sábado, 19 de abril de 2014
Ainda... a respeito de Garcia Marquez....
Sem estar querendo aproveitar a morte de Garcia Marquez para fins cretinos & mesquinhos, registro aqui algumas das partes que mais me "interessaram" em um de seus últimos livros: Memoria de mis putas tristes.
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I. Era muito menino quando ouvi dizer que se uma pessoa morre os piolhos incubados no couro cabeludo escapam apavorados pelos travesseiros para vergonha da família. ( p.12) Quer dizer, me digo agora, que desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte.
II. Nessa época ouvi dizer que o primeiro sintoma da velhice é quando a gente começa a se parecer com o próprio pai.
III. É um triunfo da vida que a memória dos velhos se perca para as coisas que não são essenciais, mas raras vezes falhe para as que de verdade nos interessam... (p.14)
IV. Nunca participei em farras de grupo nem em contubérnios públicos, nem compartilhei segredos nem contei uma só aventura do corpo ou da alma, pois desde jovem me dei conta de que nenhuma é impune... (p.p16,17)
V. Ai senhor, disse ela, com um queixume lúgubre, isso não foi feito para entrar, mas para sair. (p.17)
VI. Fui um mau professor, sem formação, sem vocação nem piedade alguma por aqueles pobres meninos que só iam à escola por ser o jeito mais fácil de escapar da tirania dos pais. ( 19)
VII. Nunca tive grandes amigos, e os poucos que chegaram perto disso estão em Nova York. Quer dizer: mortos, pois é para lá que eu acho que vão as almas penadas para não digerir a verdade de sua vida passada. (p. 20)
VIII. Minha únicas viagens foram quatro aos Jogos Florais de Cartagena de Índias, antes dos meus trinta anos, e uma noite ruim na lancha a motor, convidado por Sacramento Montiel para a inauguração de um de seus bordéis em Santa Marta. (p.21)
IX. Ela tem uns catorze anos. Eu não me importo em trocar fraldas, disse a ela em tom de burla e sem entender seus motivos. Não é por você, disse ela, mas quem vai cumprir por mim os três anos de cadeia? (p. 22)
X. No final dobrei para dentro as barras das calças para que ninguém notasse que com a idade eu diminuíra quatro dedos... (p. 24)
XI. Antes de sair do quarto cheguei perto do espelho da pia. O cavalo que me olhou do outro lado não estava morto mas lúgubre e tinha uma papada de Papa, as pálpebras inchadas, e mirradas as crinas que haviam sido minha melena de músico. (p.33)
XII. Naquela noite descobri o prazer inverossimil de contemplar, sem as angústias do desejo e os estorvos do pudor, o corpo de uma mulher adormecida. )p.35)
XIII. A casa, como todo bordel ao amanhecer, era a coisa mais parecida com o paraíso. (p. 36)
XIV. A quem me pergunta respondo sempre com a verdade: as putas não me deram tempo para casar. (p.45)
XV. Maldição, pensei, como o rubor é desleal. ( p. 50)
XVI. Desliguei o telefone, saturado por um sentimento de libertação que não tinha conhecido na vida, e, finalmente a salvo de uma servidão que me mantinha subjugado desde os meus treze anos. (p. 52)
XVII. Acho contra a natureza que um homem se entenda melhor com seu cão que com sua esposa, que o ensine a comer a a descomer na hora certa, a responder perguntas e a compartilhar suas penas. (p.59)
XVIII. Noviça apaixonada aos vinte anos, puta de salão aos quarenta, rainha da Babilônia aos setenta, santa aos cem. Cantávamos duetos de amor de Puccini, boleros de Agustin Lara, tangos de Carlos Gardel, e comprovávamos uma vez mais que que aqueles que não cantam não podem nem imaginar o que é a felicidade de cantar. (p.69)
XIX. O melhor bailarino de bordel que jamais existiu, e de coração tão bom que tinha pena do diabo. (pp.71,72)
XX. Tomei consciência de que a força invencível que impulsionou o mundo não foram os amores felizes e sim os contrariados (p.75)
XXI. É impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é. (p. 107)
XXII. Desde então comecei a medir a vida não pelos anos, mas pelas décadas... (p.119)
XXIII. Ainda assim, quando despertei vivo na primeira manhã de meus noventa anos na cama feliz de D. me atravessou a idéia complacente de que a vida não fosse algo que transcorre como o rio revolto de Heráclito, mas uma ocasião única de dar a volta na grelha e continuar assando-se do outro lado por noventa anos a mais... (p.120)
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Linda homenagem a este grande escritor!
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