatuetas, não tem intenção de ofender a ninguém, porque se trata apenas de um trabalho com o uso de uma criação estética.
A polêmica tem ajudado Smile a divulgar a coleção.


Coringa e David Bowie
Malévola e Mulher Gato com menino Jesus


Mine e Mulher Maravilha
Com informação do Facebook e de outras fontes e fotos de divulgação.


Leia mais em http://www.paulopes.com.br/2016/02/igreja-ameaca-processar-artista-de-versoes-divertida-de-santa.html#ixzz41Dkb6v6z
Paulopes informa que reprodução deste texto só poderá ser feita com o CRÉDITO e LINK da origem.     

Observação: Em apoio à artista plástica aqui de Brasília que, por seus trabalho, vem sofrendo acosso moral e ameaças físicas de um bando de energúmenos, quero lembrar aqui uma reflexão de Vargas Vila sobre as artes no cristianismo: "A virtude cristã é uma virtude de escravos (...) O cristianismo que prostituiu todas as artes não conseguiu criar nenhuma. Toda a estatuária cristã não produziu uma Vênus de Milo e nem sequer uma Vitória de Samotracia. Toda a pintura cristã, desde Raphael até Puvis de Chavannes, não serve senão para fazer a humanidade sentir a ausência insubstituível de Fidias e de Polignoto (...) Os escravos e os monges que fundaram essa religião de escravos e de mendigos não se conformaram em apenas ignorar a arte, fizeram de tudo para castrá-la... E fazendo de Apolo um Orígines miserável e dedicando-se a contrafazer artistas, povoaram de eunucos as galerias de seus museus e o  coro da Capela Sixtina. E o mundo, mergulhado no desastre, ante o naufrágio da beleza, espera. Espera o quê? A morte de Roma e a ressurreição de Atenas..."(in: La voz de las horas, vol. 18, pp. 134,135)

Escrito num muro da UFRGS...

Meu correspondente no RS enviou-me esta frase escrita nos muros da UFRGS


CARO UNIVERSITÁRIO! DIPLOMA NÃO TE ENCURTA AS ORELHAS, SÓ AS ESCONDE.fazer um blog




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Enquanto isso.., alguém rabiscava numa parada de ônibus da Universidade...


Para ouvir a música clicar no lado esquerdo da faixa




Ao que Vargas Villa retrucaria:

"No drama filosófico, não são os homens senão as idéias as que falam; no drama fisiológico, são os instintos que gritam; no drama social são as mentiras que se destroem entre si..."
Vargas Vila in: De los viñedos de la eternidad, vol. 25, pp.40,41


Vedi come la vita é bella...



[... Miséria vai e miséria vem... e o homem segue como Jó, enchendo o mundo com seus clamores e com sua lepra, desde seu esterqueiro miserável...] Vargas Villa  in:  Huerto agnóstico, vol. 21, p. 149)



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Uma imagem para a história da geriatria...


"A velhice poderia ser a suprema solidão, não 
fosse a morte uma solidão muito maior..." Jorge Luis Borges
"





domingo, 21 de fevereiro de 2016

aedes braziliensis...


GOVERNOS, DAS MAIS EXÓTICAS ATÉ AS MAIS VULGARES FACÇÕES, DOS MAIS DELIRANTES ATÉ AQUELES COM PEDIGREES MAIS SIMPLÓRIOS, NÃO CONSEGUEM COMBATER O MOSQUITO HÁ TRINTA ANOS...

E, como se pode ver nas fotos abaixo, feitas nesta tarde, pelo menos aqui no DF, nem os pelotões do exército mobilizados na semana passada conseguiram destruir os Spas do aedes braziliensis, que ainda podem ser encontrados por todos os lados...

Obs: Na foto inferior, o que se assemelha a um caixão de defunto, parece que não é, mas ninguém se atreve a investigar o que há dentro dele...






Sonata em G minor... (porque hoje é domingo...)

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A clássica vingança feminina... Ou, tudo começou com Medéia...




