quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Quando andar de ônibus é uma espécie de eutanasia


São inumeráveis os intelectuais, os estudiosos e os especialistas no processo civilizatório que afirmam sem pestanejar que um país e um povo se conhecem basicamente por suas bibliotecas, por seus rios e por seu judiciário. Eu agregaria mais um elemento: por seus ônibus. Quem viu ontem aquela carcaça velha tombada, enferrujada, ensanguentada e aos pedaços nas proximidades do aeroporto sabe de que estou falando. De rodas para o ar, corroído pela ferrugem, fora do prumo, com as rodas empenadas, os pneus carecas, o motor vazando, o escapamento furado etc., o esqueleto daquele ônibus parecia um imenso espelho refletindo nossa nefasta negligência e nossa confusa personalidade. Ao invés de querer fazer do motorista um bode expiatório, o Ministério Público deveria exigir tanto da empresa como do Estado uma indenização milionária a favor daquele homem que, por razões conhecidas por todos, era obrigado a circular todos os dias, durante décadas e de maneira suicida no interior daquele traste e daquela lataria velha. Com os olhos fixos no gotejar do combustível daquela carroça desfigurada lembrei-me da frase que Crates disse a seu filho quando o levou pela primeira vez a um bordel: foi assim, filho, que se pai se casou.


Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. os três clássicos macaquinhos regem competentemente a opinião pública: o oligopólio rodoviário nada vê, a mídia corporativa nada fala, e a máquina governamental nada ouve. porém, o cinismo os unem. ah, que tal inventarmos um quarto macaquinho para o sindicato dos rodoviários? o macaco que nada pensa...

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