1. Depois
de muito tempo deparei-me com o mendigo K., ali pelos lados do Ministério da
Justiça. Levava um pacote de documentos dentro de um saco de plástico, papéis que,
segundo ele, iriam servir-lhe para arrancar uma boa indenização do Estado.
Quando lhe participei a noticia de que a estatua do Marechal Castelo Branco, no
Leme (RJ), havia sido esculachada por filhos, netos, bisnetos, parentes e até pelos
próprios torturados políticos respondeu-me a queima-roupa: deveria ter sido
derrubada. E não só a dele, mas qualquer uma das que foram levantadas por aí e
que lembrem aquele período de horror. Depois, num tom menos exaltado completou.
Aliás, se fosse por mim, não sobraria nenhuma. Derrubaria até a de José
Bonifácio com um prazer extremado. A de Dom Pedro e de sua família então, colocaria abaixo com um gozo imenso... Só
pouparia os cavalos onde esses crápulas normalmente estão montados... Esses pobres animais que entraram para uma história
espúria sem terem nada a ver com isso...
2. Eu que
até ontem afirmava que se pode conhecer facilmente o caráter de um povo
analisando seus rios, suas bibliotecas e suas cadeias, hoje estou convicto de
que também se pode traçar o perfil completo de uma nação e de sua gente ligando
seus liquidificadores. E digo isto depois que a vizinha do lado ameaçou-me de
morte caso eu voltasse a ligar o meu antes da nove horas da manhã. E não pensem
que ela está exagerando! Está coberta de razão... Admito que seu barulho é
praticamente igual ou pior que o de uma motosserra. Os talheres, as panelas, os
copos e até as vidraças tremulam quando está funcionando e o zunido do abacaxi
sendo triturado lembra ao de um tornado. E, pior: no mercado todos são assim. O
vendedor mencionou um tal “ultrassônico” que já existe em alguns lugares da
terra, mas só por lá...
3. Também
recebi as fotos de duas mulheres do grupo FEMEN fazendo uma desinibida performance
em defesa do parto doméstico e do direito de “dar-à-luz” ou de parir fora das
maternidades... em casa, numa piscina, em baixo de uma árvore... enfim, onde a
mulher bem quiser... É realmente muito esquisito os médicos acharem que o
nascimento deva acontecer no interior de um hospital, principalmente sabendo
como são nossos hospitais... Será que os sábios de plantão incluíram secretamente até a gravidez
na Classificação
Internacional de Doenças??? Para
um conhecido filósofo da UnB essa discussão é tola e quase primitiva. Para
ele a questão não é onde a criança vai nascer, se numa maternidade ou na casa
da parturiente, mas se ainda vale a pena e se não é um crime fazê-la nascer num
mundo tão desgraçado...