Sempre que se repetem escândalos "amorosos" como o de agora entre um homem qualquer (seja ele ex-presidente da república ou não) e sua ex-amante, faço um recorrido pela história das mulheres e fico boquiaberto com a crueldade, o ressentimento, o mau humor, a inveja, a perversidade e a vingança que as caracteriza. Normalmente se pensa que os piores crimes, as piores sacanagens, as piores tiranias e explorações bem como as piores traições foram protagonizadas pelo mundo masculino, mas essa crença só se eterniza por pura ignorância e por puro romantismo... um dos inevitáveis efeitos da cultura e da testosterona sobre os babacas... Mais da testosterona do que da cultura e que nos coloca submissos e de joelhos diante dessas, como diria Nietzsche, vacas neuróticas e dessas loucas disfarçadas... Não foi por acaso que a psiquiatra Nise da Silveira registrou em seus escritos: [o homem é mau, mas a mulher é perversa. A mulher sabe ser ruim como o demônio. Uma mulher engana o diabo. Duas, enganam o inferno inteiro].

"Não quero morrer amanhã e tudo isso ficar comigo na tumba" se justifica a ex-amante de FHC ao relatar a intimidade "clandestina" que teve com o ex-senador durante anos. "Tudo isso o quê, mademoiselle?" 
Enquanto ficar de 4 lhes garante bons vinhos e confortáveis salões VIPS, tudo vai bem, agora, quando precisam ficar em pé, sobre as próprias patas, e quando já há outra ocupando seu antigo lugar, tentam apunhalar aquele a quem, durante anos, desabotoavam com lascívia e com malandragem a braguilha, tanto por debaixo das mesas dos cafés como nas estações do metrô.... Ridículo! Uma baixeza sem nome! Vender notícias da intimidade por inveja, por vingança ou por simples mau caráter... eis aí um balde de excrementos sobre a  liberdade e a soberania feminina... Até nos bordéis e nas cadeias esse comportamento é abominável!
Talvez não tenha sido por acaso toda a repressão cruel, o sufocamento, a asfixia e a censura a qual as mulheres foram submetidas durante séculos no interior das comunidades primitivas, das grandes religiões, da maçonaria e até mesmo da máfia. (alguns exemplos abaixo)





No mesmo dia - Umberto Eco e Harper Lee foram para o saco. Ele com 84, ela com 89...



"A gente fala pouco quando a vaidade não nos obriga a falar..."
 La Rochefoucauld






quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Somos de uma estirpe que adora fazer teatro...


"Só o artista duvidoso parte da arte; o artista verdadeiro arranca sua matéria de outra parte: de si mesmo..." E.M.Cioran


Tendo em vista o número de assassinatos mensais e a violência que caracteriza este país, atualmente todo mundo gosta de criticar Sergio Buarque de Holanda que afirmou (não sei em que contexto) que somos um povo cordial. Sabe-se lá o que aquele senhor quis dizer com isso, mas acho que somos mesmo e inclusive, muito mais do que cordial, um povo babaca, submisso, subserviente, capacho, complacente (como um hímen) e com uma estrutura psicológica de colonizados. Vejam esses aí da foto. Por maiores que sejam as vilanias e as desgraças que se abatem sobre nós, nossos protestos e nossas manifestações costumam ser assim: uma procissão com velas acesas; todos vestidos de branco implorando por PAZ, queimando incenso e gritando frases do Paulo Coelho; uma centena de bobalhões fantasiados de coelhinhos da play boy ou até de mosquitos da dengue, vestindo camisetas com frases do John Lennon e coisas parecidas. Não faz muito, vi até uns idiotas em posição de yoga em frente ao Congresso Nacional, segundo eles, "captando energias cósmicas" em protesto contra nem sei o quê... No caso específico da empresa que destruiu o Rio doce e que causou um estrago imenso na região, o que vemos, depois de uns dois meses de burocracia, lero-lero, cinismo e putaria são esses babacas aí jogados em uma rua e cobertos de lama dizendo que são o Rio Doce. Ora! Que triste retrato de melancolia! Um fotógrafo vai lá registrar a pantomima, as caminhonetes das TVs  não perdem a oportunidade, os  "focas" dos jornais correm para lá entrevistar um ou outro desses otários e tudo acaba num boteco de esquina, com pastel, samba e caldo de cana (quando não numa Salve Rainha), enquanto os protagonistas do desastre estão lá em suas ilhas bebericando vinhos italianos, ouvindo Beethoven, comendo camarões no palito, lubrificando suas AR15, acendendo charutos cubanos e montando os alibis com seus advogados... Não é ridícula e decadente essa pantomima?

