quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ainda nos parecemos muito mais ao antropóide de Darwin que ao Penseur de Rodin...


Depois de algumas semanas de retiro nas montanhas infernais de Goiás Velho, o mendigo K reapareceu. O encontrei absorto e até com aspecto mais jovial numa das trilhas de um pequeno parque aqui da cidade, aquele que nos últimos meses foi invadido por coelhos. Segundo noticias recentes, são quase uma centena, brancos, cinza e pretos mergulhados nas profundezas de suas tocas. Para desespero dos mais delicados, dizem que serão caçados e levados como sobremesa para os tigres e os falcões do zoo. 
Confidenciou-me que nesses tempos de retiro e de ausência esteve hospedado num casarão imenso de onde podia desfrutar do reflexo azulado e artificial de um lago onde havia diariamente champanhe e o tim tim de taças trazidas da Bulgária.., tudo na penumbra de um imenso candelabro de marfim... e mais, que estava com dois assuntos importantes em pauta. O primeiro, tratava da nudez da chanceler alemã Angela Merkel. Retirou da enorme mochila que levava às costas a página de uma revista estrangeira e exibiu-a como um troféu e com uma estranha satisfação. É esta aqui da esquerda, ainda quando era estudante de física - foi dizendo. Não é uma maravilha ver uma chanceler nua? Quem diria que por debaixo da máscara burocrática daquela senhora existe, ou já existiu, todo esse material?
Idolatrou por alguns minutos a foto daquelas três mulheres, voltou a guardá-la com cuidado na mochila e prosseguiu: a segunda questão, é a respeito da tal Odebrecht. Lembra desse nome? Na década de 80 o pessoal da esquerda (os comunistas, os socialistas, os anarquistas) preferia ouvir falar do demônio antes de ouvir alguma menção a Odebrecht. Lembra? Todo mundo dizia que eram os gringos infiltrados, que a empresa pertencia ao senador Malvadeza, que era o espólio da ditadura, que tolera-la entre nós seria o fim da soberania e até da pátria etc. Lembra? Pois bem, agora a Odebrecht está praticamente se tornando dona do país. Constrói estádios, acaba de comprar os aeroportos, a grande maioria das estradas etc.., etc.., etc,.. E os antigos comunistas, socialistas e anarquistas??? Comemoram felizes o sucesso dos negócios e ninguém da um pio. 
Diga-me: o que aconteceu neste Olimpo de safadezas? O que foi feito com nosso antigo Evangelho de macunaimas?
  
Coloquei a mão direita sobre seu ombro e sem nenhuma ilusão pedagógica arrisquei esta resposta: Fialho de Almeida diria que isso se deve ao fato de que  ainda nos parecemos muito mais ao antropóide de Darwin que ao Penseur de Rodin:


terça-feira, 26 de novembro de 2013

E o papa inquietou-se com as libélulas...

Ontem conheci um senhor na Feira do livro que além de católico praticante é chargista, dá cursos de desenho etc. Como acompanha meus escritos desde muito tempo, relatou-me que em 2011 o papa Ratzinger respondeu um de meus textos - Cadê o Deus das libélulas? - publicado em 2008 num site chamado INFORUM.
Diante do meu ceticismo relatou ter checado as fontes e que tudo evidencia que não se trata de "fake", mas sim de um legítimo comentário do velho representante de deus na terra, já que - segundo ele - é sabido por todos os católicos que o referido papa, saudoso da inquisição, dava-se o luxo de ficar bisbilhotando o mundo atrás de ateus e de hereges...
Mais tarde resgatou e me enviou o tal texto, - o meu e o do "papa" -, com a seguinte reflexão:
"Se for 'Fake' , a pessoa conheceria muito bem os hábitos do velho lobo. Que conforme autobiografia, o seu hobby predileto, teria sido cuidar das obras da biblioteca do vaticano. E por sua vez na internet, vasculhar o trabalho de pensadores de adversários e refutar suas idéias nos grupos de notícias. Isto é depoimento dele mesmo. Possuo o vídeo no meu escritório.
No seu caso, penso que vc tem um trabalho proeminente e deve estar também na sua lista.
Como o ex-papa esteja bastante debilitado pela velhice, pode ser que deixou de lado este ofício. De qualquer forma o meu raciocínio está em que vc, como qualquer outro que rema contra a maré, coleciona fileiras de adversários. Mas que ironia ter que falsificar uma identidade? A impressão que tenho é que o próprio Ratzingher não iria bater e esconder a face, não acha? Como foi breve a sua assertiva também a resposta foi curta e sintética.
Mas, é de morder os lábios em saber que isto é de um falsário pé rapado!"

