Até os comerciantes “mais bem sucedidos” de Ipanema, da Gávea e de São Conrado etc., ficaram admirados com o faturamento mensal confessado pelos traficantes da Rocinha. Só mesmo a máfia que controla a venda de armas, a venda de álcool, o petróleo, os aluguéis, os planos de saúde e os monopólios dos medicamentos naquele estado deve faturar tanto (sem falar dos políticos, evidentemente). Além das granadas, dos fuzis e das pistolas com suas respectivas munições foram encontrados nos porões do morro os mais estapafúrdios instrumentos de negócios, tortura e de guerrilha. E o mundo está tão entediado e pasteurizado que a simples invasão daquele território pela polícia causou sensacionalismo até internacional deixando claro que, apesar dos pesares, todo mundo, não só os românticos, têm uma relação de amor e de ódio por aquelas bocas de fumo e de pó, por aqueles despenhadeiros pontilhados de cortiços, por aquelas ruelas em zigzag e por aquela gente tão amável, acostumada a repousar no fio da peixeira e a conviver com tiroteios, feijoadas, sangue e samba ao mesmo tempo sem grandes escândalos. 100 milhões por ano! + ou - 10 milhões por mês! + ou menos 300 mil por dia! Será que é por isso que se gabam por aí de sermos uma das “maiores economias do planeta”? Agora, o que até as crianças estão querendo saber e que não tem entrado na pauta dos agentes invasores é com quem os traficantes faziam tantos negócios? Ou, em outras palavras, quem é que ainda anda queimando tanto fumo e cheirando tanto pó (sem mencionar o crack e outras drogas mais fuleiras) nestas alturas do campeonato? O pessoal da mídia? Os banqueiros? O clero? Os professores? Os estivadores? As donas de casa? Os membros da UNE? A polícia? Os vereadores e os políticos em geral? Os meninos de rua? Os aposentados? O pessoal do teatro? Os sem teto? Os taxistas? Os velhinhos da Academia de Letras? Os internos dos hospícios? Os pescadores de Búzios? Os funcionários públicos? A população do Bangu I ao Bangu V? Os flanelinhas? As empregadas domésticas? Os coveiros? Os psicanalistas,? Os marinheiros? Os psicólogos, os psiquiatras, os ciganos, os feiticeiros? Os livreiros? Os pastores do reino de Deus? Os biólogos? Os detetives? Nossa população indígena? As damas da noite?
Seja quem for, é provável que seja leitor de Baudelaire. Está escrito lá em suas Obras completas: “É a hora da embriaguez! Para não serdes escravos do tempo, embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor...”
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