Enquanto isso:






quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Asi nooo!!!..., carajo!!! Na terra dos astecas e de Moctezuma, o argentino, representante de deus, se irrita com a plebe... E isto que ele ainda não sentiu os efeitos da pimenta...

Saneamento básico...

"A abnegação e o sacrifício são da mesma essência que a crueldade"
F. Nietzsche

"Já nos primeiros dias de vida - lembro-me bem - ouvia além dos padres, o Duce de plantão, Eurico Gaspar Dutra, falando na urgência e na importância do saneamento básico para as "famiglias" e para o país. Só que até agora, quase cem anos depois, NADA, e praticamente 90% da população ainda vive mais do que promiscua e intimamente com suas cloacas e com seus dejetos... 
Nas cidades e vilarejos do interior e das periferias, para não falar das grandes cidades, - façam uma experiência - se é obrigado a ir sempre em ziguezague se não se quer atolar os pés (as patas) nas águas que correm pelas ruas, águas provenientes das pias, dos tanques, dos banheiros e até das fossas, oferecendo ao caminhante a síntese daquele perfume familiar de sabonete gessy lever e de mierda... E todo mundo resignado. Tranquilo. Sereno, quase zen, meditando nas janelas e no meio daquela porcaria liquefeita, louco para ir votar novamente e, claro, nos mesmos crápulas (ou em seus descendentes). 
Não é apenas indecente, mas curiosa essa característica de nossa gente! Talvez até acredite que seu karma, seu destino, a forma de expiar seu pecado venial seja esta: esquiar sobre sua própria merda por toda a existência (e, quem sabe - para os espíritas - até por toda eternidade!)... Mas, não esqueçam e não desanimem, há um candelabro, aliás, uma vela, no fim do túnel: está novamente em pauta a Campanha da fraternidade! 
Enfim, plagiando novamente o escritor romeno: "Só se vive por falta de saber. Desde que se sabe, já não se compactua mais com nada..."

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O papa que não papou a filósofa polaca...

[ nosso mundo é duro demais para ter sido engendrado pelo Cristo, afirmarei que ele não tem mais qualidade para jogar pedra no adultério; e que algumas minotaurizadas a mais ou a menos não acelerarão a velocidade rotativa das esferas e não adiantarão em um só segundo a destruição final dos universos...]
G. Flaubert (in Madame Bovary, p.17)



Muitas velhinhas e até beatas mais jovens aqui no DF estão com seus rosários e seus  escapulários resmungando e implorando atrás das janelas para que as notícias sobre João Paulo II e sua amiga polonesa (que estão circulando em todos os jornais do mundo) não passem de calunias e de mentiras de ateus... As notícias revelam que o papa Wojtila manteve uma amizade secreta durante trinta anos com a filósofa Ana T. Tymieniecka. Qual é o problema? 

Assine o Estadão All Digital + Impresso todos os dias
Siga @Estadao no TwitterA interpretação da coleção de missivas trocadas entre o papa santificado e a filósofa (cartas que se encontravam numa biblioteca da Polônia) são as mais prudentes possíveis e todas as manchetes fazem questão de deixar bem claro que apesar dos encontros, das viagens, dos acampamentos nas montanhas e etc., o papa nunca deixou de cumprir com os protocolos que a função lhe impõe, isto é, em nome da filosofia, de deus e do marido da polaca, nunca sequer pensou em amancebar-se ou em acasalar-se com ela.
De minha parte, com todo o respeito que sempre se deve ter para com um casal de amantes, confesso que lhe teria bem mais simpatia (mesmo já morto) se ele a tivesse papado, em último caso, até mesmo em nome de todos os santos. 
Aliás,  não é novidade para ninguém que a "castidade" é uma das formas mais sofisticadas de concupiscência e de incentivo ao comportamento libidinoso. Leia Mais:http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,cartas-revelam-intensa-amizade-entre-joao-paulo-ii-e-filosofa-,1832653
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sábado, 13 de fevereiro de 2016

A décima primeira praga e os abutres...