Mensagem:

Data: 26/02/2008 18:31:28
De: Ezio Flavio Bazzo IP: 189.27.22.210
Assunto: Cadê o Deus das libélulas?


CADÊ O DEUS DAS LIBÉLULAS?
É curioso que os ecologistas em geral tenham uma
obsessão tão rigorosa pela preservação das matas,
das árvores e dos cipoais milenares, mas não deem
 um pio sequer a respeito do aniquilamento das formigas
e de outros insetos. A mim, as devastações em curso,
 se me angustiam, é porque me fazem pensar nos besouros,
 nas aranhas, nos mosquitos e nas incontáveis espécies de
lagartas que são cotidianamente varridas do mapa. Quanta
 mosca expulsa de seu habitat! Quantos gafanhotos incinerados!
 Quantas libélulas, percevejos e mariposas pisoteadas!
Onde estaria o Deus que – segundo os criacionistas – teria feito
 germinar toda aquela fauna e toda aquela flora? Que significa
 esse seu silêncio milenar? Por que teria feito cumplicidade com as
motosserras, com as labaredas e com os bandidos? Independente
 das fúteis justificativas dos crentes a frase de Anatole France
 continua conclusiva: Mesmo que seis bilhões de pessoas
 acreditem numa balela e numa mentira, ela não deixará de
 ser uma balela e uma mentira.

Mensagem:

Data: 07/06/2008 18:36:16
De: Joseph Alois Ratzinger (joseph@vaticano.org)
IP: 189.123.240.214
Assunto: Re: Cadê o Deus das libélulas?


Re: Cadê o Deus das libélulas?
Vai ver que as libélulas não tiveram fé o bastante e não rezaram com fervor suficiente..... Assim foi quando você não passou no vestibular....

Verdadeiro ou não, vale pelo folclore. E depois, sempre é bom manter viva a memória dos tempos do malleus maleficarum. Se tivesse tomado conhecimento desse assunto à época, teria respondido assim ao "pontífice": Não passou no vestibular!? Ora Santíssimo padre.., o que tem a ver o cu com as cuecas???

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Lavabo inter innocentes manus meas...

Pelo menos até ontem a noite não havia água para lavar-se as mãos no barracão onde acontece a Feira do livro de Brasília. Com 1 milhão e 300 mil que o governo confessa ter gastado para viabilizar o evento, qualquer contador ou síndico sabe que daria até para instalar uma cachoeira de água mineral lá no meio das estantes e dos livros...  E depois, mesmo para quem nem acredita na existência de bactérias, vírus, coliformes fecais e etc., é um baita desrespeito! Para que tem servido até hoje a tal literatura, a poesia, os contos, os ensaios, a Enciclopédia médica e a parafernália toda ligada ao mundo das letras, se até aqui não ensinou sequer aos governantes e a seus lacaios que lavar-se as mãos é crucial para a "felicidade" e para a "sobrevivência" e que, inclusive, a invenção do sabão aconteceu bem antes que a engenhoca de Gutemberg? Imaginem o sujeito cheio de pompas e de lencinho branco enfiado no bolso do paletó comprando um manual de 469 páginas sobre higiene e saúde ou mesmo a apostila Mudanças de hábitos do Dr Albert Mosseri exatamente das mãos de um livreiro que, desde manhã, está ali sem ver uma gota de água... Para o surrealismo e o paradoxo serem totais, só falta mesmo um busto de Osvaldo Cruz ao lado do fórum dos literatos! 
Apesar dos disfarces, continuamos patinando no essencial! É evidente que o rei está pelado, e mais, com perebas visíveis por todo o traseiro...

