"O uso das tais algemas - que, em castelhano, são, curiosamente, conhecidas por esposas - vêm tomando uma importância descabida no blablablá do cenário nacional, como se fossem o signo maior da desonra e da humilhação. Não são. Podem até ser no universo dos novos ricos, dos gatunos dissimulados e da pretensa aristocracia, mas não têm essa importância lá entre os historicamente deserdados. Lançar os holofotes neste momento e pelo motivo que todos sabemos, sobre 'quem', 'quando' e 'como' fazer uso das algemas é estar cinicamente empurrando o interesse maior para as sombras. É estar querendo dar atenção exagerada às moscas para não ter que identificar a carniça, querendo fazer um melodrama sobre uma praxe menor, que se pode mudar com um simples memorando, para poder seguir ocultando uma Justiça ainda monárquica comprometida da cabeça aos pés com os vivaldinos endinheirados. Enfim, é necessário ser muito tolo e muito singelo para acreditar que a regulamentação do uso das algemas (a Lei Dantas?) venha, daqui para diante, benificiar algum pé rapado. E acreditar que essa demagogia signifique algum avanço civilizatório entre nós é não compreender que, neste país das gentilezas - invertendo a lógica do pensamento de Câmara Cascudo -, é comum fazer um escândalo com a enchente do rio Potegy para não encarar a idéia e a necessidade de um dilúvio."
Ezio Flavio Bazzo
aquelas capinhas pretas sobre os ombros do judiciário nos revelam sua mais real habilidade: o ilusionismo. compactuados com outros discípulos amadores de david copperfield, seguem combinando ilusões espetaculares com a astúcia em contar histórias. porém, só os mágicos de festa têm que ter suas mãos desimpedidas. as algemas impossibilitariam qualquer truque. regulamentar o uso das algemas é apenas um modo desses ilusionistas se precaverem enquanto não se tornam algo próximo do mestre dos escapes houdini.
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