Observem como basta uma nova (praga) epidemia (a décima primeira) alastrar-se por sobre uma região miserável do planeta (entenda-se América latina) para que os abutres de sempre já comecem a voar para lá... Chegaram até a reatar amizade, uma amizade que, por vaidade, egoísmo e ânsia de poder estava interrompida há séculos...
Por coincidência lia um texto de Machado de Assis sobre os parasitas da igreja quando me chegou esta foto de um correspondente cubano sobre esse exótico e surrealista encontro em Havana, entre os líderes de três grandes religiões.  

Confira o que escreveu Machado de Assis nas páginas 955 e 956, Obra Completa, Volume III, Editora José Aguilar Ltda, 1962:

[...O parasita ramifica-se e enrosca-se ainda por todas as vértebras da sociedade. Entra na igreja, na política e na diplomacia; há laivos dele por toda parte. Na igreja, sob o pretexto do dogma, estabelece a especulação contra a piedade dos incautos, e das turbas, Transforma o altar em balcão e a âmbula em balança. Regala-se à custa de crenças e superstições, de dogmas ou preconceitos, e lá vai passando uma vida de rosas.
A história é uma larga tela dessas torpezas cometidas à sombra do culto.
O parasita da igreja, toda a Idade Média o viu, transformado em papa vendeu absolvições, mercadejou as concessões, lavrou as bulas. Mediante o ouro, aplanou as dificuldades do matrimônio quando existiam; depois levantou a abstinência alimentar, quando o crente lhe dava em troca uma bolsa.
É um desmoronamento social. O parasita teve uma famosa idéia em embrenhar-se pela igreja. A dignidade sacerdotal é uma capa magnífica para a estupidez, que toma o altar como um canal de absorver ouro e regalias.
Assim colocado no centro da sociedade, desmoraliza a igreja, polui a fé, rasga as crenças do povo. Entra, todos o consentem, no centro das famílias, sem haver sacudido o pó das torpezas que lhe nodoa as sandálias. Dominou moralmente as massas, os espíritos fracos, as consciências virgens.
Esta transformação do parasita não tende por ora a desaparecer; a fogueira de J. Huss não queimou só o grande apóstolo, devorou também o vestíbulo desse edifício de miséria levantado por uma  turba de parasitas, parasita da fé, da moralidade e do futuro...]

J. Huss sendo levado para a fogueira


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

E se o Ziika inviabilizar as olimpíadas?

"E o Dr. Rieux, que olhava para o golfo, pensava nas fogueiras
citadas por Lucrécio e que os atenienses atacados pela doença acendiam à beira do mar. Levavam os mortos para lá durante a noite, mas o lugar era pequeno e os vivos batiam-se a golpes de archote para colocarem os que lhes tinham sido queridos, sustentando lutas sangrentas para não abandonarem os cadáveres. Podia-se imaginar as fogueiras rubras
diante da água tranqüila e escura, os combates de archotes na noite crepitante de fagulhas e densos vapores envenenados subindo para o céu atento. Podia-se recear. . ."
Do livro A PESTE, de A. Camus 





Apesar dos desmentidos diplomáticos e da mentirada burocrática, já começou a circular pelo planeta afora a idéia e a possibilidade dos atletas do mundo inteiro, com medo do mosquito, não virem participar das Olimpíadas no RJ.  É evidente que poderia ser diferente se, pelo menos, tivessem despoluído a lagoa, desratizado os bueiros, mudado a rota dos esgotos e amenizado os mangues...

Em tempo: Independente do pobre Aedes aegypti, um estudo mais ou menos recente aponta 36.194 mortes e 65.102 internações na rede pública de saúde do Rio devido à poluição, sendo 14 mortes por dia em todo estado, representando um gasto público de R$ 82 milhões, entre 2006 e 2012. Quer mais?