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os cânones da reprodução... e do coitus interruptus...

Quem ja estava apavorado e atordoado com a superpopulação do planeta, com esse excesso descabido de almas penando e se digladiando inutilmente por aí ficou chocado e levou um susto com a noticia de que a velha China liberou seus cidadãos para a reprodução. Lá, que até ontem os casais só podiam parir Um, agora estão todos desobrigados do controle e, consequentemente, do coitus interruptus... De um bilhão e duzentos milhões atuais, aqueles comedores de escorpiões correm o risco de em apenas nove meses, saltar para quase dois bilhões... Que desvario inconsequente!!! Apesar do ideário repetitivo e idealista de nossa Alma-Mater, apesar dos espiritistas, dos discípulos da grande prole e da psicologia poética, dos buscadores da paz crepuscular e dos raios divinos, tudo indica que nosso arcabouço genético e transcendental não se difere em quase nada do dos coelhos e dos ratos. Comer e copular! Eis aí nossas mais elevadas finalidades...

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Melancholly...

600 homicídios só nestes 11 meses de 2013 aqui no território do Distrito Federal. Vou repetir: seiscentos! Claro que ninguém dá bola para isso, mas imaginem como seria estética e moralmente transcendente se esses 600 cadáveres estivessem empilhados ou amontoados lá na Praça dos Três Poderes ou apodrecendo ali em frente à Catedral... Que lhes parece? Imaginem uma vintena de urubus pousados sobre os cristais de Mariane Peretti e outra dezena afiando o bico lá nos andaimes do mastro da bandeira... E esse número, prestem atenção, não inclui os que são assassinados nos municípios goianos fronteiriços, pois se incluísse, jogaria as estatísticas lá para as nuvens. Claro que ninguém está nem aí, nem os humanistas, nem os cardecistas, nem os iluministas... Quem é que estaria disposto a perder uma noite de sono pelo cadáver de um anônimo crivado de balas? E depois, apesar das mais variadas demagogias e dos mais cretinos disfarces, todo mundo, no fundo, pensa como Stálin para quem uma morte era uma desgraça, mas milhares de mortes apenas um dado estatístico...
E a neurose do natal já foi detonada. Todo mundo já está com pressa, até os mendigos e aqueles que não têm absolutamente nada para fazer... Como o cão que aguarda as sobras e os ossos, os comerciantes esperam pelo tal Décimo Terceiro do bando. Perus, bacalhaus, espumantes, panetones quase de plástico, uma calcinha branca para a "passagem" de ano, as promessas e as idiotices de sempre...  O Papai Noel já desponta lá na esquina e vem com seu saco repleto de porcarias. Adote uma criatura para você! Diz a moça da rádio FM. Faça uma criança ou um velhinho feliz! Diz o malandro do semáforo. E os promotores começam a selecionar aqueles bandidos que têm direito ao indulto e à clemência de natal. Apesar do teatro, a espécie estrebucha. Por todos os lados, vestígios da famosa melancholly...

domingo, 17 de novembro de 2013

A cadeia e o Portal do Paraíso...

"O homem é covarde, simplório e ingênuo. Ama demais a vida, teme demais os outros homens...(...) Venderia minha alma para me ver livre da prisão, mas não daria um só dia de trabalho honesto ou me 'comportaria' por um instante para conseguir a mesma coisa"
J.H.Abbott

