segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A PRÉ-RENASCENÇA É AQUI...

Quando quero relembrar as figuras do período da pré-renascença pego minha câmera e vou dar uma volta pela antiga rodoviária da cidade porque ali, mais do que em qualquer outro lugar os tipos que saem da toca do metrô com pequenos sacos ou malotes às costas, que chegam amontoados nos ônibus caindo aos pedaços ou dependurados em velhos carros clandestinos parecem realmente ter emergido do purgatório ou dos hospícios do século catorze. A pobreza, a desumanidade e os maus tratos tatuados em seus corpos são sinais e marcas inconfundíveis. A grande maioria, inclusive as meninas que tentam imitar melancolicamente nossas atrizes menores, vem de uma periferia carente e literalmente infernal (que nunca é mencionada lá nas surubas do G-20) para ir se humilhar em algum subemprego, para entrar em filas de exames e de consultas, para batalhar por algum benefício social, fazer alguma queixa na Delegacia de Mulheres, mendigar, tomar uns tragos ou um “passe” numa birosca disfarçada que há na parte superior da própria rodoviária. Outros vem para praticar pequenos furtos, arrombar carros, vender alguma porcaria, comer restos, fumar crack, encarnar o michê por algumas horas ou simplesmente para deitar-se à sombra nos gramados e ficar ouvindo o ronco das próprias tripas ou admirando o vai-e-vem sem fim das massas despedaçadas ali naquele espaço miserando, promíscuo, sujo, inadequado e sub-humano, enquanto um calor abrasador vindo do sertão goiano fervilha sobre as ancas largas desse limbo burocrático. A propósito, os banheiros e as escadas rolantes de lá não funcionam há quarenta anos. Quarenta anos! E já serviram para eleger vigaristas de todos os matizes, de direita, de centro, de nada e mesmo de esquerda. Tudo continuou igual. O que é grave nesse sistema político dito "republicano" é que ele não obriga o TSE a aplicar o Rorschach ou outro teste qualquer de personalidade nos pré candidatos em geral... Eleger bandidos e querer depois que se regenerem, exatamente quando estão com as chaves do cofre no bolso é de uma ingenuidade quase demente. Com as escadas rolantes e com os banheiros mencionados já foi gasto uma verdadeira fortuna, um valor maior até que o da própria rodoviária na tentativa de torná-las úteis a essa pobre gente, mas até agora não foi possível. Talvez ainda tenham que convocar algum técnico da NASA, algum especialista russo, gringo ou judeu para dar conta de tão difícil e complexa tarefa. Mas sem licitação, claro!!!

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