Portanto, é mais do que compreensível que até os atletas do Kênia já ameaçam abandonar a idéia de vir à cidade maravilhosa. 
E digo até, porque o nome Zica dado a esse vírus, é uma referência a uma floresta de mesmo nome que existe na República de Uganda, onde o vírus foi identificado por primeira vez na década de 40. 
E a bizarrice e o alarme aumenta quando se descobre que o Kênia, justo o Kênia, faz fronteira com a Uganda (atenção: eles sabem do que se está falando)... 
Sem preconceitos idiotas, mas isto nos faz lembrar e associar essa estória com aquela música dos anos 70, cantada por dois baianos, que dizia: o Haiti é aqui...



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Cervantes também foi preso por corrupção...


Don Quixote lendo
(Pintura de H. Daumier)

Hoje (terça-feira de carnaval) encontrei por casualidade o mendigo K. em frente a um prédio abandonado do setor hoteleiro norte, prédio em ruínas e pronto para desabar que há uns dois meses foi invadido por seus companheiros de luta, uma  mendigada esfarrapada e delirante (quase uma centena de homens, mulheres e crianças que lembram os da Idade Média) que esmolam e trepam por aí e que nas horas de folga ou quando a noite cai se albergam nesses escombros para repousar e acender seus cachimbos improvisados entupidos com pedras de cocaína. Inclusive, foi essa mendigada que antes de ontem, em plena folia carnavalesca, (vi nos jornais), tomou a iniciativa de incorporar-se num dos blocos tradicionais da cidade quando este passava pelo local e, o mais curioso, deu tudo certo. Ninguém discriminou ninguém, as cuícas seguiram gemendo, as fantasias se confundiram e as fumaças também...  E a policia, louca para "cumprir seu papel", quase por milagre, conseguiu manter-se à distância, sem sacar os cassetetes e nem as armas... 
Veio ao meu encontro descalço, com uma bolsa branca do UNICEF atravessada no peito e com esta novidade: 
- Sabias que Cervantes, o autor do tão badalado Don Quixote de la Mancha era um funcionariozinho público e que foi preso por corrupção? 
Inicialmente achei que estava me gozando, que tivesse fumado demais ou coisa parecida, mas quando ele retirou de baixo da camisa um livro cujo titulo era: Dom quixote, o cavaleiro da triste figura, publicado pela Scipione, com tradução e adaptação de José Angeli, passei a levar o assunto a sério.  Como percebeu minha surpresa, antes de partir ironizou:
- Portanto, chega que escandalizar-se com a atualidade.., o mal vem de longe!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Uma revolução sem fé...











Noticias que nos chegam da pantomima eleitoral nos EEUU, onde a guerra entre sexos tanto na política como fora dela, ganha espaço dia trás dia, informam que uma senhora de quase oitenta anos, - não sei se também candidata à Presidência da República ou apenas um cabo eleitoral - proferiu esta eloquente frase: "Existe um lugar especial no inferno para mulheres que não apoiam outras mulheres...

Nós que achamos os políticos de todos os sexos e de todos os matizes e inclusive a política em geral de todo o continente uma verdadeira cloaca, não nos cansamos de recitar uma das clássicas frases do velho Cioran:

[... Uma mudança total, mesmo que fosse inútil, ou uma revolução sem fé, é tudo o que ainda se pode esperar de uma época em que já ninguém tem honestidade suficiente para ser um verdadeiro revolucionário...] 

Manhã de carnaval...