A cidade tem os batimentos cardíacos alterados. A cadeia mexe com todo mundo. Uns de pena e de solidariedade, outros de contentamento e de vingança. Outros simplesmente se divertem. Os presos fazem de tudo para manter a coluna ereta e um certo ar de heroísmo. Mas sabem que estão blefando. Tanto eles que estão lá como "vassalos" sendo humilhados pela "tirania estatal" como nós que assistimos esse detalhe mórbido sabemos que ninguém é verdadeiramente inocente. E é evidente que diante dessas cenas, tanto a "esquerda", como a "direita", como os "liberais" e até mesmo como os alienados dos mais diversos pedegris devem experimentar secretamente o mesmo sentimento de desespero, nojo e solidão. Ninguém ignora que de uma maneira ou de outra sempre procuramos colocar no sujeito que vai preso parte também de nossos crimes, de nossas loucuras e de nossas culpas. Que fique lá apodrecendo atrás dos muros e das grades por vinte ou trinta anos, isto nos dá a ilusão de cura e de redenção pessoal... Se a vida em si já é uma espécie de hospício penitenciário, ir preso é mais ou menos como passar por um agravamento da condição humana e da pena. Um homem, um tigre ou um falcão enjaulado! Raciocinem. O que existe de mais impiedoso, rancoroso e absurdo? Qual crime é mais terrível e absurdo que o confinamento de um ser num cárcere, numa jaula ou numa gaiola, principalmente se lembrarmos que a longo prazo todos estaremos mortos? Ah, puras bobagens e puros sintomas da precariedade da condição humana! 
Como escreveu o preso J.H. Abbot: "o confinamento solitário, em um presídio, é capaz de alterar a composição ontológica de uma pedra..." 
Mais que os outros condenados talvez o Pizzollato tenha tido consciência de tudo isso e deu no pé... Correu de volta para suas origens em busca do berço perdido que, aliás, prestem atenção no designer tradicional, já é a primeira de nossas prisões... 
 Talvez, a esta hora, esteja disfarçado de cínico feirante lá nos arredores do batistério de Florença coçando os bigodes e meio boquiaberto com as ilusões renascentistas impressas no Portal do Paraíso...

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Justin Bibier e Pinel...

Muita gente que, como eu, sentia um certo repúdio visceral pelo pequeno fedelho canadense, depois de sua tumultuada passagem por aqui e pela Argentina começou até a simpatizar com ele. Primeiro, apesar da gritaria das filhas e netas do proletariado disfarçadas de petite bourgeoisie, abandonou o show pela metade no RJ. Depois, tentou levar para sua suite principesca, ao invés das cocotinhas do Leblon, cinco ou seis vadias de aluguel e, mais tarde, saiu pela noite esmerdeando os muros e as paredes cariocas. A policia e alguns moralistas fingiram indignação, mas ele deu uma banana para todo mundo, pegou o avião e as malas cheias de dinheiro e caiu fora.
Em Buenos Aires parece que foi mais radical ainda: teve até ânsia de vômito no meio do espetáculo e deixou a platéia macaqueando-se e decepcionada. Parece que quebrou umas porcarias no hotel onde estava hospedado (de onde foi enxotado), e literalmente pisoteou a bandeira argentina. Que estará pensando encenar na pátria de Pinochet? 
Mesmo que seja puro marketing, artimanhas de seus gigolôs para dar-lhe um ar de Jim Morrinson ou de Rimbaud (Qual é o marqueteiro que não sabe que "heroicidade" é uma coisa irresistível para as adolescentes e até para balzaquianas latinas?) essas façanhas quase hebrefrênicas simbolizam muito bem o sentimento que forasteiros, até do porte dele e de seus adestradores, têm por nuestra américa, por nuestras leyes y por nuestra gente...  
Prestem atenção como as nações pelas quais mais se devota desprezo são as nações corruptas e aquelas onde o discurso da justiça, dos políticos e das massas é ambíguo e esquizoide e onde ao invés de se investir espontaneamente no bem-estar e na grandeza pessoal se facilita e se faz de tudo para promover a desgraça coletiva e a servidão.
E por falar em desgraça e servidão, acabo de ler o Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex. Leiam. As loucuras ocorridas dentro e fora daqueles muros em Barbacena, de 1930 a 1980, nos ensinam sobre o caráter e sobre a  indiferença nacional, muito mais que os livros de Gilberto Freire e de Darcy Ribeiro juntos. Em outras palavras: para saber como é o caráter e a "alma" de um povo e de uma nação basta saber qual é o tratamento que disponibilizam a seus doentes mentais. Basta dar um giro por seus asilos, manicômios, prisões e hospitais psiquiátricos. No Brasil existem ainda uns 200, quase todos causariam espanto e horror ao velho Pinel.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A alma encantadora das ruas...

