Brasília parece respirar serena e aliviada depois de assistir o cerco policial à farmácia da Ceilândia e à eliminação do adolescente seqüestrador com um tiro devastador na cabeça. Ninguém está interessado em fazer uma retrospectiva da existência miserável daquele garoto, pois essa empreitada obrigaria todos a fazer um enfrentamento doloroso com o espelho. É provável que o próprio policial encapuzado, antes de apertar o gatilho tenha tido a certeza desesperadora de que estava eliminando uma parte de si mesmo naquele pobre assaltante. E o mais assustador disso tudo é que essa legião de indiferentes segue insistindo que é cristã, evangélica, budista, humanista, maçom e até socialista. Além disso, eu mesmo, nas poucas vezes em que entro numa farmácia e vejo os preços superfaturados daquelas porcarias inúteis, tenho um desejo intenso de mandar todo mundo jogar-se no chão e gritar-lhes: isto é um assalto!
Ezio Flavio Bazzo
pimenta no cú dos outros é um grande afrodisíaco para a multidão dos vivos aposentados da vida. nada conseguem fazer de interessante com seus míseros desejos pré-fabricados. falou em dengue, todos correm para formar imensas filas nos hospitais. fazem cara de dor para aparecerem na tv e tudo mais. periferias no centro do pais, onde só se conseguem se matar uns aos outros na faca ou na paulada, pessoas vivem com medo de bala perdida. que vem de onde? de ponte aéra rio de janeiro - brasília? e a medíocre cultura do policialesco. são milhares de séries e filmes estadunidense com policiais chabições, ora dando tiros em negros, hispânicos, árabes e chineses, ora decifrando crimes perfeitos. tudo isso formando e inspirando um povo cuja pré-condição existencial é algum sofrimento bufônico. banalisação completa. somente o voyerismo sádico consegue movimentar suas vidas pacificadas. é triste ver homens e mulheres saudáveis pedindo uns trocados em igrejas e em semáforos, poderiam muito bem estar roubando e assaltando.
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