Para ouvir a música clicar no canto esquerdo da faixa


Até o sol amanheceu meio sonolento, meio de ressaca e meio envergonhado nesta segunda-feira de carnaval. Os pedreiros não apareceram na construção ao lado... 
Como todos os anos, a simulação de felicidade, apesar de um ou outro assassinato, tomou conta do país (em ruínas), de um extremo à outro, sempre com a gang da publicidade e com os abutres da propaganda no rabo dos foliões... televisionando, noticiando, incentivando, simulando e até interpretando psicanaliticamente o rebolado, os pulos, as depilações, os buracos, as cores das fantasias e as banhas daquele arremedo de circo... e, claro, sempre com aquela voz melosa de fundo se esforçando para fazer uma espécie de "antropologia" e até de "critica cultural" daquela barbárie... Sempre e sempre com o objetivo de engabelar as massas que, umas excitadas, outras sonolentas, com uma panela de pipoca e meio litro de cachaça sobre as virilhas, assistem tudo de casa, sem perceber os esgotos que transbordam na avenida e sem identificar a corja da propaganda que é quem define o foco das câmeras...   
Até mais do que as frequentes marchas religiosas, esta festança profana reúne uma trupe inacreditável de cabotinos. Claro que no meio daquela frenética multidão há também os ingênuos, os simplórios, umas pobres donas de casa, muitos desgraçados que vão ali buscar algum tipo de pó e de ilusão, muitos babacas úteis e outros tantos bois de piranha, mas na essência e no geral trata-se de um cipoal de marreteiros e de vivaldinos, todos empenhados em turvar as águas para dar impressão (aos outros e a si mesmos) de liberdade, sensualidade, inteligência, de alegria e até de profundidade...

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A vida amorosa e barulhenta dos gatos...

criar um blogNos últimos dias, sempre que chega a madrugada um casal de gatos (ou um grupo) se embrenha em aventuras amorosas aqui por debaixo de minha janela e faz tremer as varandas do prédio com seus miados, não sei se de dor, gozo ou de sacanagem.
Já cheguei a ir até a vidraça com um dedo no gatilho, mas recuei. Afinal, quem é que não tem um amor especial pelos felinos? Acendo as luzes, coloco o adágio em G menor de Albinoni na radiola e espero. Quando tudo se acalma, penduro a carabina atrás da porta (como fazia meu avô) e volto para debaixo das cobertas

Segundo o artigo abaixo, escrito por Renato Grandelle e publicado no Globo no dia 29-01-2013, criar um blog Os gatos matam até 3,7 bilhões de pássaros por ano nos EUA.   

 "Levados a praticamente todas as regiões do planeta pelo homem, o gato conquistou uma legião de adoradores e presas. O felino está entre as cem espécies invasoras que causam maior estrago no mundo. Suas garras contribuíram, mesmo que indiretamente, para a extinção de 33 mamíferos, aves e répteis em ilhas oceânicas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Em áreas continentais, porém, seu impacto sempre foi negligenciado. Um estudo, publicado esta semana pela revista “Nature Communications”, dedicou-se a este levantamento. E mostra que os bichanos matam anualmente entre 1,4 bilhão e 3,7 bilhões de pássaros e entre 6,9 bilhões e 20,7 bilhões de mamíferos apenas nos Estados Unidos. Segundo a estimativa, cada gato americano mata 1.443 bichos por ano — ou 3,95 por dia. O número de aves predadas foi considerado o mais preocupante. Seria quatro vezes maior do que os registrados até hoje. Aves nativas do país, como o pisco-de-peito-vermelho, estão entre as mais ameaçadas pela fome felina. Na área continental dos EUA, há mais animais mortos pelos felinos do que por atropelamento, colisões com prédios ou envenenamento. — Os gatos são as maiores ameaças à fauna americana — revela Pete Marra, pesquisador do Instituto Smithsonian de Conservação e Biologia (SCBI) e coautor do estudo, que contou com a colaboração do Serviço de Pesca e Fauna dos EUA. — Esperamos que a grande faixa de mortalidade indicada por nosso levantamento convença os donos de gatos a mantê-los dentro de casa e alimentados. Gatos selvagens matam três vezes mais Além dos pássaros, a dieta dos bichanos abrange de ratos a coelhos, passando por esquilos. Os gatos ferais — que vivem soltos na natureza e dificilmente se adaptariam ao contato com humanos — são os que mais dependem da caça. Eles predariam até três vezes mais animais do que os gatos com dono. Marra, porém, ressalta que a mortalidade provocada por felinos como fazer um blog urbanos também é digna de apreensão. — Este levantamento deve servir de alerta para políticos, autoridades ligadas à preservação de animais e a cientistas para o grande perigo causado por estes felinos — enfatiza. Em regiões da Califórnia e do Canadá, por exemplo, gatos não podem viver fora de casa. No Brasil, porém, nenhuma política semelhante chama a atenção, mesmo com o crescimento anual de 8% da população de felinos. O país tem um bichano para cada nove pessoas. Ironicamente, as medidas restritivas são maiores contra o arquirrival dos felinos. Florianópolis chegou a aprovar um programa estipulando que cada cachorro deveria ser cadastrado na prefeitura e paramentado com um chip. Aqueles que não estivessem com o equipamento poderiam ser sacrificados. A lei não pegou. Bióloga do Instituto Hórus, especializada em conservação ambiental e no estudo de espécies invasoras, Michele Dechoum condena o descaso brasileiro com a matança promovida pelos gatunos. Para ela, a prioridade seria adotar medidas de controle do acesso a felinos em áreas de conservação ambiental e nas zonas de amortecimento — a faixa de aproximadamente dez quilômetros ao redor desses ecossistemas protegidos. — Tem gente que não dá comida e acha que o gato se vira, que é independente — lembra. — Quando falamos de manejo de fauna invasora, o principal obstáculo é a oposição da opinião pública. Não vou condenar o animal, mas é importante conscientizar o dono sobre o impacto que o bicho pode provocar. Como a diversidade de espécies é maior aqui do que nos EUA, estima-se que os felinos brasileiros teriam à sua disposição uma variedade de presas ainda mais relevante. — É difícil dizer se os gatos brasileiros predam os mesmos animais, e em uma quantidade maior, do que os americanos — lamenta Michele. O Reino Unido recomenta uma medida simples que reduziria o sucesso das emboscadas felinas — e, assim, o impacto dos bichanos à biodiversidade. De acordo com a Sociedade Real para a Prevenção de Crueldade contra Animais, uma coleira com um sino é suficiente para os gatos matarem 41% menos aves e 34% menos mamíferos do que os felinos sem o artefato".