"Músicos ambulantes! Um momento houve em que todos desappareceram, arrastados por uma subita voragem (...) Apezar dos graphophones nos hoteis, nos botequins, nas lojas de calçados, apesar da intensa multiplicação dos pianos, elles foram voltando, um a um ou em bandos, como as andorinhas immigrantes, e, de novo, as tascas, as baiucas, os cafés, os hoteis baratos, encheram-se de canções, de vozes de violão e de guitarra e, de novo, pelas ruas os realejos, os violinos, as gaitas, recomeçaram o seu triumpho (...) Era impossivel passar sem os musicos ambulantes. A musica preside a nossa vida, a musica auxilia até a gestação, e, consista apenas na vóz, como diz Socrates, consista como pretende Aristoxeno na vóz e nos movimentos do corpo, ou reuna á vóz os movimentos da alma e do corpo como pensa Theophrasto, tem os caracteres da divindade e comove as almas (...) Quasi todos esses musicos ambulantes e aventureiros ganham rios de dinheiro, vivendo uma vida quasi lamentavel. No forro dos casacos velhos ha maços de notas, nos cinturões sebentos, vales ao portador. O publico pára, olha aquella tristeza, imagina no automatismo dos gestos, na face que pede, no sorriso postiço, a fome dos artistas, a miseria dos desherdados da sorte, e sonha as agonias, como nas operas, em que tenores morrem ao sól, sob um céo lindo, cantando..."
 João do Rio, em A alma encantadora das ruas.

















sábado, 9 de novembro de 2013

Eu fodo a sociedade, mas ela me retribui amplamente... (escrito nos muros de Paris)

E a corrupção pipoca por todos os lados! Poderíamos citar uns cinquenta ou cem nomes que já são até nacionalmente emblemáticos e que continuam por aí dando ordens, engendrando leis, indicando afiliados, sendo paparicados, bebendo bons vinhos, dando até receitas de longevidade e cagando para a opinião pública.  Por mais que você se desespere leitor e idealista compatriota, não há solução! 
Viver em Brasília tem pelo menos esta vantagem. Daqui se assiste a toda a movimentação que ocorre a cada novo governo. Daqui se pode  acompanhar os vagalhões de vivaldinos e as levas de cabos eleitorais que chegam de mala e cuia para assumir "cargos de confiança" e para "assessorar" este ou aquele novo mandatário. Já assisti a vinda dos do Maranhão, dos de Minas, dos de Alagoas, dos de SP, RJ, SC, etc, etc. E quase sempre são modestos eleitores, quase sempre indigentes cabos eleitorais, malandros, puxa-sacos, analfabetos suburbanos e crônicos que não têm a mínima noção da administração pública e do Estado, que não sabem fazer um memorando, que nunca redigiram um ofício, que não têm a menor idéia dos limites e das fronteiras do território nacional e muito menos da ética burocrática... Chegam como uns verdadeiros manés mas, rápidos no gatilho, logo vão se travestindo.  
Quem está há décadas, quase mofando atrás dos birôs da república, os conhecidos barnabés, sabem que a melhor coisa a fazer com esses novos predadores é passar-lhes depressa as dicas e as  espertezas-do-poder se não quiserem ser marginalizados,  ameaçados, prejudicados e acossados moralmente. 
E começam então a dar ordens! A burlar a lei, a fazer contratos escusos e clandestinos, a incluir os parentes na máquina estatal, a colocar a amante como chefe aqui e acolá, a abrir firmas fantasmas, a fazer contratos e viagens internacionais, a criar uma rede de escrocs que articula sujeitos lá do município, com sujeitos lá do estado com os daqui... enfim, a desfrutar plenamente de toda a putaria e de todas as vantagens que um apadrinhado tem e que todos os que estavam no poder antes dele já desfrutavam. Plantam cupinchas em diversas áreas e, conforme os orçamentos, fazem rodízios entre eles, dando aos ingênuos a impressão de que algo está mudando. Um espetáculo vil e mais asqueroso que o das antigas monarquias! E ninguém dá um pio. Os bancos e as agencias de automóveis logo os convidam para um cafezinho. As meninas de programas logo fazem chegar até eles suas fotos e seus preços... Os líderes religiosos os convocam para uma benção coletiva... Suas mulheres não saem do Iguatemi. Começam a andar de lancha no lago e a bebericar vodka na beirada das piscinas antes de ir para o escritório. Sabe com quem está falando! E todos os fins de semana estão na ala VIP (Very important person) do aeroporto. Felizes, o button do partido na lapela, cuequinhas de seda, os cabelos tratados pelo melhor cabeleireiro da city. E na outra semana, já de volta, os vemos por aí recepcionando as caravanas de sua região, gente do partido e gente da família que vêm conhecer o planalto, o Congresso Nacional, rezar uma Ave Maria na Catedral do ateu Niemayer, felicitar os novos senhores da República, andar descalços no Templo da Boa Vontade e pedir favores como fazem anualmente lá em Aparecida do Norte. Mesmo sem conhecerem muito bem a cidade, vão ciceroneando a turma por aí como se tivessem trabalhado com Lúcio Costa nos projetos. Levam dois ou três lacaios na retaguarda, todos empregados por eles, para deixar claro aos visitantes o poder que agora têm, o quanto subiram na pirâmide e que agora quem dá as cartas são eles etc. Recebem várias ligações de correligionários durante o trajeto a quem fazem questão de atender assim: e aí Presidente! E aí Senador! E a manada que vai submissa registra tudo, meio orgulhosa, meio invejosa. Quando crescer quer ser como eles. Distribuem cartões. Chefe de gabinete! Assessor especial! Diretor master! Secretario Geral! Membro da Comissão Y. Tesoureiro do partido! Um vai a Washington no mês que vem participar de uma reunião da FAO e na volta dará uma paradinha na Disneylândia e em Havana. O outro já prometeu levar a esposa para ver a Torre Heiffel... Um verdadeiro horror tribal! E não há solução

