Num mundo cada vez mais pasteurizado, mergulhado na mesmice, na burocracia e no tédio, pelo menos no mercado prostitutivo os cafetões e os proxenetas nova-iorquinos continuam inovando: inventaram os bordéis-móveis e as girls-cards. Agora, para “esvaziar-se”, o bizarro e secular “cliente” das putas não precisa mais enfrentar filas e trottoirs, nem ir de madrugada aos bordéis insalubres, perigosos, barulhentos, cheios vírus, de bêbados e de otários. Um caminhão que circula discretamente pela cidade levando a “mercadoria” funciona como alcova. Tipo um carro forte, uma dessas jamantas frigorifico, um ônibus-biblioteca ou mesmo uma ambulância de emergência, dentro da qual o pobre macho encontra “alívio” para sua estranha e interminável tensão que ele prefere chamar de tesão. E esse lupanar ambulante pode estar estacionado na esquina de tua quadra, num posto de gasolina, na beira da estrada, num pátio de igreja, em frente a um asilo de loucos ou em qualquer outro lugar insuspeito... Que tal? E dizem que cada uma dessas mulheres atendem até a 15 homens (pacientes) por dia... Já em Lhasa, a idílica e romantizada capital do Tibete, onde as putas chegaram junto com as tropas militares chinesas, o métier continua nos moldes antigos, confucianos e bíblicos: a rua, as casas a meia-luz, ateliers de massagens, bares etc. Segundo noticias, ali as mulheres com mais de 40 anos fazem programas até por 1 dólar...
É intrigante que normalmente só se olhe com espanto e com moralismo para a “escravidão” social DELAS, dessas “fêmeas" que se deixam enrabar por alguns trocados, mas e a escravidão sexual DELES, dos clientes? E a escravidão sexual dos “machos” ? Por que se concluiu que os enrabados profissionais são mais escravos que os enrabadores profissionais??? Elas, pelo menos, são escravas sociais que recebem por sua servidão. Eles, de uma escravidão fisiológica pela qual ainda têm que pagar... Heresia? Desatino? Calma!, calma!, Calma... Se essa escravidão é cultural, fisiopatológica, filogenética, neurótica ou metafísica, isso é secundário...
Mas..., enfim..., carecer de convicções a respeito dos homens e de si mesmo – escrevia Cioran – este é o elevado ensinamento da prostituição, essa academia ambulante de lucidez, à margem da sociedade como a filosofia...
Assunto pertinente: neste momento o Congresso Nacional vota secretamente a cassação de um senador.
Estranho mundo de seres que se consomem anônimos, atropelados, apropelando a vida, os sonhos e o melhor do humano. Estranho mundo construído na desesperança, na superfície dos instintos, no desiquílibro de si mesmo. Estranho mundo, caro Bazzo!!!
ResponderExcluirOra Ézio, sabemos que qualquer escravidão torna os seres menores diante do que poderiam ser. O grau da escravidão é simples de ser medido: a partir do exato momento em questão, olha-se para cima e observa-se quantos estão a exercer a função de mandante; se o que está sendo mandado "permite", isso é secundário... Ora, ora...
ResponderExcluirMelhor deixar que a inteligência humana leve todas as espécies até o respirar do último oxigênio, quem sabe, haveria a chance de novas bases serem constituídas; para o universo tudo isso é secundário, não é mesmo?
Bom que esteja de volta ao MuRRo! Você chegou a ir ao Tibet? O Tibet de hoje quase nada tem do Tibet de antes da ocupação chinesa, talvez a memória celular de seu povo... É verdade?
Há outras verdades a respeito desse tema, mas existe inegavelmente verossimilhança nas palavras do Bazzo em "Prostitutas Bruxas e Donas de Casa":
ResponderExcluir"Apesar do blábláblá vigente o bordel e a sexualidade ainda são elementos ansiógenos. Muitas vezes o cliente sente-se perdido no meio de tantos paradoxos. Se é difícil admitir o Canticum Sacrum de Stravinsky ali na zona é muito mais difícil ainda compreender como, uma mulher estranha, pública e bêbada pode ser muito mais desejável e carinhosa de que aquela "dona de casa" com quem se compartilha todos os dias, todas as horas e mesmo toda a vida. Seus olhos brilham de ingenuidade e de alegria. Claro que de vez em quando lembra da mãe com culpa e com horror, pois descobre que há algo dela na puta e algo da puta nela. Tanto nas horas de felicidade como nas de melancolia de um homem é comum que a imagem da mãe seja invocada e que ele regrida a uma espécie de fidelidade neurótica. A música, o conhaque, as promessas, a contravenção...Ali o tempo parece não ser corrosivo, não haver vestígios de Deus, nem de leis, nem de moralismos. Ali se tem a ilusão de que foram elas, as putas, as piranhas e as libertinas, livres da falsidade estabelecida, que edificaram tudo o que existe de melhor, transcendente e de mais respeitável neste planeta. E isto, sem nunca terem reclamado para si nenhum certificado, nenhum monumento, nenhum memorial e nenhuma efígie de bronze em praça pública!"
Ezio, tudo bem? Talvez vc não se lembre de mim, mas por uma destas incríveis coincidências, tive notícias suas pela Tamara (Srta. T. ) no blog do Claudio Willer. Um acaso mesmo. Pois eu soua Célia, nos conhecemos em Londrina, no fim dos anos 80, fiz algumas aulas de Yoga na casa da Lena Mariano e acho que tomamos pelo menos um porre de vinho na Adega Brasil...rs. Eu era amiga tb da Shirley Mesquita, lembra-se? Que já não está neste mundo...grande figura, imenso sorriso e olhos azuis. Enfim, passei pra dar um oi e deixar o endereço do meu blog (http://sensivelldesafio.zip.net). Tb estou no Facebook. Olha, ri com esta história de "caminhão-al cova"... na verdade, é cômico se não fosse trágico por toda a (É)ótica de consumo que paira por aí, assassinando sonhos...Um bj!
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