O tango preferido por J.L.Borges...




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sábado, 6 de fevereiro de 2016

Não digas: "que silêncio!". Digas: "Eu não ouço nada!"

[ Une nuit, sur les remparts d'une ville, un vieil homme se promène avec une jeune élève. Autour d'eux, la campagne et plus loin le désert. 
Au-dessus d'eux, le ciel étoilé. Le jeune élève dit:
-  Quel silence... 
Le vieil homme le corrige:
 - Ne dis pas - "Quel silence". Dis: "Je n'entends rien..."]  
Do livro: Paroles persanes. (Albin Michel)

A ascensão da hipocondria... Viva a hipocondria!

"Simbolos de vida: a crueldade, o fanatismo, a intolerância.
Simbolos da decadência: a amenidade, a compreensão, a indulgência..." E.M.C.

Há por aí quem diga que até o peido já está transmitindo a chicungunha e o vírus Zika. 
Mas se fosse só isso ainda haveria possibilidade de sobrevivência, o problema é que o elenco de doenças e de perigos patológicos com que a mídia tem bombardeado os pobres mortais com seus miseráveis corpos é imenso, e que é provável que essa obsessão preventiva possa até ser a maior e a mais sofisticada de todas as patologias. Uma espécie de perversão, de sadismo, de fomento e de culto à angústia e à hipocondria.
Só nos últimos dias - por exemplo - vi estatísticas, alertas, entrevistas e notícias sobre o câncer (em todas suas variações), a tuberculose, a AIDS, ao HPV, a artrite, ao diabetes, a hosteoporose, a degeneração neurológica, ao infarto, a obesidade, a gota, ao glaucoma, ao derrame cerebral, ao colapso dos rins, ao alzheimer, ao hipertireidismo, ao inchaço da próstata, a perda de visão, a hipertensão, ao apodrecimento do fígado, e claro, a depressão que, segundo os sábios da OMS, será o mal maior deste século em diante.  Mas, afinal, que bosta de corpo é este!?  Por mais céticos que sejamos, tudo isto nos faz acreditar cada vez mais naquilo que dizia um poeta curitibano, "viver é prejudicial à saúde"...