terça-feira, 5 de novembro de 2013

A loucura do sexo...


Segundo as últimas estatísticas o número de estupros cresceu quase vinte por cento no último ano e os casos de pedofilia, tanto na rede como "na vida real" estão em franca explosão. Recentemente a Alemanha teve que criar uma lei proibindo sexo com animais (zoofilia) para conter os 100 mil adeptos declarados do bestialismo daquele país, e a pornografia na internet nunca teve tantos discípulos e adeptos. Se foi o tempo em que havia apenas uma ou outra banca de jornais que vendia revistinhas pornôs por debaixo dos panos, passou o tempo em que todo executivo levava orgulhosamente sua Playboy na bolsa. Agora, há centenas de sites disponíveis a qualquer um. Tanto para crianças como para octogenários. Sexo ao vivo, de todas as formas e bizarrices, com cachorros, cavalos, senhoras, crianças, homo, hetero, bissexuais, pansexuais, incestos, cunnilingus fecais, sexo com gordas, sexo com anoréxicas, anões, sessões de tortura... O que está acontecendo com os camaradas? Com os hormônios, com os bagos e com o cérebro dos camaradas? E digo com os camaradas, porque a sexualidade feminina ainda é um tabu e elas (as mulheres) só aparecem nessas estatísticas como coadjuvantes, como estupradas e como vítimas. Qual é o sentido, a lógica e o fundamento dessa escravidão? Toneladas de Viagra e de sêmen inundam a América Latina e cresce o mito de que quanto mais pobre mais se tem que foder. Deus, com toda sua bondade, teria dado também aos pobres esse brinquedo e esse presente de grego... Só que tem uma coisa: quanto mais se trepa, mas fome se sente e mais horas se deve dedicar ao trabalho para garantir o combustível dessa obsessão. Até a auto-estima - segundo alguns psicólogos - nasce ou morre da sexualidade. Dificuldades de ereção? Sexo é vida! Consulte o doutor tal, diz a propaganda no horário nobre. 
E ali no Congresso Nacional, enquanto esta Sodoma e Gomorra se prepara para fornicar, as luzes azuis lembram sadicamente a todos esses erotômanos, que lá no fundo de suas entranhas existe uma glândula chamada próstata que, apesar de sua inutilidade, cedo ou tarde soltará seus demônios...

domingo, 3 de novembro de 2013

Desculpem o mutismo e o pó...

Não é estranho que até os mortos tenham seu dia? Dia este, no qual os cemitérios, os crematórios, as cruzes na beirada das estradas recebam visitantes, flores, orações, poesias, lágrimas, confissões de amor e de fidelidade, pedidos de desculpas, prantos, algumas renovadas queixas e até uma ou outra maldição? 
O morto se foi mas, por ironia, parece que do lado de lá do nada continua tiranicamente comandando a vida dos vivos e fazendo de tudo para manter presente em nós não apenas uma ou outra culpa, mas a consciência de nosso semelhante, trágico e nefasto destino... Apesar do mundo ser, segundo alguns esotéricos, o inferno de alguma longínqua galáxia, ou - segundo os céticos -, simplesmente uma zona, uma exótica penitenciária sem a possibilidade sequer de sursis, e onde todos estamos a caminho do cadafalso, morrer é algo sem sentido, bizarro, estúpido, nojento, degradante, punitivo, imoral... O funeral - observem - é a apoteose dessa indecência... 
E a idéia delirante e falaciosa da ressurreição só agrava ainda mais toda essa comédia.
Uma sugestão de epitáfio: "desculpem o mutismo e o pó!"

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Imaginem se eles tivessem lido o Manifesto de Marx/Engels...

Dois pintores de parede que faziam horas-extras nesta sexta de manhã aqui no espinhaço da república, filosofavam sobre o capitalismo nos seguintes termos: 
O que é mais abominável no capitalismo - dizia o mais magro, enquanto corria o rolo por um paredão cheio de grafites - é que ele possibilita que pessoas, independente de seus "méritos", possam ganhar rios de dinheiro, e que outras, independente de suas qualidades, desçam até os esgotos fétidos da existência. Esse verdadeiro aborto das relações de trabalho e das condições mercantis planetárias, por si só inviabiliza e até ridiculiza a todos os projetos que profetizam avanços sociais e que incensam discursos sobre dignidade humana. Entendes o que quero dizer? 
Claro, retrucou o outro, meio corcunda e que agitava o galão onde era diluída a tinta. 
Que jogadores de futebol analfabetos - continuou o primeiro -  bem como seus treinadores, ganhem dez, doze, vinte milhões por ano, é uma ignomínia nojenta! Que um ator, uma modelo ou algum outro  farsante do gênero fature trilhões do nada e para nada, e sob o silêncio marcial dos milhões de miseráveis do planeta, isso compromete o caráter da espécie. Que um apresentador de televisão (são inúmeros) fature dois três milhões por mês falando aquelas merdas que todos conhecemos e mediocrizando as massas, é uma afronta. Que um compositor ou cantorzinho de bosta, desses de samba ou de qualquer outro gênero que infestam por aí, possam viver como nababos apenas vendendo suas frescuras e porcarias, é uma indecência. Que essas semi piranhas que, do dia para a noite se tornam artistas, meninas propaganda ou cantoras, faturem rios de dinheiro mostrando as tetas e negociando sua lascívia carnívora, andando só de helicóptero e ainda por cima passando a ser consideradas "formadoras de opinião", é uma estupidez de tirar o sono. Tudo ilegítimo! Tudo uma farsa! Uma confraria de reles vagabundos! Tudo sujo! Tudo coroado de mentiras, mistificações e de roubalheiras. E ainda existem idiotas (quase sempre oriundos da desgraça e vivendo numa semi-miséria) que defendem e bajulam essa gente com unhas e dentes, sempre com o argumento "da livre iniciativa", de que só se os critica por inveja, e que eles, se são milionários, "fizeram por onde!", batalharam, deram seu sangue, foram mais inteligentes, perderam noites de sono... etecetera!
O papo terminou por aí. Segui meu rumo bastante fascinado com toda aquela lucidez e tentando imaginar como seria se aqueles dois escravos modernos tivessem lido pelo menos algumas páginas do Manifesto de Marx e de Engels...